O Fantástico Mundo da Propaganda Eleitoral

Começo pitoresco

No primeiro dia da propaganda eleitoral na televisão com os candidatos a deputado estadual, senador e governador do estado, já deu para perceber que pouca coisa vai mudar na construção de narrativas e nos formatos já preestabelecidos para esse tipo de “produto”. Em vez de evoluir com o tempo e se atualizar em linguagem e formato, a propaganda parece engessada ao molde de pleitos anteriores. A falta de dinheiro para fazer campanha em 2018 evidencia ainda mais a falta de criatividade e, em muitos casos, de bom gosto e bom senso.

TV retrô

Nos blocos destinados à campanha proporcional, foi como se de repente tivesse havido um looping temporal que nos transportasse de volta aos anos 80. Foi necessário esfregar bem os olhos para constatar que o aparelho de TV era mesmo digital e slim, e não analógico, de tubo e à válvula como era no período da Nova República. Entre os candidatos a uma vaga na Assembleia, em sua quase totalidade, foi a mesma falta de desenvoltura diante da câmera, a fala monocórdica, a estética do grotesco vazando pelos pixels da transmissão televisiva.

Piada

O candidato a governador pelo PTB, Aridelmo Teixeira, se apresentou ao público pela primeira vez fazendo piada do próprio nome. Não deixa de ser surpreendente, e a intenção parece ter sido a de se mostrar mais humanizado (é muito comum nos EUA, por exemplo, fazer troça de si mesmo). Ele explicou a origem dos nomes dele e dos outros dois irmãos (Arilton e Arilda). Uma junção “criativa” dos nomes do pai (Ari) e da mãe (Ilda). A qualidade do gosto da piada a coluna deixa sob julgamento dos espectadores.

Strip tease metamorfo

Outro que atraiu a atenção pelo pitoresco foi o candidato a senador pelo PPS, Marcos Do Val. Conhecido pelas técnicas de segurança que desenvolveu para a Swat, ele apareceu no vídeo todo paramentado como um “rambo”. À medida em que ia falando, também ia tirando as peças que vestia (colete, uniforme, arma, acessórios), numa cena que parecia um strip tease, até ficar com uma camisa social branca e uma gravata. Foi uma metamorfose do policial em político?

Manato beijoqueiro

O candidato ao governo do estado pelo PSL, Carlos Manato, não é conhecido exatamente pela simpatia. Por ser alguém que não usa meias palavras para se expressar, às vezes passa a imagem de grosseirão. sabemos que é médico, mas foi inusitado vê-lo de jaleco – o que acabou ficando engraçado e, talvez por isso, tenha contribuído para quebrar a aura de antipatia. Mas soou apelativo demais a imagem dele tomando um recém nascido nas mãos e beijando.

Contarato sentimental

Outro que parecia descasado entre a própria imagem e o que se viu na TV foi o candidato ao senado pela Rede, o delegado Fabiano Contarato. É certo que todos temos sentimentos, mas no imaginário das pessoas Contarato existe como alguém inflexível na defesa de suas ideias, e tem na lógica e na persuasão seu ponto mais forte. Acabou ficando forçado o sentimentalismo servido de ingrediente principal em sua estreia, quando enfatizou a infância difícil e a vida em família.

É Jackeline ou é Lula?

Já na propaganda do PT, salta aos olhos a falta de interesse em vender o peixe local. A candidata a governadora Jackeline Rocha só aparece no meio do programa. Quem começa a peça é o candidato a vice na chapa de Lula para o Palácio do Planalto, Fernando Haddad. É ele quem fala de Jackeline para o público. Certo é que ambos (Haddad e Jackeline) são ilustres desconhecidos da maioria da população capixaba. Fica a impressão de que a candidatura é mais um palanque para a defesa de Lula do que propriamente um projeto pra valer.