Em entrevista para o programa De Olho no Poder com Fabi Tostes, na rádio JP News Vitória, na última quinta-feira (13), o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (Republicanos), confirmou, por mais de uma vez, sua pré-candidatura ao governo, fez um mea-culpa no episódio da antecipação da eleição da Mesa Diretora da Ales, trouxe à luz detalhes sobre os embates com o governador e acenou ao Podemos, numa clara intenção de formar uma dobradinha entre as siglas para as eleições de outubro.
No mês passado, o presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira, esteve no Estado e lançou a pré-candidatura de Erick ao Palácio Anchieta. Naquela ocasião, a coluna questionou Pereira sobre as articulações nacionais, como por exemplo, a quem o partido irá apoiar para a Presidência da República. Embora não deva decidir por agora, o Republicanos tem estado próximo do presidente Bolsonaro (PL) e do ex-ministro Sergio Moro (Podemos).
No Estado, PL é oposição ao governo. O Podemos, porém, é aliado e conta tem o secretário de Planejamento, Gilson Daniel (presidente do Podemos capixaba), e vários membros do partido na gestão Casagrande.
Questionado sobre se estaria no palanque de Casagrande, caso o Republicanos feche com o Podemos e apoie Moro, Erick Musso respondeu com outras perguntas: “E por que não o Podemos me apoiar? Quem sabe Gilson Daniel me apoia? E se o Podemos fechar com Erick? É 50/50”, disse o deputado, apontando para uma possível dobradinha de cima para baixo, ou seja, que reflita no Estado o que for fechado em nível nacional.
A colocação de Erick faz sentido e, por um lado, encontra lugar na fila das possibilidades no que diz respeito ao peso das alianças nacionais. A aliança feita em Brasília prevalece sobre as alianças regionais, que acabam refletindo nos estados a decisão tomada nacionalmente.
Por outro lado, porém, dependendo do estado e de sua liderança, a aliança regional pode pesar e até influenciar na decisão nacional. E parece ser o caso do Podemos capixaba. Segundo Gilson Daniel, o partido já definiu o caminho que vai seguir.
“Com todo o respeito que tenho a Erick Musso e à sua candidatura colocada, eu tenho amizade com ele, mas o Podemos do Espírito Santo já definiu o seu caminho. E nossa definição é de apoio à reeleição de Casagrande. Estamos aguardando somente a definição do governador de declarar a candidatura, e vai ter o tempo certo para isso, mas o Podemos está alinhado com o governador”, disse o dirigente capixaba.
Gilson confirmou que há “conversas nacionais” sobre uma aliança com o Republicanos, mas que a aliança regional já está fechada. “Existe realmente uma conversa nacional com o Republicanos e com o União Brasil. São dois partidos que estão na discussão de apoio a Sergio Moro para presidente. Agora é o momento das pessoas se colocarem para a disputa, isso é natural e salutar. Mas, no nosso caso aqui, da candidatura majoritária estadual, nosso caminho já está discutido com a nacional, Renata Abreu (presidente nacional do Podemos) não só está ciente da decisão como esteve com o governador Casagrande. Nós temos alinhamento. Casagrande tem nos ajudado muito no partido, nos ajuda na montagem de chapa. Muitos membros do Podemos participam da gestão dele. Não tem condição de pensar num projeto diferente desse”, disse Gilson.
O secretário defende ainda uma frente ampla com base no apoio a Casagrande: “Acredito muito numa união em prol do Espírito Santo. Casagrande tem feito um bom mandato”, afirmou.
Mas o Republicanos, que no Estado representa um grupo forte – tendo, além do presidente da Assembleia, o prefeito de Vitória (Pazolini) e o deputado federal mais votado na última eleição (Amaro Neto) em seus quadros –, aceitaria ser mais um puxadinho na “casa grande” de aliados que está sendo montada pelo PSB, partido do governador?
A coluna De Olho no Poder perguntou a Erick se haveria alguma possibilidade dele, por exemplo, ser vice de Casagrande. No que o deputado respondeu: “Eu sou pré-candidato a governador do Espírito Santo. Essa é minha resposta”.
Arrependido?
