Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira (01), o ex-governador Paulo Hartung disse não ser impossível romper com a polarização, defendeu a candidatura da presidenciável Simone Tebet (MDB) e alfinetou o governador Renato Casagrande (PSB). Hartung também sinalizou que não deve mais disputar eleições.
“É muito importante saber a hora de encerrar o ciclo e eu estou satisfeito com os meus ciclos de participação eletiva”, disse ele, afirmando, porém, que não vai se distanciar do debate e das pautas políticas – Hartung assinou, e chegou a citar, a “Carta aos Brasileiros e Brasileiras em Defesa ao Estado Democrático de Direito” e garantiu que vai continuar a atuar na formação de novas lideranças.
A resposta veio após ele ser questionado sobre a cotação de disputar a Presidência da República pelo PSD, a convite do presidente da legenda, Gilberto Kassab, e se havia uma frustração com relação à política. “Quero agradecer ao Kassab pelas palavras generosas”, disse Hartung, citando que já pensava em se aposentar das urnas em 2010, mas que “teve uma recaída” em 2014.
Em sua primeira aparição pública sem óculos – após 30 anos, os óculos foram aposentados com uma cirurgia de catarata –, Hartung disse enxergar na candidatura de Simone a alternativa para romper a polarização Lula-Bolsonaro e colocar o país no trilho: com reformas e priorização da gestão fiscal – seu lema desde o último governo à frente do Espírito Santo.
Disse, porém, que ficou chateado em ver a oposição e a própria Simone votando a favor da PEC Kamikase. Ele evitou usar o termo “Terceira Via”, substituindo-o por “Centro Expandido”, sem detalhar, porém, como o “Centro Expandido” vai conseguir se viabilizar a dois meses da eleição. “Quebrar uma polarização não é fácil, mas não é impossível”.
Questionado duas vezes, Hartung evitou citar as diferenças entre Lula e Bolsonaro e disse que não concorda com algumas propostas do petista. “O ex-presidente assumiu um caminho muito distante daquilo que eu vejo como necessário para transformar o potencial do nosso país em oportunidades para o nosso povo. Respeito as posições, eu sou um democrata, mas divirjo. Não é esse o caminho que o país precisa (…) O que está sendo discutido é pegar um retrovisor e olhar para trás”.
Foi enfático em dizer que “não há salvador da Pátria” para o país e que a sociedade precisa se envolver nas mudanças, que não há democracia interna nos partidos e sim “oligarquias” e citou, por várias vezes, suas experiências no Estado – chegando ao ponto da apresentadora Vera Magalhães interrompê-lo para que voltasse a falar das questões nacionais.
Hartung foi questionado também sobre o motim da PM em 2017, um dos episódios mais emblemáticos e delicados do seu terceiro mandato de governador. Defendeu a valorização dos agentes de segurança, mas disse que “valorizar policiais não é tolerar atos ilegais”. Criticou o Poder Legislativo pela concessão de anistias e também Casagrande. “Eu puni. O meu sucessor depois anistiou, erradamente. Foi um tiro no pé”, disse o ex-governador.
Ele se referiu aos mais de mil processos abertos contra policiais que participaram do movimento, alguns foram expulsos da corporação, e também à mudança na lei sobre a regra de promoção dos policiais, promovidos durante seu governo, mas que não foram adiante com a entrada de Casagrande.
Hartung analisou a participação ativa de agentes das Forças Armadas em cargos no governo federal e em debates políticos. “As Forças Armadas vinham num bom caminho. Desandou nos últimos tempos”. Defendeu um programa robusto de transferência de renda para os mais pobres e disse ter esperança que o Brasil vai encontrar seu rumo.