Corregedoria analisa expulsão de PM envolvido em arrombamento de delegacia
Só depois da conclusão do processo administrativo será possível saber se o policial tem condições, ou não, de permanecer nos quadros da instituição
Após a prisão do soldado da Polícia Militar Paulo Vitor Alves de Jesus, a Corregedoria da PM informou que ele vai responder a um processo administrativo de rito ordinário, que tem um prazo de 60 dias para ser concluído. De acordo com o corregedor da PM, Coronel Hilton Borges, só depois da avaliação será possível saber se ele tem condições ou não de permanecer nos quadros da instituição.
“Esse processo administrativo visa justamente não a aplicação de um simples corretivo, mas sim a punição demissionária. A gente gostaria de retificar a informação de que esse policial teria sido contra indicado durante o processo seletivo e que ele estaria hoje na Polícia Militar por força de liminar. Isso não condiz com a realidade. Não há o registro de nenhuma ação e nenhuma liminar que tenha determinado esse policial estar na corporação. Ele fez o processo seletivo dele normal, concluiu o curso no final de 2014 e tem trabalhado normalmente durante esse período. Lamentavelmente ele já estava sendo alvo de investigações em razão dos fatos ocorridos no 6º Batalhão”, afirmou o coronel.
Segundo o secretário de Estado de Segurança Pública, André Garcia, quem fez a prisão do policial foi a própria PM. “A mensagem é muito clara. Nós, Polícia Civil e Militar, somos compostos por policiais honestos, dedicados ao trabalho. Uma frutinha podre na nossa cesta não vai desmerecer nem vai macular a imagem dessas duas corporações”, destacou.
Ainda de acordo com Garcia, a polícia continua com as investigações. “A Polícia Civil, através da Patrimonial, está investigando e levantando todas as informações para verificar se houve participação direta desse policial no roubo, mas o simples fato dele estar com a arma já revela que no mínimo ele sabia do ocorrido e estava se dispondo do produto desviado para alimentar o mercado do crime”, disse.
Prisões
Cinco pessoas já haviam sido detidas, sendo dois adolescentes, acusados de também participarem dos arrombamentos. Os maiores são Sávio Ricardo Falcão dos Santos, Paulo Vitor Gabriel dos Santos, ambos de 18 anos, e Starlin dos Santos Santana, de 23 anos.
Os suspeitos foram presos durante diligências realizadas na tarde de terça e madrugada de quarta-feira, em toda a Grande Vitória. Paulo Vitor foi preso em Cidade Pomar, na Serra. Segundo a polícia, foi ele quem invadiu a (DPCA), na última segunda-feira, junto com mais dois adolescentes, de 15 e 16 anos.
Depois que souberam da prisão do comparsa, os menores se apresentaram à polícia. Sávio Falcão, apontado pela polícia como chefe do tráfico no Morro do Cruzamento, em Vitória, e Starlin também tiveram envolvimento no furto da última segunda.
Os três foram conduzidos para o Centro de Triagem de Viana. Eles foram autuados em flagrante por furto qualificado, associação criminosa, posse ilegal de arma de uso restrito e corrupção de menores. Já os adolescentes foram apresentados ao Juizado da Infância e Juventude de Vitória.
A polícia encontrou ainda parte dos materiais furtados em um terreno localizado no Morro do Cruzamento, em Vitória. As investigações levaram a polícia a um matagal, no alto do morro, onde os bandidos esconderam munições de calibres 12 e ponto 40. Uniformes e coletes da Polícia Civil, equipamentos eletrônicos, celulares e um simulacro de pistola, roubados da DPCA, além de uma escopeta calibre 12, de fabricação caseira, também foram apreendidos durante as buscas.
Arrombamentos
Em apenas 11 dias, foram registrados seis casos de arrombamentos a unidades policiais no Espírito Santo. Dessas ocorrências, quatro foram em delegacias. Somente a Delegacia Especializada em Atendimento a Mulher (Deam) de Vitória foi alvo dos bandidos duas vezes.
Na segunda-feira (8), o alvo foi a DPCA, também na capital. Durante a madrugada, três armas de uso restrito da polícia e coletes à prova de bala foram levados. No dia 2 deste mês, três revólveres calibre 38 e uma submetralhadora foram levados da Delegacia de Goiabeiras, em Vitória.
Já no dia 31 de maio, a invasão aconteceu a uma unidade da Polícia Militar. Na ocasião, 14 pistolas foram roubadas de dentro do 6º Batalhão, na Serra. Um dia antes, um homem tentou furtar uma televisão da sede do Batalhão da PM de São Mateus, no norte do Estado.
Os seis casos dos últimos dias chamaram a atenção das autoridades, já que apenas um crime dessa natureza havia sido registrado nos últimos 12 meses.
Imagem suja
Para o coronel Ronalt William, ex-comandante geral da Polícia Militar, a participação de um militar no esquema de roubo de armas no estado denigre a imagem da corporação. "Os policiais estão muito chateados com essa situação, porque mancha o nome da Polícia Militar do Espírito Santo. O policial que participa de crime é pior do que os outros bandidos. Porque a população espera que ele a defenda, mas ele faz o contrário", destacou.
Sobre os constantes episódios de arrombamentos a delegacias e os consequentes furtos de armas no Estado, Ronalt William ressaltou que a situação é reflexo de uma falha de gestão. Segundo o coronel, o governo deveria prever essa situação, uma vez que o número de armas em circulação tem se tornado cada vez menor, em função das constantes apreensões de arma.
"Uma das formas de diminuir o número de homicídios é tirar as armas de circulação. Como o número de apreensões tem sido maior a cada ano, a quantidade de armas em circulação se tornou escassa. Então os bandidos vão procurar um meio para recuperar esse armamento. E uma das formas de conseguir isso é ir diretamente na polícia. Então o governo deveria ter previsto esse cenário. Mas a segurança nas unidades policiais é muito falha, especialmente nas delegacias", salientou.
Para o ex-comandante geral da PM, o Estado deve realizar um trabalho integrado, envolvendo todos os poderes, para que todas as armas sejam recuperadas e os culpados punidos.
"Uma resposta a essa situação é mais do que obrigação do Estado. Errar é humano, todo mundo erra. Mas errar duas, três, quatro, cinco, seis vezes é um absurdo! Se tem que guardar esse tipo de material, que seja guardado em um local seguro", afirmou.