Uma das principais lideranças do PTB no Estado – e que só não é presidente da sigla porque a Constituição proíbe militares da ativa de se filiarem, mas se considera “presidente de honra” –, o tenente do Corpo de Bombeiros Sérgio Assis descartou qualquer possibilidade de recuo na pré-candidatura ao governo de Carlos Manato pelo PL, partido que caminha com o PTB.
Ao responder sobre a possibilidade de uma dobradinha entre PL e Republicanos – muito debatida nos bastidores, principalmente em Brasília e São Paulo –, Assis questionou: “Como você tira um pré-candidato que está acima de 10% nas pesquisas para colocar um que está com 2%, 3%? É irracional! Com todo respeito a todas as candidaturas, mas não tem como. Não tem como Manato recuar para um candidato que está com 3%”, disse o militar, referindo-se à pré-candidatura de Erick Musso (Republicanos) ao governo do Estado.
O questionamento de Assis foi feito durante entrevista ao programa “De Olho no Poder com Fabi Tostes”, veiculado na última quinta-feira (26) na rádio Jovem Pan News Vitória (90.5 MHz). Assis repercutiu sobre a possibilidade da dobradinha entre PL e Republicanos com o objetivo de fortalecer um palanque único para Bolsonaro e não dividir o voto dos conservadores.
Isso, porém, traria consequências: a retirada de uma das candidaturas ao Senado e ao Governo de um dos dois partidos. Ou seja, se a aliança for fechada no Espírito Santo, não haveria palanque para dois candidatos ao Palácio Anchieta (Erick e Manato) e nem para dois candidatos ao Senado (Sergio Meneguelli e Magno Malta). “Isso é pouco provável que aconteça”, cravou Assis.
Agora, se a composição for em torno de Manato, aí a coisa muda de figura. Segundo Assis, Manato estaria conversando com outros partidos como Republicanos, Patriota e PSC e também com outros pré-candidatos ao governo, como o ex-prefeito Guerino Zanon (PSD). No entanto, até o momento, o grupo só contaria mesmo com PL e PTB. Já a pré-candidatura de Erick, tem o apoio do PSC, Patriota e do Agir.
Assis de vice na chapa?
Tenente Assis também contou que foi convidado por Manato para ser vice em sua chapa ao governo e que, de pronto, não aceitou. Mas disse estar disposto a repensar se for necessário. “Não é meu objetivo (ser vice-governador). Meu compromisso com o partido é a disputa a federal, a prioridade do PTB é eleger deputados federais, mas tudo isso pode ser negociado. Eu sou um soldado e o soldado não foge do combate. Se eu for convocado, se for necessário, coloco meu nome à disposição”, afirmou.
A possibilidade de mudar seu projeto original – que é disputar a Câmara Federal – não deve ocorrer sem antes Assis debater com o grupo que lhe apoia. “Participei de um plebiscito interno dos militares para ser pré-candidato a deputado federal, que é um anseio da tropa. Eu tive quase 80% dos votos, então não sou candidato de mim mesmo, sou candidato de um projeto. Para eu tomar uma decisão de não ser mais candidato a federal para ser vice-governador, preciso conversar com todo esse grupo que está nos apoiando, como as associações militares”, avaliou Assis.
Uma dobradinha na chapa ao governo entre PL e PTB, porém, diminui as chances de atrair novas legendas. Isso porque a vaga para disputar o Senado já está preenchida por Magno Malta (PL), sobrando apenas o posto de vice para negociar com outras siglas.
O tenente disse que tudo pode acontecer até as convenções. Questionado se haveria, então, a possibilidade do PTB não caminhar com o PL, ele descartou. “Acho muito difícil. Até porque o PL teve um papel muito importante na construção da chapa de federal, e uma coisa que temos é a lealdade. O Manato tem sido muito leal ao PTB, ao nosso grupo, e a gente tem sido muito leal à candidatura dele”. O PTB deu abrigo à deputada federal Soraya Manato, esposa de Carlos Manato, que vai disputar a reeleição.
Quem é conservador de verdade?
Na entrevista, Assis rechaçou o título de “verdadeiro partido conservador do Brasil” que o Republicanos tem dado a si mesmo durante as inserções partidárias e nos eventos da legenda. Disse que o título, na verdade, cabe ao PTB.
“Primeiro porque o PTB é o único partido que, de fato, é de direita e conservador no Brasil. No seu estatuto fala de Deus, da família, da pátria, da liberdade, da vida. O PTB, em 2020, proibiu coligações com partidos de esquerda, com PSDB, com o antigo DEM e com partidos do Foro de São Paulo. O Republicanos não tem isso, aceita até coligações com o PT em alguns estados. Então não pode falar que é um partido verdadeiramente conservador”, justificou Assis.
O militar foi questionado sobre o motivo das mudanças no estatuto do partido comandado, indiretamente, por Roberto Jefferson, mas disse que o PTB não mudou a linha só por causa de Bolsonaro. “A primeira mudança do partido ocorreu em 21 de abril de 2018”. Assis disse ainda que todos os filiados ao PTB são conservadores e que, entre os políticos que se consideram desse polo ideológico, os que sempre foram fiéis a Bolsonaro seriam ele, Manato e Magno Malta. “A gente sempre se manteve fiel, já os outros candidatos, nunca percebi isso da parte deles”.
Liberdade de expressão x liberdade de retaliação
Assis também foi questionado sobre uma das principais bandeiras do conservadorismo que é a liberdade de expressão e se essa não seria garantida, pelo grupo, apenas para aqueles que têm a mesma ideia, sendo reservada para os opositores a “liberdade de retaliação”.
Na semana passada, a dona de um restaurante foi atacada nas redes sociais, com campanha de boicote à avaliação e à reputação do seu estabelecimento, após criticar Bolsonaro e seus apoiadores. Assis chegou a publicar, em suas redes, uma postagem dizendo que a empresária deveria voltar para o seu país natal, a Argentina. “Da mesma forma que ela se expressou eu também, nas minhas redes, tenho a liberdade de me expressar. Se ela se sentiu ofendida por alguma manifestação, que ela busque os caminhos legais”, defendeu Assis.
Ele também citou o caso do deputado federal e correligionário Daniel Silveira como exemplo e criticou a forma de condução do caso pelo STF. Também explicou o motivo do deputado ter faltado ao evento dos “Leões conservadores” no Estado.
Todos bolsonaristas?
Questionado se a maior parte dos militares se alinha ao bolsonarismo, Assis disse que sim. “Até por questão de identidade. A maioria dos militares são conservadores e de direita. Até porque quando você escolhe ser militar tem esse viés. São poucos os militares de esquerda no Brasil e no Espírito Santo”.
Na íntegra
Assis também falou sobre a situação do PTB no Espírito Santo, afirmando que agora o partido está pacificado – após as turbulências das várias trocas de comando na sigla –, falou sobre as bandeiras que o grupo vai defender na campanha, sobre suas impressões com relação às pesquisas presidenciais, sua vocação para ser bombeiro – chegou a se emocionar ao contar sua história de vida – e também compartilhou sobre seu hobby de criar cachorros. A entrevista na íntegra pode ser vista aqui: