Já começa a ganhar corpo nas redes sociais e nas arenas de debates a preocupação com o retorno das aulas presenciais marcado para a próxima semana. Na rede estadual, as aulas começam na próxima quinta-feira (03). Na rede municipal o retorno se dará entre os dias 4 e 8.
Na semana passada, o Vicariato para Ação Social da Arquidiocese de Vitória, por meio da Comissão de Promoção da Dignidade Humana, assinou um manifesto em que pede ao governo do Estado e às prefeituras que adiem o retorno das aulas presenciais.
Conforme noticiou a coluna, o manifesto cita a alta na taxa de transmissão e de casos confirmados de Covid pela variante Ômicron e pede o adiamento do retorno às aulas por quatro semanas ou até alcançar 70% da população infantil vacinada.
Embora a vacinação das crianças de 5 a 11 anos tenha iniciado há mais de duas semanas (começou no último dia 15) e já tenha disponível 100% das doses para todo o público-alvo (393.089 crianças), foram aplicadas até a tarde de ontem (29), 40.923 doses – segundo o painel do governo Vacina e Confia –, ou seja, apenas 10% do público-alvo. A lentidão da vacinação infantil – que pode estar sendo causada por desinformação de grupos antivacinas – preocupa os profissionais de Educação e Saúde.
Nas redes sociais, a epidemiologista e professora Ethel Maciel fez alguns alertas: “UTI’s pediátricas com aumento de internação em quase todo Brasil. O ideal seria o retorno das turmas acima de 12 anos já completamente vacinadas e aguardar até meados de fevereiro para avaliar a diminuição das infecções pela ômicron, antes do retorno das crianças não vacinadas”, escreveu em seu perfil do Twitter.
E acrescentou: “E ampliar a testagem. Acelerar a vacinação das crianças com campanhas educativas e exigir o comprovante de vacinação para estar nos ambientes comuns. Ou seja, a não ser que você estude isolado em seu quarto, você deve estar vacinado para frequentar a escola, um ambiente coletivo”, defendeu.
Servidores públicos também já se movimentam e fazem pressão. A presidente do Sindicato dos Servidores Públicos de Vitória (Sindsmuvi), Waleska Timóteo, disse que irá conversar com os profissionais de Educação já na primeira semana de fevereiro. O Sindsmuvi é a favor do adiamento da volta às aulas.
“Na nossa concepção, não é o momento de volta presencial, por conta do alto índice de transmissão da Covid. É importante avançar na vacinação. A tendência é termos muitos profissionais adoecidos num curto espaço de tempo, o que vai obrigar a suspender as aulas. Então, entre obrigar suspender as aulas e aguardar um tempo para ter a vacinação dessas crianças e ter um retorno mais seguro, a segurança coletiva prevalece. Vamos fazer um diálogo com os profissionais de Educação na primeira semana de fevereiro”, disse Waleska.
Aulas mantidas
Até o momento, as aulas estão mantidas. Na rede estadual, o retorno está marcado para o próximo dia 3. “Já está decidido, as aulas voltarão no dia 3. Será com todos os protocolos, cuidados, todas as escolas já estão orientadas. Compreendemos que a escola é um local que tem risco de contaminação, mas é mais seguro que muitos outros locais. Nós vamos avaliar semana a semana”, disse o governador Renato Casagrande.
Na rede municipal da Serra, o retorno presencial às aulas está marcado para o dia 4 e, segundo a assessoria da Prefeitura da Serra, está mantido. Em Vitória, Vila Velha e Viana, o retorno está marcado para o dia 7, também sem sinais de adiamento. Já em Cariacica, a volta às aulas será no dia 8. “Não teve nenhuma mudança”, disse o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio.
Ethel insiste que a discussão sobre o retorno ou não às aulas precisa ser aprofundada, a começar no governo federal.
“A discussão rasa é sobre abrir ou fechar escolas. Mas discussão deve ser: Onde estão as políticas públicas que possibilitem a abertura das escolas? Qual o plano do MEC? Qual foi o investimento para um plano de testagem para as escolas? Onde estão os filtros HEPA e painéis de Co2 que permitem a melhoria do ar nos ambientes escolares? Há distribuição de máscaras PFF-2 para trabalhadores? Em conjunto com a saúde, houve previsão de compra de medicamentos para intervenção em caso de síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica? Há um plano para ampliar a vacinação pediátrica? Respondidas essas perguntas nós podemos dizer se a educação é prioridade para o governo”, escreveu em seu Twitter.
Não deve demorar para que o debate comece, como tudo nesse país, a ser feito também por alas ideológicas e políticas. O Movimento Conservador do Espírito Santo já disse que é contra o adiamento das aulas presenciais, como também é contra a obrigatoriedade da vacina e o passaporte sanitário e já tem feito movimentações e manifestações sobre isso.
O pior dos mundos será tirar esse debate da arena científica e sanitária para transformá-lo num palanque político. As crianças, que estão no centro dessa polêmica, não merecem isso. Que o bom senso prevaleça!