O presidente da Assembleia, Erick Musso, também falou sobre um episódio que marcou sua gestão: a antecipação da eleição da Mesa Diretora da Ales. Em novembro de 2019, Erick antecipou a eleição, marcada para fevereiro de 2021, e foi reeleito presidente. A manobra, embora apoiada pela maioria dos parlamentares, não repercutiu bem na sociedade e foi alvo de ações da OAB e de críticas, por parte da Igreja Católica e outras instituições. Erick, então, recuou.
Questionado se tinha algum arrependimento, Erick admitiu que errou. “Não vou dizer que eu me arrependo, digo que eu aprendi. Porque na vida nós temos que ter a humildade de saber e reconhecer quando a gente erra. Então, pode ter a certeza absoluta que eu tinha as pessoas em volta, tanto que eu tive 28 votos, tanto que dois anos depois eu me tornei presidente de novo. Mas eu tive muito aprendizado com aquele episódio”.
O presidente também foi perguntado se teria feito diferente, caso tivesse o poder de voltar no tempo. “Talvez eu não tivesse feito. Mas na vida é assim, a gente aprende com os acertos e talvez aprende duplamente com os erros. Eu já tive a oportunidade de falar isso com a OAB, com a Igreja Católica, com o Tribunal de Justiça e com vários órgãos que tiveram envolvimento (no episódio). Pode, num primeiro momento, ter sido algo muito ruim politicamente, mas para o meu crescimento pessoal, foi muito importante. Eu me tornei uma pessoa, um político melhor, reconhecedor das minhas falhas, erros e equívocos, para não repeti-los, e não ter a ansiedade de tomar algumas decisões”.
Na ocasião, o Palácio Anchieta foi pego de surpresa com a eleição antecipada e chegou a trocar o líder do governo na Assembleia – na época o deputado, hoje prefeito, Enivaldo dos Anjos. O governador se posicionou contra a antecipação.
Ruptura
Já na eleição da Mesa Diretora da Ales em fevereiro de 2021 (na data correta), Erick foi novamente reeleito e contesta que tenha contado com o apoio do governo. Segundo ele, foi uma composição: o Palácio teria imposto algumas condições, como, por exemplo, ter na primeira e na segunda secretarias nomes da base aliada de Casagrande (Dary Pagung, líder do governo, na 1ª secretaria, e Coronel Quintino, na 2ª).
Erick afirmou, porém, que a composição “foi boa para o governo” porque, do contrário, haveria uma “ruptura”. “Fizemos uma composição, que foi boa para o governo, porque haveria uma ruptura. Eu disputaria a eleição e ele (Casagrande) sabia disso”.
O presidente contou também que recebeu convites para ser secretário de Estado em troca de não disputar a presidência da Ales. “Teve convites, de interlocutores do governador (para ser secretário). Chegaram a falar na (Secretaria) Agricultura, na pasta de Desenvolvimento Econômico. Mas eu fui eleito para ser deputado e tinha o apoiamento dos meus colegas. Eu nem abri essa hipótese (de ser secretário). Era candidato a presidente da Assembleia e iria disputar. ‘Ah, perdeu. Vai perder’, a vida é assim. Eu já perdi e ganhei eleição”.
Hoje, Erick diz que institucionalmente (na relação da Assembleia com o Governo do Estado) tem uma posição convergente, mas politicamente, diverge do governador Casagrande. Ele garantiu, porém, que sua pré-candidatura ao governo e suas estratégias políticas não irão prejudicar a votação de projetos importantes para a população do Estado. “O governo enviou para a Assembleia 102 projetos. Foram todos lidos, votados e aprovados”.
Na íntegra
Erick Musso detalhou como e quando começaram as divergências com o governador, também disse o motivo de querer pautar, logo quando as sessões retornarem, o projeto de congelamento do IPVA, falou sobre as candidaturas ao Senado do Republicanos, sobre as conversas que têm tido com outros pré-candidatos ao governo e com o ex-governador Paulo Hartung e sobre medidas que irá tomar neste ano, que é eleitoral, para evitar que recursos da Assembleia sejam usados com fins eleitorais.
A entrevista na íntegra está aqui: