Demonstração de força na criação de força-tarefa contra atos golpistas

Crédito: Helio Filho

A foto do gabinete do governador Renato Casagrande lotado com representantes de Poderes, das forças de segurança e de inteligência estaduais e federais, das Forças Armadas e de lideranças civis foi uma demonstração de força.

Os discursos dos representantes presentes, todos numa só direção, passaram a mensagem de união. A postura de todos na assinatura da criação de um gabinete de crise estampa uma única coisa: que ninguém vai tolerar atos golpistas no Estado.

O superintendente da Polícia Federal no Estado, delegado Eugênio Ricas, prometeu investigações rigorosas. A procuradora-geral de Justiça do Estado, Luciana Andrade, disse que o Ministério Público não vai se intimidar, seja quem for que tiver de ser investigado.

O presidente do Tribunal de Contas do Estado, conselheiro Rodrigo Chamoun, garantiu que fará doer no bolso as sanções aplicadas para agentes públicos que, por ação ou omissão, contribuírem para os ataques à democracia e causarem prejuízo ao erário. Prometeu um “corredor exclusivo” para que as ações dessa natureza sejam céleres.

A criação do gabinete – que vai funcionar como uma grande força-tarefa com diversos atores para prevenir, monitorar e combater atos antidemocráticos – não foi motivada por um fato específico no Estado. Não houve no Espírito Santo, pelo menos até agora, nenhuma ameaça detectada de ataques às instituições ou a autoridades. Mas, segundo Casagrande, os atos de domingo deixaram todos em alerta.

“Vimos pessoas pedindo o descumprimento do resultado eleitoral. Isso foi tolerado porque não tinha violência, mas quando passou a ter violência, como no dia 8 de janeiro em Brasília, aí já extrapolou todos os limites. Nós não temos nenhum fato aqui que possa indicar atos de violência, mas como isso tem acontecido em outros estados é natural que fiquemos atentos, alertas”, explicou Casagrande.

O gabinete é também uma forma do governo não ser pego de surpresa. Questionado sobre se houve falha na segurança do governo federal e quem seria o responsável, Casagrande respondeu: “Falha houve. Se foi uma falha da Polícia Militar do DF, se foi uma falha da Força Nacional de Segurança, se foi uma falha do Exército Brasileiro, a investigação vai apontar”.

Presos em Brasília

Nem o governo do Estado e nem a Polícia Federal souberam precisar quantos capixabas estão presos em Brasília após os ataques nas sedes dos Três Poderes. A princípio, não há sinalização de que eles sejam transferidos para o sistema prisional do Estado.

Recado direto

“Não vamos nos intimidar. Não importa a função que a pessoa exerça, não importa a ação que ela pratique, o Ministério Público estará em pé e às ordens para agir”. Da procuradora-geral de Justiça do Estado, Luciana Andrade, na solenidade da criação do gabinete.

Conforme noticiado ontem pela coluna De Olho no Poder, a Ouvidoria do Ministério Público, em pouco mais de 48 horas, recebeu mais de 100 denúncias citando capixabas que teriam participado de alguma forma dos atos antidemocráticos de domingo passado.

Testemunha

O superintendente da Polícia Federal no Espírito Santo, delegado Eugênio Ricas, estava como adido da PF nos Estados Unidos quando apoiadores do ex-presidente Trump invadiram o Capitólio – o Congresso norte-americano. Ele comparou o episódio com os ataques aos Três Poderes em Brasília.

“Milhares de pessoas invadindo o Congresso americano, cinco mortos, mais de 50 policiais feridos, foi uma coisa horrorosa. Ninguém imaginava aquilo numa democracia sóbria, secular como nos Estados Unidos”, disse Ricas. Ele elogiou a criação do Gabinete de Crise e disse qual será o papel da PF.

“É preciso que as instituições deixem claro que ataques à democracia não serão aceitos em hipótese alguma. Essa é a mensagem da Polícia Federal: nós não vamos aceitar nenhum tipo de ataque à vontade popular, à democracia. Atos criminosos que atacam a democracia serão rigorosamente investigados”, avisou.

Pois é, né…

O defensor-público geral do Estado, Gilmar Batista, fez uma ressalva importante durante a solenidade de criação do Gabinete de Crise para combater atos antidemocráticos. Ele lembrou que os movimentos não começaram agora, fazendo uma crítica velada à tolerância de falas e pequenos gestos antidemocráticos.

“Esses movimentos antidemocráticos não surgiram de uma hora pra outra, eles foram crescendo ao longo desses quatro anos até chegar onde chegou no dia 8 de janeiro. Então, o fato de estar criando um comitê de crise é justamente um aprendizado que nós tivemos. Temos que ficar atentos a esse tipo de conduta para se combater já no início e não deixar que ela cresça e atinja o tamanho que atingiu no dia 8”, disse Gilmar, que também pediu um combate maior das instituições às fake news.

“O crescimento desse movimento veio por meio de notícias falsas. Devemos ficar atentos para que as fake news não levem a população ao engano”, alertou.

Ausência sentida

Em meio à presença de tantas autoridades e representantes de diversos órgãos, apenas a Assembleia Legislativa não se fez presente na assinatura do decreto para o Gabinete de Crise. Segundo o governo, a Ales foi convidada para participar da cerimônia, mas o presidente Erick Musso não foi e nem enviou representante.

Abin presente!

Até a Abin – Agência Brasileira de Inteligência – vai fazer parte do Gabinete de Gestão de Crise. O superintendente da Abin no Espírito Santo, Delanne Novaes de Souza, esteve presente na solenidade.