Foram 26 votos a favor. Um nulo e apenas um contra. A votação do chefe da Casa Civil do governo do Estado, Davi Diniz, para a vaga de conselheiro do Tribunal de Contas mostrou o prestígio do secretário, que está há cinco anos na articulação do Palácio Anchieta com a Assembleia.
Diniz sempre foi bastante respeitado entre os parlamentares e não somente os da base aliada. Deputados da oposição já o elogiaram pela facilidade no diálogo, tanto que Diniz conseguiu conversar durante a “campanha” com todos os parlamentares e ainda reverteu dois votos.
Na semana passada, quando sua inscrição foi feita, Diniz tinha o apoio de 25 deputados. Entre eles, Sergio Meneguelli (Republicanos), que tem postura independente na Casa; Hudson Leal (Republicanos), que era um dos maiores entusiastas da eleição de um deputado, e Alcântaro Filho (Republicanos) que faz parte da oposição. “Entendo que Davi tem capacidade pra ocupar o cargo”, disse Alcântaro à coluna, na ocasião da assinatura da lista de apoio.
Cinco deputados não assinaram a lista – Callegari (PL), Danilo Bahiense (PL), Lucas Polese (PL), Coronel Weliton (PRD) e Capitão Assumção (PL). Todos da oposição. Mas, destes, Diniz conseguiu reverter o voto de dois.
Isso porque, dos 25 apoiadores, um não votou, no caso o deputado Theodorico Ferraço, que até acompanhou a sessão virtualmente, mas como o voto era presencial e secreto, ele não participou do momento da votação por não estar na Assembleia.
Então, da lista, presume-se que Diniz obteve todos os demais 24 votos e dos quatro que não assinaram a lista e estavam presentes na votação – Capitão Assumção (PL) estava ausente por estar preso –, dois votaram nele.
Um deles foi Callegari.
O deputado foi questionado pela coluna sobre seu voto e contou que votou em Davi Diniz. “Votei por ser um nome técnico, não tem cunho ideológico. Então, votei nele para ser conselheiro”, admitiu o deputado.
Polese e Bahiense também foram procurados. Polese enfatizou que não somente votou contra como escreveu na cédula. “Eu risquei o nome dele e escrevi lá que era contra”, disse à coluna. Já Bahiense preferiu não revelar como votou. “O voto é secreto”. A coluna não conseguiu contato com Coronel Weliton (PRD).
Mesmo assim, o resultado para o conselheiro eleito foi melhor que o esperado e pode ser por conta de sua iniciativa de buscar o diálogo com os parlamentares. Ele disse, em entrevista após a sessão, que mesmo após a publicação da lista, foi em busca de conversar novamente com os cinco deputados. E deu resultado.
Peso do Palácio
Além da postura de Diniz, pesou também a força do governo Casagrande. Diniz evitou cravar que ele seria o nome do governo na disputa e desconversou ao ser questionado sobre a participação do governador no processo, mas fato é que conselheiros nunca foram eleitos sem o aval dos governadores e foi após uma conversa entre o presidente da Ales, Marcelo Santos (Podemos), e Casagrande, que o nome de Diniz começou a ganhar corpo.
Embora, desde o ano passado, Diniz aparecesse como favorito para herdar a cadeira deixada pelo conselheiro Sérgio Borges, em janeiro, um movimento entre os deputados, capitaneado principalmente pelo 1º vice-presidente, Hudson Leal, fez estremecer esse favoritismo.
“A vaga é da Ales” defendia que a cadeira no TCES ficasse com um deputado, já que a indicação era da Assembleia. E o nome de Marcelo Santos começou a aparecer no jogo, embora publicamente, ele nunca tivesse dito que teria interesse de disputar.
E foi nesse momento, exatamente após o Carnaval, que o governador teria entrado em cena. O teor da conversa de Casagrande com Marcelo não foi revelado por nenhum dos dois, mas pessoas próximas a eles disseram que o encontro girou em torno de um suposto compromisso que Marcelo teria feito com o governador para ter o apoio do Palácio Anchieta e virar presidente da Ales.
Nesse suposto acordo, Marcelo teria se comprometido a abrir mão da disputa pela vaga de conselheiro em troca do apoio do governo para o comando da Ales, o que ele obteve. O governador então teria trazido à mesa tal compromisso.
Também teria sido alvo de preocupação do governo, uma possível instabilidade política na Assembleia com a ausência de Marcelo Santos. Uma nova eleição teria de ser feita com a chance real de mobilização da oposição que, embora não seja a maioria, poderia fazer diferença na hora do voto.
Após essa conversa, Marcelo tirou o time de campo e disse que não disputaria a vaga de conselheiro. E não só isso. Passou a ser um importante articulador para diminuir a resistência ao nome de Davi Diniz, principalmente entre a oposição. Chegou a dizer que trabalharia por um consenso e há quem diga que ajudou na coleta de assinaturas, sendo o primeiro a assinar a lista de apoio.
