Volume máximo da "onda de lama" chega ao Estado só no fim de semana
Uma parte da lama já chegou ao Estado e fez com que o Rio Doce ficasse com o nível maior e com uma coloração mais escura em Rio Doce em Baixo Guandu e Colatina
A parte mais densa da massa de lama contendo resíduos de mineração, que percorre a calha do Rio Doce, deve chegar ao Espírito Santo somente na sexta-feira (13) ou até no sábado (14). Essa é a nova previsão da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) do Serviço Geológico do Brasil, segundo boletim divulgado na tarde desta terça-feira (10). Uma parte da lama já chegou ao Estado e fez com que o Rio Doce ficasse com o nível maior e com uma coloração mais escura em Rio Doce em Baixo Guandu e Colatina, na região noroeste.
Com a elevação do nível do rio e o escurecimento da água nos dois municípios, a expectativa era de que a parte mais densa da lama chegasse ao Estado ainda nesta terça-feira. No entanto, segundo o boletim do Serviço Geolóligo do Brasil, a massa de água com maior quantidade de sólidos em suspensão e elevada turbidez ainda se encontra entre os municípios mineiros de Governador Valadares e Tumiritinga.
A CPRM explicou que, a partir do monitoramento feito pela companhia na Bacia do Rio Doce, foi possível constatar que a velocidade com a qual a massa de lama se desloca pela calha do rio é bem menor do que a da onda de cheia, que já chegou ao Espírito Santo e provocou a alteração da água no Rio Doce. Segundo a companhia, a velocidade da massa de água com elevada turbidez está sendo atualizada constantemente e pode variar ao longo do deslocamento até a chegada à foz do Rio Doce. Por isso, a CPRM alerta que poderão ocorrer mais mudanças nas previsões.
Até o momento, a lama tóxica que polui o Rio Doce, proveniente do desastre ambiental ocorrido a partir do rompimento de duas barragens da Samarco em Mariana-MG, já passou pela Estação Belo Oriente, na madrugada de domingo (08); Usina de Baguari, na manhã de segunda-feira (09); e Estação Governador Valadares, na noite do mesmo dia. Segundo o boletim do Serviço Geológico do Brasil, ela chegará a Baixo Guandu entre sexta-feira e sábado, a Colatina entre sábado e domingo e a Linhares entre segunda e terça-feira da semana que vem.
Já a onda de cheia, também resultante do desastre ocorrido em Mariana, já chegou ao Espírito Santo, durante a madrugada desta terça-feira, passando por Baixo Guandu e Colatina. A previsão da CPRM é que ela chegue a Linhares nesta quarta-feira (11). Segundo a Companhia, o pico de vazão também foi registrado em seis pontos de monitoramento em Minas Gerais.
A barragem de Mascarenhas, em Colatina, está com algumas comportas abertas para liberar água e reservar espaço para os rejeitos. É possível notar a elevação do nível do rio, porém a água liberada já demonstra características de sujeira e vermelhidão. De acordo com a Prefeitura de Colatina, testes estão sendo realizados constantemente, confirmando a qualidade da água, razão pela qual ainda não foram suspensos os abastecimentos.
Retorno das aulas
Como o abastecimento de água em Baixo Guandu e Colatina não foi interrompido, por conta da passagem da lama pelo Rio Doce, a Secretaria de Estado da Educação (Sedu) informou que as aulas nas 16 escolas estaduais nos dois municípios serão normalizadas nesta quarta-feira (11). O funcionamento das instituições havia sido prejudicado, já que havia a expectativa de corte no abastecimento de água, motivado pela chegada dos rejeitos de minério.
As escolas de Baixo Guandu que tiveram as aulas suspensas e que serão retomadas nesta quarta são: EEEF Brasil, EEEFM Dr. Jones dos Santos Neves, EEEFM José Damasceno Filho, EEEM Rodrigo Cesar Proeschodt e EEEM Maria Helena Stein Merlo. Já em Colatina, as instituições afetadas foram a EEEF Aristides Freire, EEEFM Lions Club de Colatina, EEEFM Profª. Néa Monteiro Costa, EEEFM Conde de Linhares, EEEFM Geraldo Vargas Nogueira, EEEFM Honório Fraga, EEEFM Profª. Carolina Pichler, EEEFM Rubens Rangel, CEEJA Pedro Antonio Vitali, ECOR de Colatina e EEEM Antônio Eugênio Rosa.
