Os nervos estão à flor da pele nesta pré-campanha à Prefeitura de Vitória e nem uma sessão solene em homenagem a empreendedores escapou do clima de tensão e rivalidade política que já toma conta da Capital.
A vice-prefeita de Vitória, Capitã Estéfane (Podemos), vai protocolar no Ministério Público e na Câmara de Vitória, ainda nesta segunda-feira (10), uma denúncia de violência política de gênero contra o vereador da Capital Leonardo Monjardim (Novo), após ser impedida de falar numa sessão solene que ocorreu na Câmara no último sábado (08).
A sessão era promovida por Monjardim e era em homenagem a empreendedores. Estéfane disse que foi convidada por um dos homenageados a estar presente e pediu a fala após Monjardim dizer, ao microfone, que ela não teria sido convidada.
Ao ser negada a palavra, ela se levantou e deixou a sessão, gravando um vídeo, bastante emocionada, denunciando o ato. O vídeo foi postado em seu perfil do Instagram e viralizou nas redes sociais e em grupos de conversas durante todo o final de semana. Ele repercutiu também na sessão ordinária da Câmara desta segunda.
À coluna, Monjardim disse que ela invadiu a sessão e que ele, por ser aliado do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), teve de se posicionar, pois não queria aparecer na “foto” do evento ao lado de Estéfane, que é pré-candidata à prefeita da Capital e é rompida com o prefeito.
Monjardim chegou a enviar à coluna um vídeo com o trecho da sua fala, porém, não há disponível nos canais oficiais da Câmara de Vitória a transmissão oficial da sessão. Segundo o presidente da Câmara, Leandro Piquet (Republicanos), a sessão não foi filmada.
“Nós temos um contrato com a empresa que presta serviço e as sessões solenes são cobertas. Mas o que chegou para mim foi que havia uma ‘reserva de plenário’ – e não uma sessão solene – pelo vereador, e reserva de plenário não é coberta pelo contrato. Por isso a filmagem não foi feita”, disse Piquet.
A confusão
Estéfane contou à coluna que foi convidada por um casal de amigos de Vila Velha para estar presente na sessão solene porque eles seriam homenageados como empreendedores. Estéfane encaminhou à coluna o convite que teria recebido do casal e, no convite, não consta que seria uma sessão proposta pelo vereador Monjardim.
Ela disse ter chegado um pouco atrasada, mas que se identificou na entrada e que teria sido a própria assessoria de Monjardim que a levou para tomar assento na mesa de honra da sessão.
A vice-prefeita contou que após a fala de um dos homenageados, que chegou a citar e elogiar a presença de Estéfane na sessão, Monjardim tomou a palavra e disse que precisava fazer um esclarecimento.
“Preciso esclarecer alguns fatos, pois diante da minha postura política, eu sou um vereador de direita e um aliado incondicional, de primeira ordem, do prefeito Lorenzo Pazolini. Não é nada pessoal contra a Capitã Estéfane, mas a gente está numa pré-campanha, faltam dois meses e uma foto dessa pode confundir as pessoas. Como é uma sessão solene minha, só para deixar bem claro meu posicionamento. Eu costumo ir nos lugares onde sou convidado e isso causa até um certo constrangimento (…) Então só pra esclarecer, para não ficar uma situação constrangedora pra mim, eu prefiro transferir esse constrangimento para outra pessoa”, diz parte do vídeo encaminhado pelo vereador.
Veja o trecho da fala do vereador encaminhado à coluna:
Estéfane contou que a fala do vereador a deixou muito constrangida e que ela pediu a palavra a ele para citar o nome de quem a teria convidado para o evento, que não falaria sobre campanha política. Ela disse, porém, que o microfone lhe foi negado.
“Eu falei com o Monjardim que já que ele havia me mencionado, eu queria responder. E aí ele falou comigo: ‘Não, você não vai falar, aqui você não tem fala. Você tem que parar de mimimi e ir trabalhar, porque você não tem trabalho pela cidade, você só sabe fazer politicagem e isso que você está fazendo aqui agora’. Foi exatamente essa fala, mas isso ele falou afastado do microfone”, disse a vice-prefeita.
Ela contou que após isso se levantou e fez o vídeo, que depois postou em suas redes sociais. Estéfane recebeu apoio de outros pré-candidatos à Prefeitura de Vitória.
