“Luciano trabalha muito”. Essa é uma das principais referências feitas ao prefeito pelos seus interlocutores. Entretanto, algo faltou nestes primeiros quatro anos de mandato. Luciano Rezende (PPS) venceu em 17 regiões da cidade. Amaro Neto (SD) venceu em 32. Apesar da grande diferença no número de bairros (e da pequena diferença no número de votos, afinal a vantagem de Luciano foi de apenas 4.424 eleitores num universo de mais de 230 mil) o prefeito venceu o deputado estadual em bairros nobres por uma diferença gritante. Em Jardim Camburi, por exemplo, venceu de 16.654 a 6.546. Em Jardim da Penha, de 11.611 a 3.203. Mas o segredo não está onde Luciano ganhou. E sim onde Luciano perdeu. O prefeito levou a pior em todas as regiões populares da capital do Estado. Desde Andorinhas, circulando por trás da região da Fonte Grande, até a Vila Rubim. Também perdeu no lado direito da Avenida Leitão da Silva, que envolve Bairro da Penha e Itararé, até as redondezas de Ilha de Santa Maria. As eleições municipais 2016 dividiram a cidade entre os locais onde o poder público parece de fato funcionar e aquelas regiões onde a realidade parece não ser bem essa. Levando em conta o estrato da capital, pode ter faltado autocrítica ao prefeito, semelhante ao que ocorreu na campanha à presidência da República de Dilma Rousseff (PT) em 2014. Não houve mea culpa nem enumeração de falhas. Apenas foram mostrados rankings, obras e supostos acertos. Em uma campanha eleitoral realmente é difícil fazer apontamento negativos contra si mesmo, tendo em vista que a tarefa das críticas à gestão já cabe aos adversários. Mas vender a visão de cidade obtida na Enseada do Suá para quem mora em São Pedro também pode não surtir o efeito desejado. E as urnas parecem ter dito isso, com todas as letras, cores e, mais importante, números. Neste sentido, a candidatura do deputado Amaro Neto cumpriu um papel no processo. Nos próximos quatro anos, caberá então ao atual prefeito entender que sua vitória apertada significa que tem pela frente o grande desafio de unir de novo a cidade, já naturalmente rachada entre ilha, Fonte Grande, continente e Leitão da Silva. Unir a cidade real. Com suas qualidades, mas também com seus defeitos e problemas a serem resolvidos.
Fazendo as contas
Levando em conta Vitória, Vila Velha, Cariacica e Serra, o placar aponta 2 pontos para o governador Paulo Hartung (PMDB) e 2 pontos para o ex-governador Renato Casagrande (PSB). Um desses pontos, entretanto, é meio híbrido.
Pé direito
Na última vinda de Marina Silva ao Espírito Santo, o porta-voz estadual da REDE, Gustavo de Biase, cravou que a ex-ministra garantiria a vitória de Luciano Rezende, Audifax Barcelos (REDE) e Juninho (PPS). Se foi Marina que garantiu eu não sei, mas que ela trouxe sorte, isso trouxe.
Paz
Audifax disse, numa euforia que só vendo, que procurará Sergio Vidigal (PDT) no momento certo, para que o deputado federal possa ajudar a população da Serra. E que as brigas entre os dois, terminado o pleito, acabaram. São águas passadas.
O outro lado
Pelo menos por ora, Vidigal não parece estar disposto a selar este acordo de paz. Em coletiva de imprensa, disse que seu projeto era melhor para a cidade e que o segundo turno foi marcado por boato e mentira, não permitindo o debate dos problemas da cidade. Foi marcado por boato e mentira mesmo, mas dos dois lados.
De virada
Nem depois de ganhar as eleições, por uma diferença de 8.775 votos, Juninho deixa de clamar às forças de segurança pública do Estado para que elucidem, de uma vez por todas, o episódio em que o carro de Marcelo Santos (PMDB) foi alvejado por tiros em Cariacica no dia 18 de outubro. Segundo o prefeito reeleito, ele não aguenta mais.
Conflito
Circula um vídeo em que os deputados Euclério Sampaio (PDT) e Gilsinho Lopes (PR) foram hostilizados por moradores da região de Bandeirantes, em Cariacica, neste domingo (30). Segundo os parlamentares, o problema ocorreu por eles terem, supostamente, constatado boca de urna no local.
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