No futebol, o bom jogador sabe o risco que é entrar numa bola dividida. O choque com o adversário pode machucá-lo e até tirá-lo do jogo. Se entrar fora de tempo, pode perder a bola, dar vantagem ao adversário e resultar num gol do outro time. É sempre um risco.
Assim como no futebol, no jogo da política também é necessário ter cautela. E disso, o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (DEM), entende. Durante entrevista no programa De Olho no Poder na rádio Jovem Pan News Vitória, o prefeito foi questionado sobre seu posicionamento político e as eleições do ano que vem, a quem irá apoiar para o governo e para o Planalto, se vai disputar a reeleição ou se tem planos maiores, como chegar ao Palácio Anchieta. E de todas as perguntas ele saiu pela tangente.
“Eu sou Renato e o Presidente”, disse Euclério ao ser questionado se apoiaria o governador Renato Casagrande (PSB), caso o socialista dispute a reeleição. “Política muda muito, mas eu não gosto de mudar. O governador está ajudando muito o município, vou apoiá-lo à reeleição”, disse o prefeito.
Mas a palavra firme deu lugar a uma reticente quando foi questionado sobre a possibilidade de o PSB, em âmbito nacional, fechar uma federação com o PT e a nova composição obrigar, em todos os estados, que o PSB dê palanque para o ex-presidente Lula, pré-candidato à Presidência. Ao ser perguntado se ainda assim, com PSB fechado com o PT, estaria no palanque de Casagrande, Euclério hesitou e não respondeu: “Essa pergunta eu vou pular, não posso adiantar isso agora porque eu tenho uma cidade para cuidar. Vou responder daqui a oito meses”, disse o prefeito, criando uma regra nova (a do pulo de perguntas) na entrevista.
Em outro momento, ao ser questionado sobre quem apoiaria para a Presidência da República – uma vez que ele, minutos antes, já tinha sinalizado apoiar o Presidente –, Euclério também procurou não cravar um nome: “Não sei quem vou apoiar. Hoje meu presidente é Bolsonaro. Ele é quem está ajudando o município. Todos os candidatos têm pontos fortes e fracos, tenho que analisar a conjuntura para decidir o que for melhor para o município”, avaliou.
Quando o assunto chegou à possibilidade de mudar de partido – uma vez que o prefeito anda reclamando pelos cantos do DEM e seu secretário de Governo e braço direito, Messias Donato, é presidente do Solidariedade capixaba –, Euclério disse que não cogitou. “Eu gosto deles (família Ferraço, que comanda o DEM no Estado), estou bem, apesar de eles não me ouvirem em nada. Ninguém me chama para nada, não. Estou sendo franco”, alfinetou.
“Não sei” também foi a resposta dada por Euclério ao questionamento se irá disputar a reeleição. Também desconversou quando foi perguntado sobre projetos futuros e sobre o burburinho de, lá na frente, ser candidato ao governo. “Penso só em fazer da minha cidade um lugar melhor”.
E continuou saindo pela tangente sobre o apoio que dará, no ano que vem, para aliados na Assembleia e na Câmara Federal. “Tenho o meu candidato do coração, que eu não vou falar quem é. Mas tem espaço para todo mundo”. “E isso não vai gerar ciúme?”, foi perguntado ao prefeito. No que ele respondeu: “Não, na verdade tudo gera ciúme, mas a gente contorna. Algumas coisas que eu criticava quando estava na Assembleia, agora vejo que não é bem assim, a questão do apoio é uma delas”, disse.
Embora seja marinheiro de primeira viagem no Executivo, Euclério sabe que não há necessidade de queimar a largada (e pontes) agora. Como ele mesmo disse diversas vezes na entrevista, Cariacica precisa de tudo e o “tudo” também significa “todos”, ainda que sejam de campos, ideologias e posicionamentos divergentes.
Quem conheceu o Euclério da Assembleia, com seus rompantes na tribuna, denúncias e discursos acalorados – alguns até agressivos –, certamente vai se admirar ao constatar que ele governa quase que sem nenhuma oposição. “Culpa” de sua defesa intransigente de que um gestor deve ser conciliador (quem diria!). É nisso que ele tem se empenhado e até conseguido, com certo êxito.
Não se pode servir a dois senhores!
Embora não entrar em bola dividida ou não se posicionar agora possa ser uma estratégia exitosa para o momento, vai chegar o dia que Euclério Sampaio terá de se posicionar. O PSB não sabe ainda com quem irá ficar, mas sabe com quem não ficará de jeito nenhum e esse alguém é o presidente Bolsonaro. Ou seja, se optar por apoiar Bolsonaro, Euclério não estará no palanque de Casagrande. Se optar por apoiar Casagrande, Euclério não estará no palanque de Bolsonaro.
Euclério “paz e amor” x “velho” Euclério
“Não tenho nada contra ninguém, não. Eu sou Euclério ‘paz e amor’. Até mexerem com a cidade. Aí eu viro o ‘velho’ Euclério”, disse o prefeito ao fazer referência à sua atuação na Assembleia e a grupos políticos que fazem oposição à sua gestão.
Aguenta, coração!
Euclério também contou que tem quatro pontes no coração, que chegou a infartar na pré-campanha, tem diabetes, já teve câncer, já fez transplante de medula, mas que está firme e forte para tocar sua rotina de acordar às 4 horas, começar às 5h e só parar Deus sabe que horas.
As pérolas
Além de “pular” a resposta a uma pergunta, o prefeito Euclério também fez brincadeiras a respeito do seu relacionamento familiar. Brincou que a esposa, Dona Camila, o “tolera” e que poderia nem dormir no quarto se admitisse agora que seria candidato à reeleição. “Ela diz que eu a enrolo, dizendo que é só por quatro anos, porque eu sempre estou falando isso: é só quatro anos”.
Confira a entrevista completa
Além de política, Euclério também falou sobre a pandemia e as festas do Réveillon: disse que vai mandar cancelar a queima de fogos; falou sobre as seis escolas em tempo integral que pretende inaugurar no ano que vem, sendo duas cívico-militares; sobre a posse dos 48 agentes da Guarda Municipal, que ocorrerá na próxima segunda-feira (27), e muito mais. Confira a entrevista completa: