“Não há rusgas”, diz Rigoni sobre relação com Ricardo Ferraço

O deputado federal Felipe Rigoni (União), que mergulhou após a eleição de segundo turno, foi anunciado pelo governador Renato Casagrande (PSB) como o futuro secretário de Meio Ambiente da gestão que se inicia na próxima segunda-feira (02).

Ele atuará, de forma mais próxima, com o vice-governador eleito, Ricardo Ferraço (PSDB), que além de assumir a Secretaria de Desenvolvimento, terá um papel de coordenador das ações das pastas de Agricultura e Meio Ambiente. O que, para os observadores mais atentos da política capixaba, não deixa de ser inusitado.

Isso porque, no início do ano, Rigoni e Ricardo se desentenderam e cada um foi caminhar para um lado, pelo menos até a campanha para o 2º turno da eleição. As divergências entre os dois começaram em fevereiro, quando DEM e PSL se juntaram e formaram o União Brasil. Havia um acordo informal para que Ricardo Ferraço, que era presidente do DEM, ficasse no comando da nova legenda. Mas isso não ocorreu.

Rigoni deixou o PSB e se filiou ao novo partido e, após uma articulação nacional, o União entregou o comando da legenda para Rigoni. O partido também deu aval para que Rigoni tocasse a candidatura ao governo do Estado, o que ia contra os planos de Ricardo, que tinha pretensão de levar o partido para apoiar Casagrande, investir nas chapas de estadual e federal e se viabilizar como vice, na chapa.

Sem acordo, Ricardo deixou a legenda, com críticas a Rigoni, e voltou para o PSDB. No período das convenções partidárias, ele foi confirmado como vice na chapa do governador. Já Rigoni recuou da candidatura ao governo, tentou a reeleição na Câmara Federal e se aliou ao Republicanos, apoiando oficialmente Erick Musso ao Senado e nenhum governador. Rigoni não foi reeleito.

O apoio de Rigoni a Casagrande veio no segundo turno com uma defesa enfática do governador que viria a pautar todo o restante da campanha. E em novembro, segundo Rigoni, veio o primeiro convite para fazer parte do novo governo Casagrande. Ricardo teria participado do convite a Rigoni, que primeiro foi para a pasta de Ciência e Tecnologia, e de toda negociação para levá-lo para o 1º escalão.

Questionado se tinham feito as pazes, Rigoni disse que não chegou a ter uma briga, apenas divergências de projetos. “Não teve nada pessoal, era uma diferença de projeto. Eu queria ser candidato a governador, ele não concordava com esse projeto e saiu. Não teve briga, nem mágoa, nem rusgas. Minha relação com ele é ótima. Ele será um excelente vice-governador e vai tocar a pauta de Desenvolvimento da forma mais ampla possível”, disse Rigoni em entrevista à coluna De Olho no Poder. Ele também contou para a coluna sobre as negociações, até aceitar o convite, e qual será sua prioridade à frente do Meio Ambiente. Leia na entrevista abaixo:

DE OLHO NO PODER – Como foi a negociação até você ser anunciado na pasta de Meio Ambiente?

FELIPE RIGONI – Eu tinha decidido não estar no setor público durante um tempo. Decidi um pouco após a eleição, avisei o governador. Fiquei honrado pelo convite que ele tinha me feito (para Ciência e Tecnologia), mas eu estava decidido a ir para o setor privado. Aí ele e o Ricardo me chamaram para uma outra conversa que me animou muito. Eles apresentaram um projeto inovador no governo que me balançou. Não posso negar que gosto do setor público. Passei uns dias pensando e ontem (terça) aceitei. É uma pasta de muito desafio, com uma pauta bastante viva, que eu já estava tocando no gabinete compartilhado da Câmara Federal.

Quando foi feito o primeiro convite para você integrar o governo? Foi durante a campanha?
Não, foi em novembro.

Você chegou a ser convidado para a pasta de Ciência e Tecnologia. Por que não aceitou?
Não foi pela pasta, adoro ciência e tecnologia, navego muito bem. Mas nessa época (do convite) queria ir para o setor privado.

O que te fez recuar e aceitar comandar a pasta de Meio Ambiente?
É um desafio novo, que me animou muito. É a pauta do século, não tem outra. E na conversa com ele (Casagrande) e com o Ricardo, fiquei animado com o que eles querem fazer, eles me resgataram.

Houve convite para você atuar no governo de São Paulo?
Rolou uma sondagem, mas nunca chegou a concretizar para um convite. O Tarcísio (governador eleito) sondou e fez sua escolha por um cara muito bom. Seria para a pasta de Ciência e Tecnologia.

Você e Ricardo Ferraço tiveram algumas rusgas no passado e agora vão trabalhar juntos. Fizeram as pazes?
Não teve nada pessoal, era uma diferença de projeto. Eu queria ser candidato a governador, ele não concordava com esse projeto e saiu. Não teve briga, nem mágoa, nem rusgas. Minha relação com ele é ótima. Ele será um excelente vice-governador e vai tocar a pauta de desenvolvimento da forma mais ampla possível. Porque não tem jeito, o desenvolvimento, daqui pra frente, é sustentável. Então, nós vamos ter uma interlocução bastante forte.

Não deixa de ser inusitado vocês estarem juntos no mesmo projeto…
É, ué. O projeto agora está alinhado. Na época não estava, agora está. Foi só diferença de projeto, não chegou a ter mágoa.

E com relação aos seus projetos futuros, a aliança que fez com o Republicanos?
Não cheguei a pensar em nada disso. Estou tomando pé de como está a secretaria, quero entregar o melhor projeto possível. Essa questão partidária não cheguei a analisar.

Erick Musso e Felipe Rigoni / crédito: Leo Duarte

Como está a relação com o presidente da Assembleia, Erick Musso?
Muito boa, de parceria. Mas faz tempo que não falo com o Erick.

Ele vem para o governo também?
Não sei.

Continua como presidente do União Brasil?
Sim.

E quais serão as prioridades na pasta de Meio Ambiente?
O caminho está um pouco dado pela pauta nacional e global. É o plano de descarbonização da economia capixaba, tendo parceria com indústria e com setores ambientais, o que pode levar o Espírito Santo para uma liderança nacional e internacional sobre o assunto. Uma outra questão, é acelerar o projeto Reflorestar, que é um projeto muito bom. Vamos estudar maneiras, com os servidores, de acelerá-lo, porque a Mata Atlântica capixaba é um ativo que a gente não compreende o seu tamanho. Fazer o reflorestamento, a recuperação e o aproveitamento do que já existe é bem importante. Desde a parte turística quanto científica.
Outro ponto é a gestão dos parques, como aproveitar de forma turística. Outra pauta importante é a modernização do licenciamento. Já está em andamento no Iema um sistema novo para conseguir fazer o licenciamento responsável cada vez mais rápido. Porque o empreendedor não tem medo de tomar ‘não’, ele tem problema com a demora. Então, vamos estudar maneiras de acelerar os processos sem tirar nenhum critério ambiental e sustentável. É um desafio que o Iema já está tratando.
Ah, outra pauta importante é a recuperação e preservação das nascentes. O Espírito Santo tem perdido muitas nascentes por uma série de razões.

Será candidato a prefeito em 2024?
Não.

E em 2026, vai se candidatar?
Aí eu não sei. Já é muito tempo (risos).