Fóruns de plantão até sexta-feira
Por conta da chegada da lama de rejeitos de minério pelo Rio Doce, o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) informou que os Fóruns de Colatina e Baixo Guandu seguem funcionando em regime de plantão até a próxima sexta-feira (13). Apenas os casos emergenciais estão sendo atendidos, como, por exemplo, autos de prisão em flagrante, processos relacionados a réus presos e demandas relativas a saúde. Segundo o TJES, a preocupação é com o abastecimento de água nos dois municípios, que é toda captada no Rio Doce, atingido pela lama das barragens rompidas em Minas Gerais.
O regime de plantão nos dois fóruns foi determinado, nesta segunda-feira (09), pelo presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Sérgio Bizzotto, após ofícios encaminhados pelos juízes diretores dos Fóruns de Colatina e de Baixo Guandu, Fernando Antônio Lira Rangel e André Guasti Motta, respectivamente. Por meio dos requerimentos, os magistrados externaram preocupação em manter ativo o funcionamento dos fóruns nestas condições, uma vez que o consumo de água é muito grande e a reserva não suporta a demanda sem reposição.
Diante da situação, o juiz Fernando Antônio Lira Rangel pretende apresentar à Presidência do TJES uma proposta de adaptação para que a água dos aparelhos de ar-condicionado seja captada e reutilizada. "Seria uma solução para casos como este, de emergência. A prefeitura já interrompeu o fornecimento de água e, infelizmente, não podemos abrir o fórum para que nossa reserva não seja perdida. Nossa preocupação é simplesmente com a água, porque não sabemos quando ela vai voltar", destacou o magistrado.
O juiz diretor do Fórum de Baixo Guandu, André Guasti Motta, tem a mesma preocupação. "Nós reduzimos drasticamente o número de servidores e terceirizados, que estão atuando em regime de plantão. O meu medo é que, com o corte no fornecimento de água, nossa reserva acabe. A grande preocupação é que a caixa d'água esvazie. Nós estamos trabalhando com menos gente e sem atendimento externo, mas os casos urgentes continuam sendo apreciados", explica o magistrado.
Presidente da ANA vem ao ES debater impactos da lama
O presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, virá ao Espírito Santo participar, na próxima sexta-feira (13), de uma discussão sobre os prejuízos causados pela chegada ao Estado da onda de lama com rejeitos de minério, que atingiu o Rio Doce após o rompimento das barragens da Samarco em Mariana-MG. O seminário "Crise hídrica e os impactos da lama de rejeitos no Rio Doce" será realizado no auditório do campus do Ifes de Colatina, um dos municípios afetados pela massa de lama, a partir das 13 horas.
Durante o evento, promovido pela Comissão Especial da Crise Hídrica da Câmara dos Deputados, Andreu fará uma exposição técnica sobre o assunto. O objetivo da iniciativa é envolver as administrações federal, estadual, municipal, especialistas e sociedade para debater os possíveis impactos ambientas da lama de rejeitos no Espírito Santo e medidas para amenizá-los, bem como buscar soluções para a escassez de água no Estado.
Na primeira parte do seminário, o diretor do Departamento de Minimização de Desastres da Secretaria Nacional de Defesa Civil, Armin Braum, e Andreu apresentarão um diagnóstico inicial sobre o que os rejeitos podem causar à bacia do Rio Doce, especialmente nos municípios de Colatina, Baixo Guandu e Linhares, localizados à margem do rio.
Na segunda parte, serão expostos projetos exitosos na melhoria da oferta de água no País, como o Barraginhas, da Fundação Banco do Brasil; o Olhos D`Água, do Instituto Terra; e o irrigâmetro criado pelo pesquisador Rubens Oliveira, da Universidade Federal de Viçosa. Por último, serão encaminhadas propostas elaboradas durante o seminário.
Estão confirmadas, também, as participações de diretores da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh); da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes); de Comitês das Bacias Hidrográficas do Estado; da Federação de Trabalhadores na Agricultura (Fetaes); Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA); Associação dos Municípios do Estado (Amunes); do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes); presidentes de empresas públicas e privadas de abastecimento de água; prefeitos; vereadores; secretários municipais e lideranças comunitárias.