A possibilidade do governador Renato Casagrande disputar a Presidência da República já foi descartada. Tanto por ele quanto pelo PSB nacional, que tinha feito o convite para a disputa ao governador no início do ano. A cúpula do ninho socialista definiu que a candidatura de Casagrande à reeleição é uma das prioridades do PSB nacional, principalmente numa possível dobradinha com o PT.
Mas, se a disputa ao Planalto saiu do radar, as pautas nacionais, não. E Casagrande tem aproveitado cada oportunidade para marcar território e também se posicionar como um contraponto ao presidente Bolsonaro.
Nesta terça-feira (19), o governador Renato Casagrande assinou o decreto que vai garantir a distribuição de absorventes para alunas, de 10 a 19 anos, da rede estadual, inscritas no CadÚnico. O investimento é de R$ 5 milhões e vai alcançar cerca de 50 mil meninas em situação de vulnerabilidade social.
A ação vem 10 dias após o tema ganhar visibilidade com o veto do Presidente da República a um projeto de teor semelhante: a distribuição desses itens para estudantes pobres, mulheres em situação de rua e de pobreza extrema, e presidiárias. Bolsonaro alegou falta de fonte de recurso e de logística, para vetar o projeto. Devido ao apelo popular, o Congresso já se mobiliza para derrubar o veto.
Não há dúvidas de que o decreto do Estado trata de uma política pública importante para combater a pobreza menstrual – um problema que por muito tempo foi negligenciado e que atinge muitas mulheres. Mas a ação de Casagrande também não deixa de ser uma resposta a Bolsonaro. E não foi a primeira.
Meio ambiente
Na semana passada, Casagrande foi eleito pelo Fórum dos Governadores para presidir o Consórcio Brasil Verde, que está em fase de criação e tem como principal objetivo captar recursos para financiar ações ambientais. O governador capixaba vai apresentar o consórcio na Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (Cop 26), na Escócia, no final deste mês.
Debater sobre o clima é urgente, mas o consórcio e o posto de presidente vieram após uma intensa movimentação da coalizão Governadores pelo Clima, que ganhou protagonismo frente a uma deterioração cada vez maior da imagem do governo federal na área ambiental.
Se em Brasília faltava uma voz que encampasse um dos discursos que mais tem ecoado no mundo, os governadores, com Casagrande à frente, souberam aproveitar a lacuna deixada, com direito à apresentação de projetos para o secretário do governo dos Estados Unidos para o Clima, John Kerry.
Pandemia
A gestão da pandemia talvez seja a área em que o “marcar território” tenha sido mais evidente. Em muitas ocasiões o governador assumiu uma postura contrária a de Bolsonaro, seja na questão das vacinas; na adoção de medidas restritivas e de regras sanitárias; na defesa das máscaras.
Mas foi quando o Estado se envolveu na crise de oxigênio de Manaus (AM), tomando a iniciativa de trazer para hospitais capixabas pacientes de Covid que corriam o risco de morrerem asfixiados, que o Espírito Santo fincou os dois pés no debate nacional.
Outros governadores também se envolveram, o que resultou num episódio de solidariedade entre os estados que há muito tempo não se via.
Se as ações de cunho nacional vão resultar em votos no ano que vem, a resposta é uma incógnita. Há quem diga que muitos já perderam a reeleição por focarem somente em pautas nacionais. Mas há também os que prezam aqueles que colocam o estado no mapa do debate político nacional, principalmente quando o estado já foi considerado o patinho feio da federação. É aquela máxima: “Quem não é visto, não é lembrado”.
Respiro para a base
O mercado político também especulou sobre o anúncio do decreto de distribuição gratuita de absorventes vir após um dia em que a base do governo sofreu na Assembleia. A onda de criminalidade do último final de semana (20 assassinatos) foi um prato cheio para a oposição, que pautou a maioria dos discursos batendo no governo.
Nesta quarta-feira (20), porém, a pauta positiva (decreto) deve dar o tom do debate na casa legislativa. Questionado se houve uma mudança de data, uma antecipação para anunciar a nova política pública na noite de ontem, a vice-governadora, Jacqueline Moraes – que gravou um vídeo anunciando a novidade –, disse que não. “Estávamos acompanhando e aguardando o levantamento da Sedu (Secretaria Estadual da Educação).