Em Vitória, ministro da Educação nega interferência no Enem e diz que exame “terá a cara do governo Bolsonaro”

Ministro da Educação Milton Ribeiro

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, participou na noite de quinta-feira (18) da posse da nova gestão do Ifes, que reconduziu ao cargo o reitor Jadir Pela. O evento ocorreu nos galpões do instituto, em Jardim da Penha, Vitória. Num discurso de pouco mais de sete minutos – dado ao avançado da hora, já que o evento começou com uma hora de atraso – Milton negou que ele ou Bolsonaro tenham interferido nas questões do Enem e voltou a reafirmar que a prova terá a cara do governo.

“Tivemos algum ruído durante a semana, como toda vez acontece perto do Enem. Em nenhum momento, como educador, eu pude pensar ou tentar macular a seriedade do exame, colocando ou tirando questões ‘a’, ‘b’, ou ‘c’. Isso não é verdade, isso não aconteceu, nem por parte minha, nem do presidente do Inep, tampouco do Presidente da República”, afirmou o ministro.

O Ministério da Educação ficou no centro de uma polêmica após um pedido de demissão em massa de técnicos do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep) – mais de 30 deixaram seus cargos alegando “falta de comando técnico” no planejamento do Enem e “clima de insegurança e medo” – e depois de o Presidente dizer que as questões do Enem começavam a “ter a cara do governo”.

No evento, o ministro repetiu e reafirmou a frase de Bolsonaro, mas em outro tom. Ele também explicou como é feita a seleção das perguntas para o exame. “A seleção é feita numa sala secreta, por pessoas que têm legitimidade para fazer isso. Entre eles, escolhem qual pergunta entra ou sai, mas entre eles, técnicos do Inep. Então não há o que falar em alguém tentar manipular ou mudar as questões do Enem. Por isso quero que os senhores continuem acreditando na seriedade e na maneira como nós temos conduzido essa pasta. Ele (Enem) vai ter a cara do governo Jair Messias Bolsonaro, uma cara de seriedade, de honestidade, integridade. Essa é a cara do nosso governo”, disse o ministro.

Antes de entrar no mérito do Enem, Milton Ribeiro disse ser necessário recuperar o tempo perdido com os alunos, devido ao fechamento das escolas por conta da pandemia, e responsabilizou a “descentralização” da gestão da educação pelo “atraso” no retorno às aulas.

“O Brasil, por sua descentralização da administração da educação, foi um dos países que mais demorou de abrir suas escolas, isso foi uma dificuldade muito grande para todos, sobretudo para os alunos, mas nós vamos recuperar isso”. Nesta sexta-feira (19) o ministro estará em Barra de São Francisco para uma agenda no Ifes e com gestores da Educação das regiões Norte e Noroeste do Estado.

 

Ministro vai a culto e posse no ifes atrasa em 1 hora

A posse da nova gestão do Ifes estava marcada para as 19 horas de ontem e o ministro da Educação, Milton Ribeiro, já estava no local do evento quando o deputado federal Evair de Melo o levou para um culto, numa igreja em Mata da Praia (Vitória), pouco antes do evento iniciar. As autoridades presentes – governador Renato Casagrande, senadores, deputados, diretoria do Ifes – e os cerca de 150 convidados tiveram de esperar por mais de uma hora.

O cerimonial atrasou em uma hora o início do evento à espera do ministro. Mas, como alguns convidados já estavam impacientes de tanto esperar, resolveram iniciar, às 20h, sem o ministro, que foi anunciado para compor a mesa após 30 minutos do início do evento.

O ministro estava no culto especial pelo aniversário do pastor titular da igreja Assembleia de Deus Ministério Fonte da Vida. Na igreja, ele ficou durante todo o período do louvor (canções da parte inicial do culto), depois foi chamado ao púlpito para dar uma palavra, logo após Evair também falou e contou um testemunho e em seguida os dois receberam orações da igreja. Só depois os dois foram para o evento da posse do Ifes.

Ministro da Educação, Milton Ribeiro, ao lado do deputado federal Evair de Melo
Crédito: Assessoria/Evair

No culto, que foi transmitido ao vivo pelas redes sociais, antes de passar o microfone para o ministro, uma das lideranças da igreja disse que tinha avisado aos músicos da igreja para que só cantassem uma música, para liberar o ministro, mas o ministro teria pedido para deixar seguir. Em sua fala, Milton Ribeiro brinca que o governador estava bravo com sua demora, mas que ele “preferia” estar ali na igreja.

“Estou aqui por mãos do deputado Evair, ele falou assim: ‘Vamos lá dar um abraço no pastor’. Nós cometemos um erro, eu estou com outra autoridade lá, que é o governador do Espírito Santo, já bravo porque eu estou demorando muito (nesse momento algumas pessoas dizem “Glória a Deus”), mas eu vou correr pra lá e vou pedir desculpa. Mas eu preferi estar aqui”, disse o ministro sendo muito aplaudido.

“Novo tempo”

Ministro da Educação em culto
crédito: Assessoria/Deputado Evair

Ainda no púlpito, Milton, que é pastor presbiteriano, disse que o Brasil está vivendo um “novo tempo” e que não vai aceitar “discussões de gênero” para crianças.

“Tenho um compromisso com os valores que Deus colocou na minha vida, no meu coração. Creio que estamos vivendo um novo tempo em nosso país, nós temos que cuidar das nossas crianças, da inocência das nossas crianças. Não vou permitir nenhuma discussão de gênero – que eu respeito, estamos num país laico –, mas para crianças de 6 a 10 anos, sem chance, se depender de mim”, disse o ministro, sem citar exemplos de onde isso supostamente estaria ocorrendo.

Enquanto isso, no evento de posse do Ifes, o cerimonial colocou até pessoas que não estavam na programação para poder discursar e dar tempo do ministro chegar para a assinatura do termo de posse. Nos bastidores, a gafe do atraso gerou burburinhos, principalmente porque quem levou o ministro ao culto foi o deputado Evair de Melo, vice-líder do governo federal na Câmara e crítico do governo Casagrande.

Perdeu o discurso de Contarato

O ministro não tinha chegado ainda ao evento quando o senador Fabiano Contarato, em seu discurso, criticou o comportamento de gestores na pasta de Educação do governo federal. Sem citar nomes, ele falou sobre ministros “que têm um comportamento que vilipendiam a liberdade de cátedra, que incentivavam alunos a filmarem professores dentro da sala de aula, ministros que queriam tirar verba do curso de Filosofia, Sociologia e Antropologia, sob pretexto de que esses cursos não davam retorno”.

 

Cadê a máscara?

Durante seu discurso, o governador Renato Casagrande falava sobre a dificuldade de se viver e governar em períodos difíceis e citou a pandemia dizendo que, com exceção dele que estava falando, todos na mesa estavam de máscara. “Você vive de máscara e não tem nada pior pra gente, que gosta de liberdade, do que usar máscara. O mundo mudou assustadoramente para nós”. Porém, Jadir Pela e o ministro, que estava sentado ao lado governador, não estavam de máscara. Jadir pegou a sua e colocou. A do ministro continuou na mão dele.