Ontem mesmo, após a votação, ele afirmou à coluna que ajudou a virar alguns votos em prol de Diniz. “Respeitei o tempo dele de se manifestar, mas já tinha o nome de Davi, com a minha manifestação naturalmente fez com que quase a maioria absoluta destinasse os olhares para ele”, disse o presidente.
Maioria no TCES
A ida de Davi Diniz para o Tribunal de Contas consolida a maioria, entre os membros da Corte, dos eleitos com “indicação indireta” do governador Renato Casagrande – bom lembrar que Diniz hoje faz parte da cúpula, da cozinha do Palácio Anchieta, é um dos homens de confiança do governador e de todo o governo.
Além de Diniz, os conselheiros Luiz Carlos Ciciliotti (tomou posse em 2019) e Rodrigo Chamoun (posse em 2012) também foram eleitos durante a gestão Casagrande. Domingos Taufner entrou em 2011 pela vaga do MPC, mas o governador à época também era o socialista.
Os conselheiros Rodrigo Coelho (posse em 2018) e Sergio Aboudib (posse em 2009) foram eleitos com o aval do ex-governador Paulo Hartung e o conselheiro Carlos Ranna entrou em 2008 pela vaga de conselheiro substituto, também no governo de PH.
Durante entrevista, Diniz tentou desviar desse enfoque político. Questionado se a sua eleição iria aumentar a influência de Casagrande no Tribunal, negou.
“Não. Acredito que a Corte de Contas tem independência e liberdade suficientes para fazer o julgamento de acordo com os conselheiros que estão lá. A Corte tem sua independência estabelecida e vai atuar de acordo com critérios técnicos objetivos, não por critérios políticos ou por indicação”.
Cabe aos conselheiros, por exemplo, julgar as contas do governador e emitir recomendação técnica para a aprovação ou não dos deputados estaduais. Uma vez reprovadas, o político pode ficar inelegível.
Resistência vencida
O nome de Davi Diniz não era o preferido pela maioria dos conselheiros. Antes de Marcelo Santos sair do jogo, a coluna apurou que o presidente da Assembleia contava com a torcida de ao menos dois membros da Corte. Os mesmos que também resistiam ao nome do secretário.
Havia uma preocupação, entre alguns membros do TCES, de que o futuro conselheiro não dilatasse, ainda mais, a rachadura que se criou na Corte com a eleição de Domingos Taufner para presidente. Taufner foi eleito com apenas um voto de diferença com relação a Coelho, numa sessão marcada por indiretas e climão.
Ainda não está claro se o Palácio também agiu para quebrar a resistência ao nome de Diniz por parte de alguns conselheiros. Fato é que, com resistência ou não, o secretário agora é um dos membros da Corte.
Ontem, durante a entrevista, Diniz disse que iria trabalhar pela unidade na Corte e descartou que houvesse qualquer resistência ao seu nome por parte dos futuros colegas.
“Eu não vi resistência por parte dos conselheiros, eu vi preferências. Todo processo de eleição as pessoas têm direito a ter suas preferências e optarem, opinarem por A ou B. E ter a preferência por um não significa ter resistência ou descrédito por outro. O processo eleitoral acabou, encerra agora, então daqui pra frente é buscar trabalhar em conjunto, em unidade”, disse Diniz.
O conselheiro eleito prometeu independência, atuar para que a Corte seja reconhecida nacional e internacionalmente, que tenha unidade entre os pares e também se colocou à disposição para trabalhar para que os recursos públicos sejam empregados da melhor forma.
“Grande satisfação”
Procurado pela coluna, o Tribunal de Contas do Estado se manifestou sobre a eleição do novo membro. Em nota, o presidente da Corte, Domingos Taufner, disse que a notícia da ida de Davi Diniz foi recebida com grande satisfação.
“Em nome de todos os membros e servidores do Tribunal de Contas, recebo, com grande satisfação, a notícia da escolha feita pela Assembleia Legislativa, do secretário chefe da Casa Civil, Davi Diniz. Sua eleição como conselheiro é um testemunho de sua competência e dedicação aos capixabas”, diz trecho da nota.
Disse também que os membros irão trabalhar juntos. “Vamos trabalhar juntos para garantir a transparência e a eficiência na gestão dos recursos públicos. Sua experiência e conhecimento serão elementos importantes para o nosso Tribunal. Juntos, faremos a diferença para um Espírito Santo justo e próspero.”
Em tempo: A previsão é que Davi Diniz tome posse no Tribunal de Contas próximo dia 12.
>> Quer receber nossas notícias de política 100% gratuitas? Participe da nossa comunidade no WhatsApp ou entre no nosso canal do Telegram!