“Foi covardia”, diz Monjardim
Questionado pela coluna, o vereador Leonardo Monjardim disse que a sessão solene foi proposta por ele e que não convidou a vice-prefeita e nem ninguém do Executivo para participar do evento. Disse ainda que o vídeo que Capitã Estéfane fez foi uma “covardia”.
“A composição da mesa quem estabelece é o cerimonial do vereador. Ela entrou, após formada a mesa e com a sessão em curso e sem falar nada com a assessoria, com o cerimonial ou comigo, invadiu e sentou à mesa, de forma proposital. E eu tive que me posicionar, do ponto de vista político e de forma cordial. Quando terminou minha fala, ela se levantou da mesa e começou a fazer uma live e se vitimizou, mais uma vez”, disse Monjardim.
“Não teve absolutamente nada de errado. Em nenhum momento eu fui descortês ou deselegante, eu só me posicionei porque eu sou aliado do prefeito Lorenzo Pazolini e ela se posicionou contra, é pré-candidata à prefeita, e eu não queria que as pessoas fizessem interpretação. Porque ela estando na mesa, ao meu lado, tiram uma foto e fica uma coisa esquisita. Deixei claro que ela não foi convidada para estar ali, somente isso, mas de uma forma super elegante. Ela aproveitou a situação e fez isso aí, uma covardia”, acrescentou o vereador.
Ao ser questionado sobre a fala de Estéfane em que ela diz que foi levada à mesa pela assessoria do parlamentar, Monjardim não respondeu. E também não respondeu se teria negado a palavra à vice-prefeita após ter sido solicitado.
Na sessão de ontem, os vereadores se dividiram sobre o tema. Alguns defenderam Monjardim afirmando que a sessão era dele e que ele pode sim escolher a quem dar a palavra na sessão. Outros, disseram que uma autoridade pública foi desrespeitada, porque a vice-prefeita estaria ali representando o Executivo, independentemente do seu posicionamento político.
Podemos divulga nota de repúdio
No mesmo dia da sessão solene (sábado), o Podemos – partido de Capitã Estéfane – publicou uma nota de repúdio afirmando que a vice-prefeita foi vítima de violência política de gênero. “Não podemos tolerar a perpetuação de comportamentos machistas e narcisistas que ameaçam a dignidade e a participação das mulheres na política”, diz trecho da nota do partido.
Leia a nota na íntegra:
Nota de Repúdio
“Neste sábado (08), em Vitória, durante uma sessão solene, na Câmara de Vereadores, com a presença de várias mulheres e homens, testemunhamos a verdadeira face da violência política de gênero, praticada por um vereador.
É lamentável que nossa Capital esteja contaminada por essa realidade. Não é a primeira vez que esses fatos acontecem no município.
Manifestamos nossa solidariedade à Capitã Estéfane, vice-prefeita de Vitória, presidente estadual do Podemos Mulher e pré-candidata do Podemos à prefeita. Repudiamos veementemente qualquer ato de violência política de gênero e afirmamos nosso compromisso com a luta pela igualdade e respeito.
Não podemos tolerar a perpetuação de comportamentos machistas e narcisistas que ameaçam a dignidade e a participação das mulheres na política.
O partido Podemos trabalha diariamente para garantir um ambiente político seguro e igualitário para todos”.
Segundo episódio
Em novembro de 2022, durante um evento público da prefeitura no bairro Jardim Camburi, Estéfane foi também impedida de falar. Dessa vez foi pelo prefeito que, à época, negou que estivesse cerceando o direito da vice à fala, e que apenas seguia a lei orgânica, alegando que ela representa a prefeitura na ausência do prefeito, mas como ele estava presente cabia a ele falar.
O episódio também teve bastante repercussão e trouxe à tona o racha na cúpula da prefeitura que começou ainda no primeiro semestre da gestão e teve até a interferência do marido da vice-prefeita.
Estéfane chegou a deixar o Republicanos – partido pelo qual foi eleita – por conta das divergências com o prefeito (da mesma legenda). Ela também teve a estrutura da vice-prefeitura reduzida, perdendo boa parte de seus assessores, numa reestruturação feita por Pazolini.
Estéfane disse que, dessa vez, não vai deixar passar. “Vou tomar todas as providências cabíveis”, disse à coluna, referindo-se às representações que pretende fazer no Ministério Público e na Câmara de Vitória.
Questionado se iria tomar alguma providência, o presidente da Câmara afirmou que vai esperar ser provocado.
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