Família fica devastada após morte de casal por óleo envenenado
O filho do casal disse que o pai teve a ideia de comprar o produto pela internet; a mãe, durante todo o tempo, demonstrou resistência
A prisão do homem que vendeu um produto como se fosse óleo de abóbora, provocando a morte de um casal da Serra, trouxe alívio para a família, mas não diminuiu nem um pouco o sofrimento.
O cozinheiro Willis Penna de Oliveira, de 51 anos, e a artesã Rosineide Dorneles Mendes Oliveira, de 52 anos, morreram em fevereiro após consumirem um produto denominado como “óleo de semente de abóbora”, vendido para todo o Brasil pela internet.
A morte do casal deixou toda a família devastada e a situação ficou ainda pior quando o laudo médico, que apontava a causa da morte, ficou pronto.
O filho do casal, William Magdien, contou que foi o pai que comprou o produto pela internet.
"Foi meu pai que comprou esse remédio e ele comprou pensando na minha mãe. Ela tinha um problema muito sério de saúde. Era uma doença rara chamada neuralgia do trigêmeo e que causava muita dor no rosto", afirmou.
O jovem também contou que inicialmente, a mãe não queria comprar o produto e quando chegou, não queria fazer uso do óleo.
"Ela não queria porque não gostava de tomar esses remédios e ela não confiava muito. Tudo o que vinha pela internet ela não gostava, sempre preferiu coisas mais naturais", disse o filho do casal.
Apesar do receio da artesã, o casal acabou usando o produto que prometia milagre. Duas semanas foi o tempo que demorou para os dois começarem a sentir sintomas suspeitos.
"Começou com um enjoo, depois passou para vômitos constantes. Eles não conseguiam comer nada e aí eu comecei a desconfiar", disse o rapaz.
Nesse período em que o casal apresentava os sintomas, uma vizinha de Rosineide e Willis, chamada Luciana, que conhecia os dois há mais de 18 anos, desconfiou que seria o suposto remédio porque ela sabia que o casal estava tomando.
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Depois de um tempo, o filho e a irmã da mulher quer morreu, também passaram a desconfiar do óleo e avisaram os médicos. Após uma conversa com a vizinha Luciana, o jovem teve certeza de que o óleo seria o causador dos problemas.
"Essa vizinha disse que deveria ser o remédio porque ela me disse que comia as mesmas coisas que meus pais em casa e não tinha passado mal. Então a gente começou a desconfiar desse produto que só os dois estavam tomando", explicou William.
Investigações
A artesã morreu no dia 15 de fevereiro deste ano. O cozinheiro morreu um mês depois. Um choque para o filho único do casal. "Quando meu pai morreu aí que eu desabei. Não sabia o que fazer", lembrou o jovem.
Meses após a morte do casal, a polícia concluiu as investigações. De acordo com a Polícia Civil, dentro do frasco em que continha o óleo havia um líquido transparente, característica diferente do verdadeiro óleo de semente de abóbora.
Segundo a perita criminal da Polícia Civil, Daniela de Paula, o óleo apreendido possuía uma substância tóxica na composição.
"No suposto óleo de semente de abóbora, a gente identificou a presença de glicerina e também do dietilenoglicol, que é uma substância tóxica quando ingerida pela via oral. Ela estava presente em uma concentração de 13%, bem acima do que é permitido pela farmacopeia de 0,10%", explicou.
O dietilenoglicol é usado na diluição de tintas e outros produtos químicos. O médico legista Leandro Amorim explica que a substância provocou intoxicação no casal.
Produção clandestina
O produto foi comprado pela internet e prometia vários benefícios à saúde. "O site continha uma propaganda muito atrativa que prometia controle do colesterol, da taxa hormonal, melhoria no aparelho cardiovascular, então era muito chamativo para as pessoas e ainda dizia se tratar de um produto natural", apontou a delegada-geral adjunta da Polícia Civil, Denise Maria Carvalho.
Segundo a polícia, o falso óleo de semente de abóbora foi produzido em São Paulo. Alguns dos frascos era armazenado ao lado de um vaso sanitário. Um homem de 34 anos, que era responsável pela produção, foi preso em flagrante.
O suspeito permanece preso de forma preventiva por estelionato, falsificação de produtos terapêuticos e crime contra a ordem econômica. Ele será indiciado, também pela Policia Civil capixaba, por duplo homicídio culposo.
"A gente está oficiando o site onde é hospedada a página, para saber quantas pessoas adquiriram esse produto e se a gente tem outras vítimas pelo Brasil a fora", disse o delegado Rodrigo Rosa.
Para a família do casal vítima do óleo milagroso, a prisão do suspeito era esperada.
"Eles eram pessoas que tinham vida, tinham saúde e de repente compra um remédio pela internet e do nada acontece isso. Eu nem sei o que falar. A gente pede justiça pelo o que esse cara fez porque mais vidas podem estar em risco e a gente não sabe", contou a irmã da vítima, Ruth Dorneles Mendes.
* Com informações do repórter Douglas Camargo, da TV Vitória/Record TV.