Polícia

Dona da Escola Base diz que foi torturada e teve vontade de morrer

O suposto crime veio a tona em março de 1994, e mesmo 21 anos depois o caso ainda chama atenção. Uma das vítimas da injustiça fez revelações sobre o ocorrido

Anos depois do caso, Paula sofre com problemas de saúde Foto: R7

Os danos do escândalo que explodiu em 28 de março de 1994 ainda não foram reparados nas vidas dos envolvidos. O caso da Escola Base ganhou repercussão nacional e até hoje chama a atenção de quem estuda o ocorrido de que quem se lembra do acontecimento. 

Após 21 anos da injustiça cometida, o apresentador Gugu Liberato relembrou em seu programa o caso que escandalizou o Brasil. Paula Milhim, ex-dona da escolinha e professora, concedeu entrevista exclusiva ao apresentador e fez revelações impressionantes sobre o caso.

Na época em que tudo veio à tona, Paula tinha 26 anos e disse que "era ingênua". Ela, o marido e mais quatro funcionários foram acusados de abusar sexualmente das crianças dentro da escola. “Eu trabalhei, construí um sonho. Talvez não tinha uma orientação para me defender. Eu nem imaginava que existia essas maldades”, contou.

Ao ouvir as acusações das mães, o delegado responsável pelo caso chamou a imprensa mesmo sem provas, e conseguiu voltar os holofotes dos principais meios de comunicação do País para o caso. Em pouco tempo os acusados foram tratados como culpados. 

Depredação 

A casa das vítimas e a escola foi depredada Foto: Estadão Conteúdo

Enfurecida com o caso, a população depredou a escola, roubou e quebrou a casa dos funcionários que estavam presos. A casa de Paula foi a primeira a ser depredada. “Eu fiquei na casa de um amigo e fiquei três dias só dormindo. Não queria nem levantar da cama pra poder acordar e ver que aquilo não era verdade”, lembrou.

Seu marido, Maurício Alvarenga, também foi uma das vítimas e logo após o caso ser arquivado, abandonou Paula e suas duas filhas. “Ele não aguentou a pressão. Hoje não quero nem ver ele mais, porque ele me deixou e nunca mais deu notícia”, disse.

Tortura

Além de ter sua vida destruída, Paula revelou que foi torturada por pessoas da polícia, perdeu os sonhos e a vontade de viver. Passou por dificuldades financeiras e até hoje sofre preconceito. “Naquele momento eu não tinha vontade de morrer. Eu queria mostrar a verdade. Agora, que estou com 48 anos, tem hora que tenho vontade de morrer”, afirmou.

“Eu não fiz isso! A pior coisa é você ser acusado de uma coisa que você não fez”, disse Paula sobre a acusação do crime.

Laudo

Semanas depois do caso ser divulgado, o laudo do exame de corpo de delito feito nas crianças que supostamente sofriam abusos ficou pronto. Elas tinham apenas assaduras causadas pela forma de se sentar e pelo tempo de trocar a fralda. 

Indenização 

Em 1999, o então governador de São Paulo Mário Covas decretou a autorização da indenização de Paula. Com a morte dele em 2001, houve mudanças na Procuradoria-Geral do Estado e no Palácio dos Bandeirantes. O decreto, então, passou a ser questionado na Justiça.

O advogado dos donos da escola, Kalil Rocha Abdalla, contou ao R7 em 2013 que Paula não recebeu e não receberá nem um centavo do governo do Estado de São Paulo, que teve que responder judicialmente pela má conduta do delegado.

Desde a época das acusações ela não trabalha mais como professora Foto: R7

“Eu me sinto num oceano e quando estou chegando na beira para me salvar, eu sou jogada de novo. Então, é uma eterna luta! Com tudo isso eu engordei e tenho problema nos dentes porque não tenho dinheiro pra arrumar. Você começa a se sentir impotente, fracassada. Eu tinha faculdade, tinha aqueles sonhos pra construir. De repente, me vi limpando banheiro, sendo garçonete. Não que isso seja ruim, mas acabou o sonho. Eu não estou vivendo, estou sobrevivendo”, destacou. 

Inocência 

Paula afirmou que não fez maldade nenhuma com as crianças. “Eu não fiz isso! A pior coisa é você ser acusado de uma coisa que você não fez”.

No momento, está empregada. Ela é recepcionista em uma loja de informática. Ao contar para o chefe que era envolvida no caso Escola Base, teve o apoio necessário. “Ele se tornou até um amigo, está me dando a força que pode”.

O culpado

Gugu perguntou para ela quem é o maior culpado da história. Paula respondeu que é o delegado que ficou responsável pelo caso na época, e mandou recado para ele.  “Eu falaria pra ele que ele acabou com a vida de seis pessoas por incompetência. Que ele nunca mais faça isso. Ele foi incompetente. Por que quando ele recebeu [a denúncia] não investigou antes de chamar a imprensa? Quem sou eu pra perdoar? Ele que vai prestar as contas dele. Ele pode enganar quem for, mas Deus está vendo”, concluiu. 

Com informações do R7