Quem acompanha o ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos pelas redes sociais já sabe que ele está rodando o Estado. E não é por turismo, ainda que o Espírito Santo tenha seus muitos atrativos. Audifax já colocou o bloco na rua e tem como objetivo disputar o Palácio Anchieta. “Eu me sinto preparado e em condições de ser candidato a governador desse Estado”.
Para isso, ele conta com o recall de seus três mandatos à frente do maior município do Estado – embora na última eleição não tenha conseguido emplacar seu candidato, o ex-vereador Fabio Duarte, que perdeu para Sergio Vidigal – e do investimento do seu partido, Rede, que vai focar apenas em duas candidaturas ao governo em todo o país. A de Audifax é uma delas.
Audifax recebeu a coluna em seu escritório, também conhecido como casa azul – ele tem uma predileção pela cor, que estampava a camisa e as cortinas do imóvel também –, na semana passada. Contou um pouco de seus planos, sobre a relação com políticos do Estado, mostrou o caderninho que serve de rascunho para o plano de governo e disse como pretende lidar com a polarização política instalada hoje no país.
Leia a entrevista:
De Olho no Poder – O senhor é pré-candidato ao governo?
Audifax Barcelos – Essa foi uma definição partidária, a nível nacional. O partido definiu que no país só terá duas candidaturas ao governo e que irá focar nessas duas candidaturas: a minha e a do Randolfe (senador). Toda a estrutura partidária será focada nessas duas candidaturas. Estou feliz, empolgado, mas preciso construir isso ouvindo a sociedade. É o que eu tenho feito durante esses meses, estou rodando todos os municípios, falando da minha experiência como prefeito da maior cidade do Espírito Santo, mostrando o que era a Serra 20 anos atrás e o que é hoje. A população vive hoje com uma autoestima elevada. Tenho também ouvido as lideranças dos municípios. Lideranças políticas, líderes comunitários, lideranças religiosas, líderes empresariais, do comércio, da agricultura. Estou sendo muito bem recebido, estamos construindo esse projeto, sim.
É uma candidatura irreversível ou lá na frente pode juntar com outras lideranças?
Essa palavra “irreversível” eu não gosto muito de usar em função que eu não falo da boca pra fora. Sou uma pessoa que já teve várias experiências espirituais. O que aconteceu comigo há cinco anos foi, sobretudo, uma experiência espiritual, sinto que Deus fala comigo através das circunstâncias.
O senhor tem se reunido com o prefeito Guerino Zanon e com o deputado Erick Musso, que também são pré-candidatos ao governo?
Sim, não nego isso. Tenho conversado, tenho tido diálogo importante com eles e com outras pessoas também, como (o ex-deputado) Manato. Faz parte da democracia e do respeito, são lideranças importantes.
Qual foi o teor da conversa? Vão estar juntos?
Cada um fez uma leitura do Estado, como está enxergando as coisas. Vamos continuar conversando. Não é fácil, o governador tem a máquina na mão, os partidos estão do lado dele, não é uma luta pequena, fácil. Se você vê alguém que tem uma independência, é muito importante ter conversa, porque para um projeto desse não é bom estar só. Cabe a nós, como a outras forças políticas do Estado, buscar um projeto coletivo. Vai chegar a hora de ter esse entendimento.
Quando o senhor diz “buscar um projeto coletivo”, significa que alguém vai ter que retirar a candidatura ao governo?
Essa palavra “retirar” é meio forte, mas teremos de trabalhar a possibilidade de um caminho. Será necessário em determinado momento buscar a união do grupo para dar à população um novo projeto.
Mas vocês já fizeram uma aliança de caminharem juntos?
Se eu disser que não falamos sobre isso, estaria mentindo. Existe essa conversa, é importante para a democracia, para o eleitor e para a classe política ter novas opções, novas lideranças para o Estado, entendemos a importância de novas lideranças surgirem. Isso vai qualificar o debate. Entendo que esse grupo vai apresentar ao Espírito Santo uma nova proposta, um novo modelo de gestão. E eu me sinto preparado para governar esse Estado. Em função da experiência que tenho de ter sido prefeito do maior município do Estado por três vezes, por ter sido deputado federal, por ter sido secretário de Planejamento do Estado no segundo mandato do Paulo (Hartung), por ter sido secretário em alguns lugares. Nossa proposta é nessa linha, gerar mais emprego, diminuir a fome, olhar para a segurança pública, saúde.
Na possibilidade de vocês três estarem juntos o que irá definir quem será o candidato ao governo? Pesquisas?
A gente não entrou nesse detalhe não. Há a sinalização de estarmos juntos, de nos mostrarmos à população do Estado e dar a ela a opção. Agora se os três vão ser candidatos, ou se dois, ou um… Tem muita água pra rolar debaixo da ponte ainda.
Hartung está incentivando o senhor a disputar?
Eu tenho conversado com ele, é uma liderança que a gente precisa respeitar, tem um legado nesse Estado. Paulo se tornou uma liderança nacional. Ele me conhece, fui secretário dele, prefeito com ele governador.
Paulo Hartung vem mesmo ao Senado?
Meu desejo é que ele venha para qualificar o Senado, ajudar o Espírito Santo pela sua experiência, bagagem de ter sido governador três vezes, por estar envolvido no debate nacional.
Como irá fazer com relação a tempo de TV e fundo partidário, já que a Rede é um partido pequeno e boa parte dos partidos hoje está com o governador?
