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Empresas do ES lavaram mais de R$ 1 bilhão para tráfico e organizações criminosas, diz PF

Grupos empresariais no Espírito Santo faziam lavagem de dinheiro de origem criminosa por meio de movimentações de câmbio e importações com valores subfaturados

Marcelo Pereira

Redação Folha Vitória
Foto: Marcelo Pereira / Folha Vitória

A Polícia Federal detalhou numa coletiva de imprensa, na manhã desta sexta-feira (01), o esquema onde empresas de exportação são investigadas por movimentar de maneira ilegal mais de R$ 1,2 bilhão entre 2015 e 2018

Foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão envolvendo dois grupos empresariais de Vitória. O outro mandado foi cumprido na cidade de Itajaí, em Santa Catarina. Os nomes dos proprietários e das empresas não foram divulgados pois o processo está em segredo de Justiça.

As operações, chamadas de "Escape" e "Sumidouro", identificaram que as empresas participavam de crime de evasão de divisas por meio de contratos irregulares de câmbio  e de processos fraudulentos de importação. As investigações foram feitas em conjunto com a Receita Federal, por meio do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), e o Ministério Público Federal.

"Recebemos relatório da Receita Federal onde foram detectados essa evasão de valores sem qualquer lastro, sem qualquer documentação. A origem desse dinheiro pode ser fruto dos mais variados tipos de crime: tráfico de armas e de drogas", explicou o Superintendente da Polícia Federal no Espírito Santo, Eugênio Ricas. 

Ele apontou indícios de relação dos grupos capixabas com empresas que atuam na rua 25 de Março, em São Paulo, e empresas que se relacionam com organizações criminosas como o Primeiro Comando da Capital (PCC). "Eles se valem desse tipo de esquema para mandar recursos para o exterior", enfatizou o Superintendente.

A delegada da Delegacia de Repressão à Corrupção e Desvios de Verbas Públicas da Polícia Federal, Aline Pedrini, que comandou as investigações, explicou que uma forma de desvio era feita com documentos falsos para justificar movimentações de câmbio. "A evasão era feita por meio desses contratos que escondiam movimentações falsas de dinheiro. Essas quantias vinham de diversas atividades criminosas. Era um crime contra o sistema financeiro", apontou. Essas atividades ilícitas foram alvo na operação Escape. 

Foto: Divulgação / Polícia Federal
Entenda o esquema criminoso investigado na Operação Escape

No outro modelo criminoso, investigado na operação Sumidouro, havia a participação de empresas de varejo que faziam operações de importação dos mais variados produtos, mas declarados com outros valores para a Receita Federal. 

"Elas usavam o serviço desses grupos empresariais, que foram alvos das operações, para fazer remessa de valores que deveriam pagar para os seus fornecedores em países como a China de operações que foram subfaturadas", dissse.


Foto: Divulgação / Polícia Federal
Esquema criminoso investigado na operação Sumidouro

Aline Pedrini aponta que uma parte da operação era paga da maneira correta por essas empresas varejistas, por meio legal, com importações registradas. "A outra parte, que era subfaturada, eles faziam a remessa por meio desses contratos de câmbio falsos", detalhou a delegada. 

A Polícia Federal determinou judicialmente o sequestro de bens e valores na ordem de R$ 11 milhões para alvos da Operação Escape e de cerca de R$ 1 milhão para alvos da Operação Sumidouro. A medida inclui imóveis, veículos e valores apurados em contas bancárias.

Operação recolheu joias, dinheiro em espécie e armas

Durante os mandados de busca e apreensão foram recolhidos, além de farta documentação, valores em espécie na casa de um empresário no bairro Jabour, em Vitória.  No local, foram apreendidos cerca de R$ 56 mil, além de joias. Segundo testemunhas, o investigado estava em casa junto com a esposa e dois filhos. Ele não foi preso. 

No cofre do escritório de uma das empresas foram recolhidas uma submetralhadora e uma espingarda calibre 12. Segundo a PF, havia documentação para uso, mas os armamentos estavam em local proibido. 

Divulgação / Polícia Federal
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Divulgação / Polícia Federal

O delegado Ivo Roberto Costa, que participou das operações, disse que os alvos poderão responder por crime contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro. Se condenados, a pena pode ultrapassar 10 anos. 

Além de ramificações com o Primeiro Comando da Capital (PCC), ele não descarta a participação de organizações criminosas capixabas. "Foi recolhida farta documentação sobre as atividades desse esquema. Talvez a gente possa chegar a essa constatação de envolvimento também de ligação de criminosos que atuam no Espírito Santo", apontou. 





 

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