Durante o programa “De Olho no Poder”, veiculado na quinta-feira (12) na rádio Jovem Pan News Vitória (90.5 MHz), a vereadora de Vitória Camila Valadão (Psol) relatou a dificuldade que seu partido teria em apoiar a candidatura ao governo do ex-prefeito Audifax Barcelos (Rede). Os dois partidos devem caminhar juntos por força da federação formada no plano nacional.
Camila citou a falta de diálogo no fechamento da federação, criticou as lideranças nacionais do próprio partido por negociarem a pré-candidatura de Audifax sem ouvir os dirigentes capixabas, falou da dificuldade do Psol em subir num palanque que não quer se envolver no debate nacional e que deve coligar com outras legendas que sempre estiveram no campo oposto ao do partido. Isso sem contar as diferenças ideológicas e partidárias que se somam no rol dos embaraços do “casamento arranjado”, como a vereadora classificou a união entre os dois partidos.
A vereadora disse que ainda aguarda uma direção da cúpula nacional do seu partido para chegar a um consenso sobre os arranjos no Espírito Santo e que, hoje, o clima interno é de resistência a pedir votos para Audifax. Embora crie um clima ruim logo no início do relacionamento – uma vez que os dois partidos são obrigados a ficar juntos durante quatro anos – a recusa do Psol em apoiar Audifax não estaria preocupando o ex-prefeito. Pelo contrário. Interlocutores de Audifax avaliam que o distanciamento do Psol pode ajudá-lo na construção de alianças e até na votação.
Ao contrário do Psol, Audifax nunca disse, publicamente, que se sentia desconfortável em fechar uma aliança com o partido. Em entrevista para a coluna, ele disse que o Psol não é um partido que ele tenha vergonha e que havia pontos de convergência entre as duas siglas, como a pauta ambiental, da ética e da questão social.
Em todos os seus pronunciamentos, Audifax sempre sai pela tangente quando é questionado sobre as diferenças ideológicas entre ele e o Psol. Tem dito em seus discursos que seu governo estará acima do debate “esquerda e direita” e que não vai atrelar sua campanha ao debate (polarizado) nacional. Além disso, desde o início das conversações, Audifax também sempre defendeu a federação.
E o motivo de tal defesa é só um: Audifax é pragmático. Ele quer ser governador e para isso precisa apresentar uma campanha competitiva. E ele sabe que não se faz uma campanha competitiva sem visibilidade e recursos. Audifax tem a Rede na mão, mas o partido – embora trate sua candidatura como prioritária – não tem todo o dinheiro e o tempo de TV necessários para competir contra a máquina do governo do Estado, nem contra a máquina da Prefeitura de Vitória associada à máquina da Assembleia, nem contra a máquina financeira dos maiores partidos do país.
Federado ao Psol ele pode até não contar com a transferência de muitos recursos ou de recurso nenhum, mas terá mais tempo de TV e rádio para levar seu nome e suas propostas principalmente para fora da Grande Vitória. E esse é o ponto que o interessa.
Não ter os militantes do Psol no palanque e nem pedindo votos nas ruas para sua candidatura pode até sinalizar um embaraço para a federação nacional, mas não necessariamente significa prejuízo para a campanha de Audifax.
Aliados do ex-prefeito avaliam que isso pode até ajudá-lo, uma vez que parte do seu eleitorado é formada por eleitores evangélicos, conservadores e de direita, e que estão torcendo o nariz para a federação com o partido de esquerda. Embora a Rede faça parte do mesmo campo político, Audifax nunca levou seu mandato pelo viés ideológico, não sai endossando os posicionamentos do partido no plano nacional e passa longe das polêmicas que tendem a polarizar.
Esse afastamento também ajudaria Audifax a fechar algumas coligações. Um dos motivos citados pelo presidente do PSDB capixaba, deputado Vandinho Leite, como impedimento de uma aliança com Audifax é justamente a federação com o Psol. O outro motivo é não ter espaço para indicar o nome na chapa majoritária. PSDB quer indicar o nome ao Senado. Mas o Psol também reivindica essa indicação.
E talvez seja esse o ponto que pode gerar dor de cabeça ao ex-prefeito. Se por um lado a falta de apoio pode ser ignorada por Audifax e pela Rede capixaba, a vaga na chapa para o Senado tem tudo para acirrar os ânimos dentro da federação. O Psol, que teve de recolher seu candidato ao governo, não quer abrir mão também do Senado. Por outro lado, a vaga de Senado é o principal atrativo de Audifax para trazer outras legendas para a sua campanha.
Na próxima quarta-feira (18) está prevista a vinda de dirigentes nacionais do Psol para tratarem sobre os arranjos da federação no Estado, que vão desde a composição das chapas para estadual e federal até a postura do partido com relação ao governo e ao Senado. O impasse está posto, mas o jogo está só começando.