É importante ter o apoio da classe política, mas entendo que é mais importante ter o apoio da população. Ter a maioria dos partidos não significa ter a maioria da população e eu tenho clareza disso. Disputei quatro eleições, Deus abençoou, fomos vitoriosos. Tendo o apoio da população vamos buscar os partidos. O governo, hoje, tem a máquina na mão. Mas as coisas podem mudar no ano que vem. Garantia de ter apoio de partido, hoje, ninguém tem, nem o governador. Essas coisas só se definem no ano que vem. Lógico que não vou buscar só ano que vem, já conversei com uns 10 partidos. Com relação à estrutura do partido, estou na Rede há seis anos, quando fui candidato a prefeito, toda estrutura me foi dada.
Hoje a Rede é um partido de oposição ao governo federal…
Não é só a Rede que é oposição. Eu quero ser candidato a governador independente dessa coisa de direita, centro e esquerda, até porque eu vejo muita verdade e muita mentira nisso. Vejo caronistas atrás disso. Percebo que a população, em sua maioria, nem sabe precisamente o que é isso. Quero ser governador, mas não vou entrar nessa questão. Eu fui atrás do governo federal buscar recursos, três obras da Serra têm o envolvimento do governo federal. Isso é mais importante que a questão ideológica.
Mas numa eleição geral, as questões nacionais acabam influenciando os palanques regionais…
Fui gestor da Serra, teoricamente com um partido de esquerda, mas fui pra Rede com essa fala, de que estaríamos acima de direita e esquerda. Essa questão de direita e esquerda pra nós está ultrapassada. Não importa que Bolsonaro seja da dita extrema-direita, das obras que eu apresento, três eu consegui pelo governo Bolsonaro. Quero ser governador na mesma linha que fui prefeito na Serra. Buscar resultado, eficiência, distribuir renda, quero cuidar da vida das pessoas e não da ideologia das pessoas. Tenho observado muita gente pegando carona nisso, mas pouca gente preocupada com princípios.
Dos nomes que já estão postos para presidente, qual o senhor deve apoiar, já que a Rede não terá candidato?
A gente não discutiu isso ainda. Essa definição nacional, do partido não ter candidato a presidente, foi muito boa porque isso vai nos deixar muito mais livres, muito mais focados no que a gente está fazendo.
Mas e se lá na frente a Rede decidir apoiar o Lula, por exemplo?
Acho pouco provável, pelos dias de hoje, a Rede fazer alguma aposta nesse sentido. O que percebo é que o partido não vai definir por nenhuma das duas candidaturas (Lula e Bolsonaro).
Vai apoiar um terceiro nome?
Pode ser. Mas não está definido.
Tendo em vista que o senhor o apoiou na eleição, como está vendo o mandato do senador Fabiano Contarato?
Deus abençoe a vida dele e que ele seja feliz.
O senhor disse que não disputaria mais para prefeito. Isso continua de pé?
A minha contribuição para a cidade da Serra já foi dada em três mandatos. Tenho a consciência tranquila. Não fizemos tudo, mas fizemos muito. Sinto o reconhecimento da população até fora da Serra. Entendo que a cidade precisa de novas lideranças, assim como defendo para o Estado, foi por essa razão que fui pra rua pedir voto para o Fabio.
Já que não irá mais disputar a Serra, futuramente, o senhor e Vidigal podem voltar a ser aliados?
Não tenho nada contra ele, nesses 10 meses que se passaram não tenho feito nenhuma ação política na Serra. Se Deus quiser e eu virar governador, vou ajudar os 78 municípios, inclusive a Serra. Será um prazer! Torço e quero que o atual prefeito faça um grande e belo mandato.
Vocês têm conversado?
Nesses 10 meses eu não tenho conversado com ninguém da Serra, não tenho reunido com vereadores, estou à disposição, mas não tenho feito conversas por iniciativa minha.
E como está sua relação com Casagrande?
Faz muito tempo que não converso com ele. Alguns meses. A última vez foi em março ou abril. Ele me chamou e me perguntou o que eu estava fazendo, conversamos sobre o Estado, perguntou o que eu pretendia no ano que vem, eu disse que ouviria a população. Lá no início eu coloquei que poderia ser candidato a tudo ou a nada, mas de março a novembro, em função de tudo que eu tenho acompanhado, ficou clara a candidatura a governador e estou construindo com a população. Não é um projeto pessoal, não é uma questão do poder pelo poder. Eu sinto que é um propósito de Deus para minha vida. Quero ser governador desse Estado, se for da vontade de Deus, para servir a população, para fazer justiça, para fazer aquilo que eu fiz pela população da Serra.
Vi que o senhor tem feito algumas postagens de críticas ao governo, vai ser nessa pegada? Já está montando equipe, já tem marqueteiro?
Estamos construindo o projeto ouvindo as pessoas, viajando, poderia construir dentro desse escritório, mas tenho andado com algumas pessoas. É lógico que não estou sozinho, tenho basicamente três grupos: um define as viagens e chega antes que eu; outro me ajuda nas redes sociais, e outro faz as análises políticas.
Eu jamais irei fazer crítica à figura do governador, mas está claro pra mim algumas questões, as pessoas não veem a presença do Estado na vida delas, o Estado está ausente na maioria da vida das pessoas. A gestão precisa melhorar muito e eu me sinto preparado e em condições de ser candidato a governador desse Estado.