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"Precisamos nos organizar para fazer das cidades algo sustentável em um longo prazo", fala especialista em cidades inteligentes

André Gomyde

André Gomyde

Sustentabilidade é um termo que vem sendo repensado pela sociedade com o passar dos anos. De acordo com especialistas, o conceito deve caminhar lado a lado com os avanços tecnológicos e com a formação das cidades inteligentes.

O presidente da Rede Brasileira de Cidades Inteligentes e Humanas, André Gomyde, afirma que há duas formas de aplicar e repensar a sustentabilidade nas cidades inteligentes. Segundo ele, uma delas é cuidar da infraestrutura tecnológica, criando projetos sustentáveis, de uma maneira em que seja possível transmitir dados informações para toda a sociedade. 

"E a segunda é a mudança de pensamento. É preciso pensar as cidades inteligentes também como cidades mais humanas, que se preocupa com a sociedade. Precisamos nos organizar para fazer das cidades e da sociedade algo sustentável em um longo prazo", afirma Gomyde.

Sustentabilidade é o assunto da vez do Arena VOS (Vários Olhares Singulares), iniciativa da Vale, que possui o objetivo de abrir novos horizontes sobre diversos temas relevantes para o Espírito Santo. Para imergir no assunto, o Folha Vitória conversou com André Gomyde sobre a relação entre sustentabilidade e cidades inteligentes. Veja a entrevista abaixo:

Folha Vitória: Muito tem se falado sobre ressignificação da sustentabilidade. Você pode comentar um pouco sobre as mudanças que o conceito sofreu principalmente com o avanço das Cidades Inteligentes?
André Gomyde: O conceito de sustentabilidade foi ressignificado na cabeça das pessoas. De um modo geral, por conta de todo um movimento ambiental do século passado, as pessoas associavam a palavra sustentabilidade a questão do meio ambiente. Mas hoje a sociedade já tem uma consciência diferente sobre isso. Hoje tem que haver sustentabilidade na política, nos planejamentos de governos e empresas, na execução de projetos, na economia, dentre outros. Sustentabilidade é aquilo que é sustentável, que dura ao longo do tempo, que se sustenta por ser adequado... Tudo o que é feito de forma adequada e correta, se sustenta. Isso é sustentabilidade. Uma Cidade Inteligente provoca esse planejamento de longo prazo. Ela não permite que o governante pense apenas na próxima eleição e nunca na próxima geração. Com a cidade inteligente, isso não é possível. O governante sempre terá de olhar no futuro, pois a sociedade passa a ter uma participação muito mais ativa no governo da cidade.

FV: Você enxerga a tecnologia como aliada ou vilã da sustentabilidade nesse cenário?
AG:
A tecnologia pode tanto ser aliada, como vilã da sustentabilidade. Hoje ela desempenha um papel de vilã, porque hoje só as grandes empresas de tecnologia da informação é que estão tendo acesso a todos os dados e todas as informações da sociedade como um todo. Portanto, eles estão somando esses dados e informações e gerando conhecimento que serve só para eles. Basta ver o que está acontecendo com Mark Zuckerberg, que está tendo que se explicar na justiça sobre o porquê de ele estar utilizando nossos dados para ganhar dinheiro e expondo nossos dados. Há uma elite dos dados que pode dominar a economia, a política... Se continuar nesse ritmo, a tecnologia será vilã. A gente precisa transformar as cidades em cidades inteligentes, porque os dados estarão disponíveis, de maneira democrática, para todos nós. Isso significa que poderemos ter o mesmo acesso ao conhecimento que as grandes empresas têm. 

FV: Qual a importância de manter o tema em alta nos dias atuais, mediante a essa corrida das cidades para se tornarem inteligentes?
AG:
Manter a discussão da sustentabilidade, das cidades inteligentes e explicar pra sociedade essa questão dos dados e das informações, que são o que geram conhecimento, que, por sua vez, é o grande capital do Século XXI, vai fazer com que, cada vez mais, a população cobre os prefeitos para que eles tornem suas cidades inteligentes.

FV: Você acredita que a inserção da sustentabilidade como princípio das empresas e indústrias é o caminho para um mundo melhor e mais equilibrado no futuro?
AG:
Com certeza. As empresas precisam tratar sustentabilidade não apenas como questão ambiental e da qual elas devem ser inimigas porque querem fazer os seus projetos. Essa mística tem que acabar. Até porque as indústrias estão se tornando indústrias 4.0, que funcionam só com robôs. A empresa precisa pensar que se ela está substituindo o homem pela máquina no trabalho, ela tem que ter um cuidado para que haja sustentabilidade na vida dessas pessoas que ela está desempregando. Se você cria uma sociedade que não se sustenta, você gera um inimigo. As empresas precisam olhar o futuro e o rumo para qual o mundo está indo para gerar uma sustentabilidade social.