Lixo jogado em vaso sanitário
Lixo jogado em vaso sanitário

Ciclo das Águas

O que acontece quando você joga fio dental, óleo, cabelo e papel no vaso?

Veja o processo de tratamento de esgoto e os problemas causados pelo lixo; coleta seletiva é a aposta, mas ainda não é uma realidade global

Saneamento básico é expressão chave que engloba uma parte importante entre a relação do humano e o meio ambiente: a preservação.

Por meio do tratamento de esgoto, coleta seletiva e limpeza urbana é possível reduzir os impactos da poluição causados pelas pessoas, mesmo que esses recursos não estejam presentes em todas as comunidades.

No Espírito Santo são, ao todo, 113 estações de tratamento de esgoto (ETEs). Na Grande Vitória são quatro: Mulembá, Araçás, Bandeirantes e Aeroporto. Juntas, elas possuem eficiência superior a 95% na remoção de matéria orgânica, segundo a Cesan, companhia de abastecimento de água do Estado.

>> Veja a página Ciclo das Águas no Folha Vitória.

Canal poluído. Foto: Edu Kopernick

Somente a ETE Mulembá, que recebe os efluentes de Vitória, trata por dia 26 milhões de litros de esgoto. Isso significa que muito esgoto deixa de ser jogado na Baía de Vitória.

O trabalho é dificultado, porém, quando são descartados resíduos sólidos no esgoto, como fraldas descartáveis, papel higiênico, absorventes, fio dental e até cabelo.

O lixo vai parar nas estações de tratamento de esgoto e, dependendo do resíduo, pode causar transtornos no processo. Muitas das vezes, o lixo fica preso nas tubulações, impedindo que o esgoto seja direcionado para o tratamento, entupindo os bueiros e causando transtornos à população, como as enchentes.

Muita coisa acontece debaixo dos ralos

Descartar uma coisa ou outra no vaso sanitário ou na pia da cozinha pode gerar um transtorno enorme. Jouze Ferrari, engenheira da Cesan, conta que são diversos resíduos sólidos que aparecem nas estações de tratamento de esgoto e atrapalham o processo.

Jouze Ferrari. Foto: Reprodução/TV Vitória.

“A principal alteração que temos no tratamento de esgoto com esses resíduos que não deveriam estar presentes é o número de manutenção preventiva. Além disso, esse tipo de lixo causa obstrução na rede, o que pode fazer com que o esgoto retorne. O óleo de cozinha, por exemplo, gruda na tubulação e forma uma crosta, diminuindo a passagem para o esgoto”, explicou.

Ainda de acordo com a engenheira, fio dental e fios de cabelo, quando descartados no vaso sanitário, agarram a travam o motor das bombas que direcionam o esgoto para o tratamento.

“A gente vê de tudo. Bolinha, chinelo, brinquedo, pinos de drogas. Tudo isso é separado no gradeamento, logo quando chega na estação de tratamento, para não prejudicar o fluxo normal do esgoto na estação”, finalizou.

O lixo no ambiente volta para o ser humano

O Brasil tem 31,9% das cidades com pelo menos um lixão a céu aberto, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2023.

Já no Espírito Santo, 9% dos municípios ainda utilizam lixões como destinação final dos resíduos sólidos, considerada a pior maneira de destinação do lixo.

Segundo o biólogo Daniel Grosser, a poluição plástica é o pior problema ambiental do mundo depois das mudanças climáticas. Isso porque não há certeza do tempo de decomposição do plástico no ambiente e, enquanto se degrada, é transformado em microplásticos que acabam contaminando, inclusive, o corpo humano.

Daniel Grosser. Foto: Reprodução/TV Vitória.

“O microplástico, por exemplo, é um tipo de poluição que não vemos. Já foi encontrado na Antártida, no Monte Everest, no fundo do mar e até em órgãos do corpo humano. Ou seja, tem microplástico no nosso sangue. O fio dental que é descartado no vaso sanitário, por exemplo, é nylon, que é um tipo de plástico também”, informou.

Mudanças de atitudes que fazem a diferença

A coleta seletiva tem um trabalho importante na preservação ambiental, porém, ainda não é uma realidade global. Apenas 32% dos municípios brasileiros têm alguma coleta deste tipo, segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis).

Além disso, o sistema aponta que 54% dos brasileiros afirmam ter coleta seletiva onde moram. Mesmo assim, 1 em cada 3 (33%) dos que têm acesso a esse serviço não separa seus resíduos recicláveis em casa.

“Por isso o papel da educação ambiental é fundamental. A sensibilização é quando a pessoa toma ciência do problema. A conscientização é quando ela muda os hábitos. Depois, vem a multiplicação desses hábitos, quando passa a influenciar outras pessoas” finalizou Daniel.

É o caso da aposentada Silvana Zannella Gorian, que trabalha a conscientização dentro de casa para não descartar resíduos no vaso sanitário e, consequentemente, causar transtornos na rede.

Segundo a aposentada, já houve problemas na rede de esgoto do prédio onde mora por descarte incorreto de fio dental, que ficou preso na tubulação e entupiu o esgoto.

Silvana Zannella Gorian. Foto: Reprodução/TV Vitória.

“O que uso no banheiro, cotonete, fio dental, papel higiênico, cabelo… o destino tem que ser lixo orgânico. Tenho uma lixeira no banheiro e jogo tudo lá. Já aconteceu nesse prédio do vaso sanitário ficar entupido e vimos vários fios dentais enrolados”, disse.

Confira o passo a passo para o tratamento do esgoto

  1. Quando o esgoto chega à ETE, ele recebe um tratamento preliminar no sistema de gradeamento de caixas de areia para a retirada dos sólidos grosseiros, como areia, cabelo, fio dental, entre outros resíduos que são descartados.
  2. Em seguida, o esgoto segue para o tanque de aeração. O efluente recebe uma injeção de oxigênio, de modo que é formada uma grande colônia de bactérias aeróbias que vão degradar a matéria orgânica.
  3. No próximo passo, o esgoto segue para o tanque de decantação, no qual acontece a separação da água e do lodo. Essa matéria acaba virando um subproduto do chamado biosólido, que a Cesan fornece para utilização na agricultura.
  4. No final, a água, antes de ser devolvida ao meio ambiente, passa pela desinfecção por ultravioleta onde são removidos os micro-organismos. Inclusive, essa água é reutilizada por prefeituras e empresas do ramo da construção civil para evitar o uso de água potável em atividades diversas ao consumo humano.
Carol Poleze, repórter do Folha Vitória
Carol Poleze Repórter
Repórter
Graduada em Jornalismo e mestranda em Comunicação e Territorialidades pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).