A eleição do não voto
Depois de quatro anos em que o Brasil se viu no espelho como “nunca antes na história desse país”, as eleições de 2018 terão um ingrediente extremamente desafiador. O desalento que tomou conta do eleitorado. Diante de um descrédito acentuado da população com a classe política, a expectativa é a de que haja um novo recorde no número de votos em branco e nulo, e nas abstenções. Será, literalmente, a eleição do “não voto”.
Projeção
Historicamente, os votos brancos, nulos e abstenções batiam sempre na casa dos 20%. No último pleito, chegou a 32,5% (dados nacionais). Com a falta de perspectiva de renovação política, e a decepção da opinião pública com as autoridades eleitas, muitas delas envolvidas em denúncias de corrupção, há uma expectativa nada boa de que esse percentual cresça ainda mais, e atinja a casa dos 40%.
Aposta
Atuando no ramo de consultoria política e marketing eleitoral, o consultor Lucas Margotto é um dos que acreditam que essa porcentagem será alcançada, somando-se os votos nulos, brancos e as abstenções. Segundo ele, “essa perspectiva demonstra o profundo descontentamento do eleitorado com a classe política, e uma clara indignação com a revelação dos esquemas endêmicos de corrupção pela Lava-Jato”.
Motivos
Margotto elenca, entre os motivos para o desalento do eleitor, e o favoritismo do “não voto” nestas eleições, os casos de corrupção constantemente na mídia, que se tornaram uma espécie de notícia permanente, e a reforma eleitoral. De acordo com ele, à parte ter sido um desejo manifesto da opinião pública, a reforma, no modelo definido, “enfraquece a democracia e o sistema representativo, pois facilita a eleição e reeleição de carreiristas, e dificulta a ascensão de nomes novos no espectro político”.
Tempo
O consultor justifica a opinião dele dizendo que, ao reduzir o tempo de rádio e televisão para a campanha, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) suprimiu a condição de diálogo – em especial dos novos atores – com o eleitor, que fica sem a oportunidade de conhecer alternativas aos nomes que já são velhos conhecidos.
Financiamento público
Quanto às mudanças impostas pelo TSE para o financiamento de campanha, Lucas Margotto também é crítico da proibição do financiamento privado. Ele defende o modelo americano, no qual as regras são claras e há limites para evitar abuso do poder econômico.
“Agora, no Brasil, se um segmento produtivo, uma categoria profissional ou outro grupo representativo quiser impulsionar a candidatura de alguém que os represente no Congresso Nacional, está impedido”, diz.
Os mesmos de sempre
Resta então o financiamento público, que é feito via fundo partidário. Como a regra determina que o cálculo de distribuição dos valores seja feito com base na proporcionalidade de representação no Senado e na Câmara dos Deputados, o critério para o rateio do dinheiro é a quantidade de senadores e deputados federais que cada partido tem. O que, mais uma vez, beneficia os grandes partidos e os caciques políticos. “A proibição do investimento empresarial nas campanhas não trouxe benefício algum”, acredita Margotto.