O ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos (Rede) lotou ontem (30) o Centro Comunitário de Laranjeiras para o lançamento da sua pré-candidatura ao governo do Estado. Contou com a presença da família – chegou a filiar o filho Durval –, de muitos militantes, de representantes municipais de algumas siglas – como PSDB e Brasil 35 – e até com representantes caninos da causa animal – dois cachorrinhos acompanharam. Mas o Psol, a noiva de Audifax na federação, não foi.
E não foi por falta de convite. “Há duas, três semanas fiz uma reunião com o Psol e citei o evento. Disse para eles ficarem bem à vontade. A Camila ligou pra mim e disse que teria um evento no interior, foi a única pessoa que ligou”, disse Audifax.
Ontem ocorreu a conferência nacional do Psol que decidiu, entre outras coisas, que dará apoio ao ex-presidente Lula na corrida nacional e confirmou a federação com a Rede. Embora Audifax e seu partido digam que a candidatura do ex-prefeito é prioridade da federação, isso ainda precisa ser costurado melhor com o Psol que, hoje, não garante subir no palanque de Audifax.
“Nós avisamos o Audifax que não iríamos participar do lançamento da sua pré-candidatura e, hoje, a posição do Psol-ES é de não apoiá-lo ao governo, com base numa resolução estadual que nós temos. Nós temos também a prerrogativa da federação, de autonomia. Temos, por exemplo, a candidatura de Gilbertinho Campos ao Senado. Mas vamos dialogar”, disse Toni Cabano, presidente estadual do Psol.
Para Toni ficaria muito difícil estar no evento e compartilhar o palanque com o PSDB, por exemplo, que tinha a presidente municipal da Serra, Nilza Cordeiro, como representante. “Audifax precisa colocar pra gente quem são os aliados dele”, disse o presidente psolista que também afirmou que o posicionamento hoje do partido é de não pedir votos para Audifax. “Vamos ter uma reunião com a Rede na primeira quinzena de maio, para definir a coordenação da federação e a chapa proporcional”, disse Toni.
Audifax disse que respeita o “tempo” do Psol. “Eu tô muito tranquilo. Respeito eles (Psol), o tempo deles”. O casamento (meio forçado) resolve parte das dificuldades que Audifax tem hoje para levar sua candidatura adiante. Uma delas é a falta de tempo de TV, já que a bancada da Rede no Congresso é pequena. A presença do Psol também ajuda na formação das chapas – a meta é eleger ao menos um federal e três estaduais.
A federação também tira Audifax do isolamento político. Embora somente nas convenções o martelo será batido para definir alianças e composições, alguns pré-candidatos ao governo já estão anunciando apoios que estão recebendo de outras legendas. “Conversei com Vandinho (presidente estadual do PSDB), conversei com Guerino, com o PSD, Republicanos, PT, Psol… Para mim, isso é a arte da política. Até agosto vou trazer outras forças para esse projeto que não é um projeto pessoal”, disse Audifax.
De forma pragmática, a federação também ajuda o Psol. Nos cálculos internos do partido, com a federação, o Psol acredita que poderá eleger a vereadora de Vitória Camila Valadão a deputada estadual. Porém, a questão ideológica está travando um maior alinhamento entre as siglas.
Nacionalmente, essa questão já estaria resolvida. “A candidatura de Audifax é prioridade nacional da Rede e da federação. Juntamente com a candidatura do Amapá, vai ter total prioridade. É uma candidatura viável, ele já mostrou que é capaz. Já a questão da federação com o Psol está tranquila, foi constituída em nível nacional, nós já tomamos nossa decisão, a federação já foi aprovada e na próxima semana devemos protocolar no TSE”, disse o porta-voz nacional da Rede (o equivalente a presidente), Wesley Diógenes, à coluna “De Olho no Poder”.
Quanto ao envolvimento do ex-prefeito no projeto nacional, Diógenes disse que o Espírito Santo terá autonomia. “Estamos tratando o Espírito Santo, Minas Gerais e Paraíba de forma separada do contexto nacional. Colocamos no estatuto uma cláusula especialmente para os três, sobre suas táticas eleitorais, que não irão colidir com a fidelidade partidária”, esclareceu Diógenes.
“Nem Lula, nem Bolsonaro”
Durante seu discurso, Audifax quis se manter longe da questão ideológica e polarizada que toma conta do país. Disse que não seria governador para cuidar da ideologia das pessoas e que soube lidar, como prefeito, com os quatro últimos presidentes do País – Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro. “Não será nem Lula e nem Bolsonaro quem governará esse estado”.
“Atual governador não é gestor”
Boa parte dos quase 25 minutos de discurso, Audifax usou para criticar a atual gestão de Casagrande, afirmando que ele não é gestor. Levou dados que mostrariam deficiências em políticas públicas de segurança, economia e na área social. Disse que o Estado está “bombando” de dinheiro e que quer revolucionar a gestão pública. Prometeu montar a “melhor equipe de todos os tempos” e disse que está na hora da renovação.
Bilhete da causa animal
ONGs e representantes da causa animal estiveram em peso no lançamento de Audifax ao Palácio Anchieta, mas no discurso, o ex-prefeito precisou ser lembrado, por um bilhete, para falar sobre o tema. Alguns militantes da bandeira estavam acompanhados de seus pets no evento.
Aliás, muitos pré-candidatos à Assembleia e à Câmara Federal disseram que têm a proteção animal como bandeira – não se sabe se de fato ou por livre e espontânea pressão dos ativistas da causa.