A votação histórica alcançada pela vereadora Camila Valadão (Psol), que além de a eleger à Assembleia ainda lhe concedeu o título de mulher mais votada na história do parlamento capixaba, também rendeu à vereadora uma estatura que poucos políticos alcançam no início da carreira.
Sem campanha casada, sem a presença de figurões e com poucos recursos, Camila alcançou 52.221 votos com mobilização nas ruas e nas redes sociais, num trabalho orgânico de “formiguinhas multiplicadoras” que, agora, será usado na campanha para tentar reeleger o governador Renato Casagrande (PSB) e levar Lula (PT) de volta à Presidência da República.
Camila não faz parte da coligação de Casagrande. Seu partido está federado com a Rede, que teve a candidatura ao governo de Audifax Barcelos – terminou a disputa em quarto lugar. Ainda assim, ontem (06), quatro dias após a eleição, Camila publicou em suas redes sociais uma declaração de apoio ao governador dizendo já estar “em campo” para a batalha. E não foi da boca pra fora.
Durante a tarde ela disparou convites para uma plenária que aconteceria à noite. Foi uma reunião do Comitê “Vote pelo amanhã” para traçar estratégias para a campanha de segundo turno. O comitê foi criado pelo Psol para atuar na campanha de Camila e foi ampliado agora para atuar no segundo turno.
Camila lotou o Bar da Zilda – no Centro de Vitória, onde ocorreu a reunião – e fez uma fala efusiva e de encorajamento aos militantes. Fez uma explanação sobre o cenário nacional, sobre estratégias que podem ser usadas no segundo turno, chegou a admitir que assistiu, nessa semana, lives de Eduardo Bolsonaro para conhecer as táticas que seriam usadas pelo bolsonarismo na campanha.
Citou que muitos eleitores ficaram amedrontados e tímidos no primeiro turno, temendo virar alvo de represálias por expor o voto ou adesivar o carro. “Quem aqui estava com medo? Essa é a estratégia bolsonarista. Não podemos mais cair nessa. Não temos que ceder à política do terror”, disse, sendo interrompida por aplausos.
Camila foi adesivada com o número de Casagrande e Lula e pediu votos, distribuiu tarefas, montou grupos de trabalho para coordenar a mobilização nas ruas e nas redes sociais. “Nossa tarefa será ir em busca dos votos de Ciro e Tebet”, afirmou. Ela também enfatizou que os acordos institucionais que têm sido feitos – com prefeitos, deputados e outras lideranças –, embora importantes, não são suficientes. “Só isso não nos levará à vitória eleitoral. Será a nossa mobilização: é rua e rede!”.
Em conversa com a coluna, Camila disse que partiu do comitê a iniciativa de fazer a plenária e que não recebeu nenhum pedido do governador. Militantes de partidos mais ideológicos como o Psol costumam ser mais engajados e automotivados.
“Foi uma iniciativa nossa para mobilizar movimentos, a base, com atividades diversas, estratégia de financiamento coletivo para produzir materiais, fazer ações nesse sentido. Vamos ter GTs de trabalho para comunicação, dados, coisas que já fazemos, mas que muitos partidos tradicionais não estão acostumados. Vamos usar a mesma metodologia que nos deu a vitória nas urnas”, disse Camila. Ela disse ter ficado surpresa com a quantidade de pessoas na plenária.
Vídeos de apoio
Ontem também começaram a pipocar vídeos de deputados e lideranças aliadas do governo pedindo voto para Casagrande. Alguns, porém, visivelmente incomodados e já se antecipando com explicações na legenda sobre o motivo da gravação – o temor de represálias de bolsonaristas pode explicar a postura. Comparada à iniciativa intrépida de Camila, a “timidez” de alguns aliados chama a atenção.
Mais cedo, muitas postagens pedindo voto em Casagrande e em Bolsonaro apareceram nas redes, conforme noticiou a coluna. É fato que o eleitor capixaba lançou moda em 2018 ao votar majoritariamente em Bolsonaro e em Casagrande. No primeiro turno neste ano também, embora numa expressão de votos menor. Mas é inédita a ação de aliados de Casagrande de postarem fotos com os dois (governador e presidente) juntos nas redes sociais.
“Iríamos cobrar providências”
Camila Valadão também comentou sobre a decisão de Audifax de deixar a Rede e apoiar o candidato ao governo Carlos Manato (PL). Ela disse que já estava preparada para cobrar da federação providências sobre a postura de Audifax, após a Rede ter definido nacionalmente não apoiar candidatos ligados a Bolsonaro.
“A Rede tem uma posição nacional: não apoiar candidatos aliados a Bolsonaro. Estávamos esperando o posicionamento do Audifax, pois iríamos cobrar da direção nacional para que tomasse providências. Mas ele se antecipou e decidiu sair da Rede, o que foi mais coerente para ele”.