Reprodução/Agerh/Lucas Rizzo
Reprodução/Agerh/Lucas Rizzo

Ciclo das Águas

O desafio da qualidade hídrica: do tratamento de esgoto às bacias hidrográficas

Para controlar a qualidade da água, é preciso se atentar para dois fatores: a poluição pontual, nas cidades, e a difusa, no meio rural

Atualmente, no Espírito Santo, cerca de 70% da população possui acesso ao tratamento de água e esgoto, segundo dados da Cesan, companhia de abastecimento de água do Espírito Santo. A meta é universalizar a coleta e o tratamento de esgoto na Grande Vitória até 2026 e no interior do Estado até 2030.

O saneamento básico é uma das alternativas para reduzir a poluição pontual hídrica no Estado. Assim, a água da descarga, do chuveiro e da louça, por exemplo, não é devolvida para a natureza com contaminação.

No entanto, existe outro lado: a poluição difusa, ocasionada, principalmente, no ambiente rural. O uso de fertilizantes e outros produtos no solo para plantações faz com que esses componentes químicos sejam lançados nos rios quando chove, contaminando a água que será captada para se transformar em potável para consumo.

Poluição pontual: o desafio das cidades

Estação de tratamento de esgoto. Foto: Cesan

A ampliação do tratamento de esgoto permite que a água tenha qualidade no Espírito Santo, questão que melhorou muito nos últimos anos.

De acordo com a Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), dos afluentes monitorados em território capixaba, 52% possuem um índice médio de qualidade da água e 33% representam boa qualidade.

Os dados dão conta, ainda, de que 14% da água é de qualidade ruim, porque está em regiões onde não há boa cobertura de tratamento de esgoto.

Nos últimos cinco anos, porém, o Espírito Santo manteve a condição de média para boa qualidade da água.

Fábio Ahnert. Foto: Reprodução/TV Vitória

“Nós somos o órgão gestor de recursos hídricos e, dentre nossas várias atividades, fiscalizamos e autorizamos o lançamento de afluentes, principalmente os tratados. Ao autorizar isso, exigimos cada vez maior eficácia no tratamento de água. Por isso, monitoramos 100 pontos em todo o Estado para acompanhar a qualidade da água”, explica Fábio Ahnert, diretor-presidente da Agerh.

As estações de tratamento também são monitoradas pela Cesan. Em 2024, foram realizadas mais de 16 mil análises de efluentes das estações de tratamento de esgoto.

Na comparação da água antes da implantação dos sistemas de esgotamento sanitários, a companhia notou melhorias nos corpos hídricos.

Entre eles, estão: redução de matéria orgânica; aumento de oxigênio dissolvido, essencial para a vida aquática; e redução de nitrogênio total, que melhora a qualidade geral da água.

Como funciona o tratamento de esgoto?

Fonte: Cesan

Apostar no saneamento básico é crucial para a saúde pública e a economia. Dados do Instituto Trata Brasil revelam que, entre 2023 e 2040, a universalização do saneamento básico no Espírito Santo deve gerar uma economia de R$ 396 milhões em custos com saúde, devido à redução de internações hospitalares e afastamento do trabalho por doenças de veiculação hídrica.

A Cesan investe cerca de R$ 4,3 bilhões em obras de estações de tratamento. No momento, são executadas em Araçás e Terra Vermelha, em Vila Velha, e a complementação em Cariacica e Viana. Além disso, há obras já concluídas nas cidades abaixo:

  • Divino São Lourenço
  • Marechal Floriano
  • Conceição do Castelo
  • Santa Maria de Jetibá
  • Santa Leopoldina
  • Domingos Martins
  • Afonso Cláudio
  • Iúna
  • Ibatiba
  • Irupi
  • Dores do Rio Preto e Distrito de Pedra Menina
  • Apiacá
  • Castelo

Segundo Dirceu Pimentel, da Divisão de Obras da Cesan, as estações de tratamento são importantes porque estão localizadas nas principais bacias hidrográficas do Espírito Santo, o que influencia na qualidade da água que será distribuída.

