O governador e candidato à reeleição Renato Casagrande (PSB) disse não ter nenhum problema com o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), mas que o gestor teria feito uma “declaração irresponsável” sobre ele. “Prefeito Pazolini deu uma declaração irresponsável com relação à minha pessoa. Ponto. Mas institucionalmente, nada que a prefeitura precisar eu negarei. Espero que seja esse também o comportamento dele”, disse o governador.
A declaração foi dada durante a sabatina promovida pela TV Vitória na noite desta terça-feira (20). O governador foi questionado sobre a relação conflituosa com o prefeito de Vitória e sobre até que ponto isso não prejudicaria a população da capital. Num passado recente, os conflitos entre o ex-prefeito de Vitória Luciano Rezende e o ex-governador Paulo Hartung fizeram empacar alguns investimentos na capital.
“Eu não tenho nenhum problema com o prefeito Pazolini. Nunca tive. Nunca neguei nada à Prefeitura de Vitória. O prefeito Pazolini não quis o Centro de Inteligência da Polícia Técnica aqui em Vitória. O prefeito Euclério (Cariacica) nos cedeu. Se alguma coisa o prefeito não deseja, nós buscamos outro caminho. Eu não tenho nenhum problema com o prefeito”, disse o governador, frisando que não há problema “institucional”.
As divergências entre o governador e o prefeito vem desde o início do mandato municipal, no ano passado. Na verdade, Pazolini já fazia oposição a Casagrande na Assembleia, quando era deputado estadual. Ele chegou a fazer parte do G-6 – o grupo de seis deputados da oposição, que eram: Capitão Assumção (PL), Torino Marques (PTB), Vandinho Leite (PSDB), Carlos Von (DC), Danilo Bahiense (PL) e Pazolini. Atualmente, Vandinho não é mais da oposição, foi para a base aliada e coligou com Casagrande.
Foi durante o período mais crítico da pandemia no ano passado, entre os meses de março e abril, que as divergências entre os dois se acirraram. O governador determinou o fechamento do comércio. O prefeito, num evento, disse ser a favor da abertura do comércio e, na Câmara de Vitória, sua base aliada protocolava e fazia avançar projetos que flexibilizavam as medidas restritivas.
Depois, ainda no escopo da pandemia, o imbróglio foi com relação ao retorno das aulas presenciais. O governo tinha uma data, que seria seguida por escolas estaduais e municipais, mas Pazolini tinha outra data em mente.
Também não houve consenso sobre a cessão de um terreno para a construção da Polícia Técnico Científica, algo que já tinha sido acordado entre o governo e o ex-prefeito Luciano Rezende. A unidade de segurança foi para Cariacica.
Ainda na área de segurança, policiais chegaram a reclamar que não estavam tendo acesso às imagens das câmeras do circuito interno da capital, geridas pela Guarda Municipal. As imagens, até então, eram compartilhadas. O governo também não quis fazer parte de uma força-tarefa capitaneada pela Polícia Federal e pela Prefeitura de Vitória para combater os crimes na região metropolitana, o que gerou muitas críticas por parte do prefeito. Governo afirmou, na época, que já tinha o Estado Presente para essa finalidade.
E as arestas não pararam por aí. Depois veio a confusão das licenças ambientais em obras tocadas pelo governo do Estado na capital, como a Rodovia das Paneleiras e o Aquaviário. Ontem, Casagrande chegou a ser questionado sobre a obra do Aquaviário. Ele garantiu que sai nesse ano ainda e comentou sobre o impasse com a prefeitura: “Não foi um impasse, a prefeitura não liberava. Chegou o ponto que a prefeitura liberou”.
Quando o caldo entornou
Mas, até então, mesmo capengando, a relação era tolerada. O que fez o caldo entornar de vez foi a denúncia, feita num evento público da prefeitura em maio passado, onde Pazolini insinuou que o governador estaria envolvido em corrupção.
Durante cerimônia de entrega de uma escola municipal em Jardim Camburi, Pazolini disse que foi convidado para uma reunião num palácio no centro da cidade e que uma autoridade falou para ele que teria interesse em investir em Vitória, mas que havia um porém. “A licitação tinha ganhador. Essa reunião se encerrou no momento em que eu bati na mesa e levantei”, disse à época, afirmando ter provas da suposta fraude em licitação do governo, mas sem apresentá-las.
Pazolini levou a denúncia para a Polícia Federal que, por sua vez, a encaminhou para a Procuradoria Geral da República (PGR) com pedido de autorização para investigar autoridade com foro privilegiado. Até o momento, a Polícia Federal não recebeu resposta da PGR. A fala de Casagrande na sabatina, chamando de irresponsável uma declaração do prefeito, leva a crer que ele estava se referindo a esse episódio.
“Não tenho nenhuma disputa com o prefeito de Vitória, sou uma pessoa que respeita as instituições. Nós temos em Vitória obras importantíssimas: terminamos a (avenida) Leitão da Silva, o Portal do Príncipe, estamos fazendo a Rodovia das Paneleiras, tem a Terceira Ponte, temos dois Centros de Referência da Juventude, estamos fazendo convênios para poder construir escolas. Então, da minha parte, não tem. O que tem é uma postura da prefeitura de não aceitar alguns investimentos do governo”, alegou Casagrande.
Questionado, então, porque os dois nunca aparecem juntos nos eventos públicos, o governador respondeu: “Sempre que sou convidado para alguma atividade da prefeitura, eu vou. Mas eu tenho convidado o prefeito para as atividades do governo, mas ele tem outros compromissos. Mas não tem nenhum problema, eu sou uma pessoa de fácil acesso”.
No dia 7 de Setembro, quando foi comemorado os 200 anos de Independência do Brasil, o prefeito não compareceu ao desfile cívico-militar promovido pelo governo do Estado na Beira-Mar. A assessoria do prefeito Pazolini foi questionada sobre as declarações do governador, mas preferiu não se manifestar.
A sabatina completa pode ser conferida aqui: