Diretoria da Desportiva Ferroviária não pretende demitir técnico acusado de injúria racial
A nota emitida pela diretoria diz que, desde maio deste ano, o técnico Severino Ribeiro, conhecido como Vevé, nunca apresentou conduta preconceituosa
A diretoria da Desportiva Ferroviária emitiu um comunicado oficial sobre o envolvimento do técnico Vevé nas acusações de injúria racial. Toda a confusão teria acontecido durante o jogo da Tiva e do Atlético-ES, no sábado (13).
A nota diz que, desde maio deste ano, o técnico Severino Ribeiro nunca apresentou conduta preconceituosa. Ainda de acordo com a diretoria, Vevé não sairá do comando do time enquanto as investigações não forem concluídas.
Veja o comunicado na íntegra:
“A Associação Desportiva Ferroviária Vale do Rio Doce é totalmente contra atos racistas, confiando plenamente na conduta de todos os seus profissionais, incluindo o técnico Severino Ribeiro, conhecido como Vevé, acusado de injúria racial pelo maqueiro Admilson Bazin Barbosa e pelo atleta Jefferson, do clube Atlético Itapemirim, no último sábado (13/09), no estádio José Olívio Soares, em Itapemirim, em jogo válido pela sexta rodada da Copa Espírito Santo 2014.
Desde maio deste ano na Desportiva, Vevé nunca apresentou conduta preconceituosa, e gerencia um grupo de atletas que conta com vários negros, muitos indicados por ele. A diretoria do clube continua apurando os fatos e, tendo acesso ao inquérito e a seu desenvolvimento, oportunamente irá se pronunciar de maneira conclusiva. Sem o julgamento do caso, a diretoria não cogita a saída do técnico Vevé, que realiza um grande trabalho no comando da Desportiva. O clube se dispõe a cooperar com todas as investigações sobre o caso”.
De acordo com a assessoria da Desportiva Ferroviária, o técnico Vevé vai conceder uma entrevista coletiva para falar sobre o caso, na tarde desta segunda-feira (15), na Arena Unimed Sicoob.
Entenda o caso
Após um jogo pegado neste sábado (13), o técnico da Desportiva Ferroviária, Vevé, juntamente com o maqueiro e o goleiro da equipe do Atlético-ES foram encaminhados para a 9ª Delegacia Regional, de Itapemirim. O técnico é suspeito de injúria racial.
Segundo informações de testemunhas, a confusão teria iniciado primeiramente com o maqueiro da equipe alvinegra, que diz ter sido chamado de “macaco” pelo técnico da Tiva. Logo após, em uma reposição de bola do goleiro do Atlético-ES, o técnico Grená reclamou da demora no lance, e após uma discussão com o jogador, foi acusado pelo goleiro por chamá-lo de macaco.
O técnico Vevé, o maqueiro e o goleiro do Atlético-ES prestaram depoimento na 9ª Delegacia Regional, em Itapemirim, por volta das 19 horas de sábado (13). Por volta das 00h02 de domingo (14), Vevé foi liberado da delegacia, após pagar a fiança.
Defesa
O técnico usou uma rede social para se defender das acusações de injúria racial. No texto publicado, Vevé quis explicar o ocorrido e se defendeu da acusação a qual foi submetido. “Podem inventar situações, fazer armações, mas Deus é sabedor de toda verdade. Estão querendo manchar minha reputação profissional, mas não vão conseguir. Quem me conhece sabe muito bem que tipo de homem eu sou. Hoje a Desportiva Ferroviária é parte da minha família e por ela também sou capaz de brigar. Mas chamar um companheiro de trabalho de macaco, aí não. Seria um insano se cometesse tal atitude, pois tenho atletas negros no meu grupo de trabalho, meu supervisor é negro, tenho duas cunhadas negras, muitos amigos, muitos ex-jogadores que trabalharam comigo. Nunca cometi esse tipo de atitude com nenhum deles, pois abomino essas atitudes. Ao acusador cabe o ônus da prova, aguardemos para ver de que lado está a verdade”, escreveu.
Aranha
A confusão no futebol capixaba aconteceu 15 dias após o caso de racismo que mais repercutiu no Brasil. No último dia 28 de agosto, no final da partida contra o Grêmio, pela Copa do Brasil, o goleiro santista Aranha foi alvo de um episódio lamentável para o futebol brasileiro. O goleiro sofreu insultos racistas de um grupo de torcedores na reta final da vitória por 2 a 0 sobre o time gaúcho, em Porto Alegre, e saiu de campo indignado.
Crime
De acordo com o delegado Lauro Coimbra, o crime de injúria racial é o que acontece com mais frequência. A pena pode ser de um a três anos de reclusão, dependendo do caso. Segundo ele, os casos que chegam até a polícia são poucos, pois muitas pessoas sofrem o preconceito e não denunciam. “As vítimas acabam não registrando o crime e isso pode se tornar frequente”, destaca.
Injúria racial
A injúria racial, tipificada no artigo 140 do Código Penal Brasileiro, é uma ofensa à honra de uma pessoa ou de um grupo de pessoas. Foi o que explicou a professora de direito da FDV, Elda Bussinguer. “A vítima é ofendida em razão da raça, cor, etnia, religião ou origem. É menos grave que o racismo, mas também é um crime”, afirmou.
A professora destacou ainda que, mais grave que a injúria, o crime de racismo, previsto na Lei 7.716/89, é quando alguém é impedido de ter acesso a algum direito. O crime é imprescritível e inafiançável.