Dirceu Pimentel. Foto: Reprodução/TV Vitória

“O tratamento de esgoto é fundamental para a recuperação do meio ambiente. Esse conjunto de obras beneficia não apenas a qualidade do rio daquela cidade, mas todo o entorno, porque estão inseridas nas bacias hidrográficas dos rios Itabapoana, Itapemirim, Jucu e Santa Maria da Vitória”, explicou.

Poluição difusa: o desafio direto na fonte

Se nas cidades o sistema de esgoto foi criado para não despejar na natureza a água contaminada, no meio rural o desafio é não contaminar a água antes mesmo de ser captada para o consumo humano.

“Poluição difusa é quando temos amplas áreas que recebem produtos químicos de diferentes fontes, como fertilizantes. Vamos usar o exemplo do plantador de café, que usa fertilizante no solo. Quando vem a chuva e lava a superfície, a poluição não vem como na rede de esgoto, concentrada em uma tubulação. Pelo contrário, ela vem dispersa em uma área grande. É muito difícil coletar e tratar como fazemos na rede de esgoto”, explicou o doutor em Engenharia da Água, Ricardo Franci.

Nesse sentido, existe o programa Probacias, implementado em 2021 pela Agerh em comunidades rurais do Sul do Estado.

A iniciativa visa recuperar, preservar e conservar as bacias hidrográficas, por meio de ações que promovam um processo sustentável de uso e gestão dos recursos hídricos.

Para isso, o programa é dividido em três vertentes:

  • Conservação do solo: os municípios participantes receberam uma patrulha mecanizada para a realização de ações de conservação de solo, para a construção de tecnologias sociais sustentáveis como bacias de infiltração (barraginhas), caixas secas e terraço em nível (cochinho).
  • Saneamento básico rural: tratamento de efluentes sanitários rural por meio da instalação de um kit de tratamento composto por um biodigestor, caixa de gordura e leito de secagem de lodo.
  • Capacitação: aperfeiçoar os conhecimentos dos servidores locais para operação de máquinas de conservação do solo, instalação de módulos sanitários rurais e educação ambiental.
Bacia do Rio Jucu/Amanda Amaral/Agerh

“A qualidade de água em uma bacia hidrográfica significa mais qualidade de vida e saúde para as pessoas, rios com uma diversidade de peixe adequada e todo o ecossistema equilibrado. Se a bacia está com uma saúde melhor, a qualidade de vida das pessoas e dos seres também é melhor”, explicou o diretor-presidente da Agerh, Fábio Ahnert.

O monitoramento é feito por meio do Programa de Monitoramento das Águas Interiores do Estado do Espírito Santo (QualiRios).

O programa possibilita a avaliação da tendência da qualidade das águas e sua compatibilidade com os diversos usos, a identificação de trechos críticos em termos de poluição, a verificação da efetividade de iniciativas de recuperação, entre outros.

A população pode acessar o monitoramento por meio da internet e explorar os pontos onde há a avaliação da qualidade da água. Basta acessar o site da Agência.

Ricardo Franci. Foto: Reprodução/TV Vitória

“É um fator de saúde coletiva. Garantir que a população tenha acesso à água potável, pressupõe um ótimo gerenciamento das bacias hidrográficas, porque a qualidade da água que vai ser captada para se transformar em potável é determinante. É o que vai medir o esforço a ser feito para a sociedade. Se a água tem má qualidade, vamos gastar muito para ter água potável, por exemplo. Sem dizer que, quando chove e causa enchente, a população tem contato direto com a contaminação”, finalizou Ricardo Franci.

Carol Poleze, repórter do Folha Vitória
Carol Poleze Repórter
Repórter
Graduada em Jornalismo e mestranda em Comunicação e Territorialidades pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).