Moradores de Marataízes pedem socorro para o que sobrou de seu principal monumento
Em ruínas, o velho Trapiche, em Marataízes, resistiu às tempestades que caíram na cidade na semana passada, mas a população do balneário teme pela queda de sua última parede
Os anos passam e um dos principais patrimônios históricos do Sul do Estado continua sendo penalizado. Em ruínas, o velho Trapiche, em Marataízes, resistiu às tempestades que caíram na cidade na semana passada, mas a população do balneário teme pela queda de sua última parede.
Em 2014, a edificação sofreu uma intervenção da Prefeitura, recebendo escoras, mas, ainda assim, neste ano, uma parede da frente desabou, restando apenas uma lateral.
De acordo com a moradora da cidade, Ivilisi Soares de Azevedo, que é neta do antigo proprietário do imóvel, a prefeitura tinha as orientações técnicas dadas pela engenheira Silvia Puccioni, especialista em consolidação de ruínas, que não foram obedecidas, ocasionando a queda. “Ainda imponente, a única parede que restou do Trapiche resiste bravamente a morrer como um monte de escombros a serem atirados para dentro do rio ou retirados por um caminhão da prefeitura”, desabafa a moradora.
A assessoria de comunicação da Gerência de Memória e Patrimônio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) informou que acompanha e orienta o processo de recuperação do Trapiche e que a Prefeitura de Marataízes está contratando a engenheira Silvia Puccioni, do Rio de Janeiro, para cuidar da obra, que deverá ser realizada em duas etapas, sendo a primeira de caráter emergencial com orientações de contenção da ruína. A segunda etapa deverá ser o projeto definitivo da obra.
Ivilisi Soares relembra que o Trapiche foi comprado por seu avô Luiz Rodrigues Soares e o tio Simão Rodrigues Soares, vindos de Portugal, da Província do Minho, Concelho de Moções, porque viram no porto da Barra, um porto de grandes oportunidades para o comércio, uma vez que se situa entre os Estados do Rio de Janeiro e da Bahia. “Enquanto essa parede que sobrou resistir, resistirá também a minha esperança de que as autoridades competentes façam algo pelo maior patrimônio histórico do nosso município”, registra.
O sítio histórico
A região onde o Trapiche está localizado é formada por outros patrimônios: o Palácio das Águias, o Terminal Pesqueiro da Barra de Itapemirim e a Igreja Nossa Senhora dos Navegantes.
Trapiche - Construído no início do século XIX, o Trapiche era um armazém para estocagem dos produtos a serem escoados para outras regiões, via transporte marítimo ou fluvial. Foi o principal local de desembarque de imigrantes para o Sul do Estado entre 1860 a 1883. A obra foi erguida à base de materiais importados, possuía dois pavimentos e foi, na época, o escritório da Coletoria Estadual, servindo como ponto de apoio para as exportações e importações de produtos do Brasil e do exterior. Manteve-se em condições de recuperação até o ano de 1988, quando um incêndio destruiu grande parte da sua edificação. Em 1998 foi aprovado seu tombamento pelo Governo do Estado.
Palácio das Águias - Um dos principais marcos da colonização e desenvolvimento de Marataízes. Construído na metade do século XIX, sua arquitetura imponente e eclética possui um estilo colonial português. Nas dependências do Palácio havia um telefone interno, dois leões em mármore, duas águias no alto, vitrais em policromia francesa e todo seu interior feito de madeira vinda da Europa. Recentemente recebeu obras de restauração. O local é de fácil acesso e é aberto a visitação.
Igreja Nossa Senhora dos Navegantes - Construída em 1771 por Simão Rodrigues Soares, é o principal marco religioso de Marataízes. Uma construção imponente erguida na foz do Rio Itapemirim. Ela compõe o sítio histórico, mas não é tombada. Segundo informações não oficiais, devotos da paróquia não querem seu tombamento por temerem encontrar dificuldades posteriores para sua manutenção.
Porto da Barra de Itapemirim – O terminal pesqueiro do Porto da Barra foi um referencial da indústria pesqueira, setor este que era um dos maiores e com forte potencial de crescimento. O porto era a porta de saída de produtos da terra e a entrada dos primeiros colonizadores. Pela Barra do Itapemirim entraram homens e as máquinas, o progresso, a civilização, a cultura e a arte. Entraram, ainda, os vagões da Estrada de Ferro e saiu toda a produção de açúcar, aguardente e café, que já em 1852 era superior a cem mil arrobas, ou seja, mil e quinhentas toneladas.