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Educação transforma realidade de jovens negros da Grande Vitória

Atualmente, o IOB conta com 60 alunos. Um dos novos passos dados pelo instituto na busca da qualificação e profissionalização destes jovens

Guilherme Lage

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/IOB

"Enxergamos na educação uma ferramenta de transformação". É assim que a diretora-presidente do Instituto Oportunidade Brasil (IOB)Veronica Lopes de Jesus, define o trabalho da organização. 

Fundada por ela e Luiz Claudio dos Santos Pereira em 2020, a ONG procura capacitar jovens negros e de periferia para o mercado de trabalho, além de reforços em educação. 

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Atualmente, o IOB conta com 60 alunos. Um dos novos passos dados pelo instituto na busca da qualificação e profissionalização destes jovens, parte do mercado de tecnologia, mais precisamente, da Tecnologia da Informação (TI) e programação.

Além disso, os jovens também contam com aulas de reforço em matemática e outras disciplinas, e aulas semanais de inglês e momentos para cuidar da saúde mental. 

Para Veronica, o trabalho do IOB tem como base sua própria história. Ela, que é uma mulher negra e de periferia, viu sua vida ser transformada por meio da profissionalização e dedicação aos estudos. 

"Eu sou uma das fundadores do IOB, o projeto veio muito da minha experiência de vida e do Luiz, em que tivemos a educação como base de mudança de vida. As oportunidades profissionais que tive na minha vida foram impulsionadas pela educação", conta. 

De acordo com a diretora, a intenção não é apenas profissionalizar os jovens, mas potencializar as oportunidades e melhorar a educação da população negra. Capacitá-los para cargos de alta complexidade e liderança. 

Os jovens começam a estudar no Instituto a partir de 14 ou 15 anos, quando estão no nono ano. Mas fica a dica: para manter sua vaga no IOB é preciso ter um boletim com boas notas, pois os instrutores estão em plena sintonia com a vida escolar do aluno. 

"Hoje, além de prover qualificação profissional, também trabalhamos em outras competências para a inserção destes jovens no mercado de trabalho. Não só para entrarem, mas para se manterem nele. Eles fazem inglês semanalmente, participam de rodas de saúde mental, têm contatos com mentores que explicam como é o mercado de trabalho. Acreditamos que a educação faz a diferença", relata a diretora. 

O curso de Tecnologia da Informação, inclusive, já tem rendido bons frutos. Muitos alunos já estão inseridos no mercado de trabalho e já desenvolvem seus próprios aplicativos. 

Além disso,  diversos alunos já entraram em universidades particulares e na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) para cursar as mais diferentes graduações. 

O IOB também tem aberto o leque de idades para ajudar à população. Atualmente há seleções abertas para jovens de 15 a 29 anos. Segundo Veronica, ajudar na formação dessas pessoas é uma grande recompensa. 

"Ficamos muito felizes com cada conquista deles, muito orgulhosos, porque eles se esforçam. Não é fácil, muitos deles precisam trabalhar, chegam aqui com o uniforme da empresa. As conquistas são muito gratificantes, o sentimento de satisfação é muito grande. Acreditamos que temos que melhorar a vida de nossa população de forma geral". 

Histórias de vidas transformadas

Uma das pessoas que enxergou sua vida mudar foi Abayomi Queiroz dos Santos, de 26 anos. A jovem atualmente cursa TI no Instituto e se prepara para uma carreira na área. 

Abayomi é uma mulher trans e conta que chegou a abandonar os estudos no instituto por não se sentir confortável, mas foi procurada e acolhida novamente pela equipe do IOB. 

"O IOB voltou atrás de mim, conversando, me dando muita força. Consegui voltar e hoje vejo que o trabalho em TI tem transformado a minha vida. Ainda consigo fazer as minhas coisas por fora", disse. 
Foto: Reprodução/IOB

A jovem, que também artista, relata que tem liberdade para se apresentar e que o IOB lhe dá total apoio em suas mais diversas empreitadas. Ter uma rede de contato com outros profissionais a ajuda, inclusive, na vida artística. 

"É algo muito positivo, sou uma artista independente e isso me ajudou bastante, trocar com programadores e programadoras, ter um bom networking. Minha rede de apoio cresceu muito através do curso", relata. 

Para uma pessoa das Ciências Humanas, lidar com tanta matemática foi um desafio, mas a jovem relata que com o tempo é possível se adequar aos números e torná-los aliados. 

Além disso, as aulas de inglês e as rodas de saúde mental são fundamentais no dia a dia da artista. 

"Lidamos com matemática computacional, tudo envolve matemática. Eu tive dificuldade, porque sempre fui muito mal na disciplina na escola, mas aprendi que eu posso superar esse desafio. Além disso, temos as rodas de saúde mental e aulas de inglês. Não digo que já sou fluente, mas estou em 50%". 

Stephany Batista Gonçalves, de 18 anos, é outra jovem que enxerga no trabalho do IOB uma ferramenta para a melhoria de sua realidade e a garantia de um futuro mais sólido.

Ela faz parte da primeira turma do IOB e relata que ter o instituto em sua vida tem ajudado e muito a vida em casa. 

"O IOB transformou a minha vida de uma forma surreal. Moro com minha mãe e minha irmã, que tem paralisia cerebral grau um. Sou a primeira da família a terminar o ensino médio e agora faço um curso técnico. É muito gratificante, porque sempre quis dar um futuro melhor para minha mãe, mas pensei que não conseguiria", contou. 
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Ainda de acordo com ela, a parceria com o IOB ajuda também a aliviar algumas dificuldades de ser uma jovem negra e criada na periferia, que muitas vezes pode sofrer com o preconceito e a invisibilidade. 

"Ser uma mulher preta e de periferia não é fácil. Ver onde estou hoje é incrível, quero incentivar outras mulheres e mostrar a elas que podemos chegar onde quisermos", relatou. 

Stephany terminará o curso de TI em setembro. No mês anterior, já ingressará na faculdade para manter o ritmo de estudos. A tecnologia deve ficar em segundo plano no momento. 

Segundo a jovem, seu sonho é ser fisioterapeuta, mas encontra na programação uma forma de se manter até concluir os estudos que, de acordo com ela, nunca vão acabar. 

"Meu sonho é fisioterapia, amo TI, mas o outro curso é meu maior objetivo. Também não preciso abandonar a programação. Estou bem preparada para o mercado e o IOB me ajuda bastante com isso. Não pretendo parar meus estudos aqui, até porque, nunca paramos de estudar", afirma. 

Parcerias que impulsionam

O Instituto Americo Buaiz (IAB) é parceiro do IOB e atua na linha de frente para dar visibilidade aos projetos disponibilizados pela fundação. Aliás, esta palavra, visibilidade, é o ponto principal dessa união.

De acordo com a gerente executiva do IAB, Paula Martins, a importância da parceria é justamente o recorte específico do trabalho realizado pelo IOB, focado em oportunizar carreiras a jovens negros e de periferia.

"O Instituto Oportunidade Brasil trabalha com um recorte muito específico da sociedade, que são jovens negros e periféricos. Nós acreditamos em inclusão produtiva, para que possamos fomentar tanto o mercado, quanto o nível de escolaridade, acreditamos na educação, neste caso pautada na profissionalização. Enxergamos no IOB uma ferramenta de transformação social", disse Paula Martins. 

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