O preço da omissão

Existe um velho ditado que diz: “Em casa em que falta pão, todo mundo briga e ninguém tem a razão”. Talvez seja um bom resumo da situação política do Espírito Santo e do episódio desta segunda-feira na Assembléia Legislativa.

Está claro que a falta de pão (e educação, saúde, transporte, segurança, etc) deu ao povo todas as razões para protestar. Não há o que discutir mais: a sociedade cansou dos desmandos da política. Agora, quem provocou o monstro não sabe o que fazer para acalmar a fera.

Nesse processo, os manifestantes, cujos motivos para os protestos são nobres, perdem totalmente a razão quando partem para o vandalismo puro e simples. Depredar o restaurante da Assembléia ou destruir ônibus no meio da rua, aterrorizando trabalhadores que tentavam voltar para casa, não demonstra força nem indignação. Mostra, isso sim, imaturidade, desorganização e desrespeito à sociedade. Falta liderança para delimitar o que é aceitável em um ambiente democrático.

O leitor deve achar que estou defendendo a Polícia Militar. Bem, acredito que a maior parte da instituição seja formada por profissionais competentes e que respeitam a lei. Mas os episódios (sim, no plural) desta segunda-feira mostram que também faltou controle sobre a tropa. A icônica imagem gravada pela Rede Vitória, em que uma jovem é atacada pelas costas e recebe três (sim, três) jatos de spray de pimenta, revela que parte dos policiais partiu para a revanche covarde. O adjetivo é necessário, porque estamos falando de gente treinada, equipada e remunerada pelos nossos impostos, atacando de forma desproporcional uma jovem desarmada e profissionais da imprensa. Lamentável.

Não podemos deixar de falar dos parlamentares em geral. Na Assembléia, eles já saíram pela porta lateral, cancelaram sessões e só votaram o arquivamento do Projeto de Decreto Legislativo depois que a Casa foi desocupada. As poucas iniciativas de oposição, na prática, provocam o debate, o que é necessário. Mas onde estão as lideranças capazes de conduzir o diálogo? Democracia se faz com debate, é verdade, mas não se pode brigar eternamente.

Nesse cenário onde os representantes do povo são rechaçados, um grupo pequeno (mas barulhento) se insurge e parte para o vandalismo, e a PM fica descontrolada, fica nítida a falta de uma liderança de peso, que consiga ouvir as reclamações, conter os ânimos exaltados e propor um caminho de conciliação. Não dá para viver nesse clima de guerra civil.

Hora de pacificar

Por que o governo do Estado insiste em afirmar que se a Terceira Ponte for encampada, os municípios do interior vão perder recursos? Será que esta estratégia de jogar o interior contra a capital vai trazer algum resultado? Há alguém no governo que espera uma grande caravana de manifestantes do interior vindo enfrentar aqueles que protestam na capital? E ainda que isso fosse possível, é uma sociedade dividida que o governo deseja? Não há ninguém no governo com capacidade para dialogar e liderar o processo de reconstrução da via democrática?

Só uma curiosidade

Já que tanto se fala no risco de indenizar a Rodosol em R$ 500 milhões, aí vai uma pergunta: se for o caso, o governo pretende indenizar espontaneamente ou vai aguardar uma decisão da Justiça? Se vai aguardar a Justiça, esse valor pode ser revisto ou até, em tese, negado, certo? E se vier com ordem da Justiça, vira precatório, certo? Impressão minha ou só a Rodosol não pode ficar com um papagaio nas mãos?

Ir e vir

É preciso reforçar. Não dá mais para submeter toda a população à ira de um grupelho anarquista. Aqueles que acham que podem impor sua vontade com a violência não estão agindo de forma democrática. E não representam a sociedade. Tentar invadir propriedade privada, destruir ônibus ou fechar o acesso à Ilha do Boi é só violência gratuita.

Vai estudar, menino!

Já dissemos aqui e vamos repetir. Todos os protestos só alcançaram projeção nacional e internacional porque a imprensa local dedicou muito tempo a eles. Os manifestantes têm ocupado muito espaço nos veículos. Portanto, essa conversinha de “mídia golpista e mídia fascista” é uma distorção dos fatos, uma injustiça com os profissionais e uma grande besteira lógica. Fascista é quem tenta impor uma visão de mundo única e tem dificuldade com a divergência. Sendo assim, fascista é quem agride e ameaça jornalista.

2 Respostas para “O preço da omissão

  1. Boa pedida deste gigante no jornalismo, Alex Cavalcanti, o governo estadual poderia sim transformar 500 milhões em precatorios, nós levamos 20 anos para conseguir uma liminar na justiça para receber
    Outra questão a ser abordada seria a 2 ponte, se não é privatizada, os deputados poderiam fazer um projeto de lei obrigando o governo do estado a pelo menos reformar ou melhorar o piso, a iluminação (que os municipios não querem arcar) com a responsabilidades, pintura de faixas, sinalização e por ai vai, porque seria mais facil e lucrativo para certos politicos pilantras , ter aonde retirar verba de campanhas eleitorais e propinas , na privatização.

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