Vitória esperada
A conquista do mandato de governador do estado por parte de Renato Casagrande (PSB) era mais do que esperada, em função da desistência do principal oponente, o atual governador Paulo Hartung (MDB). Sem surpresas, Renato se elegeu no 1º turno com fartos 55,49% dos votos. O 2º colocado, Carlos Manato (PSL), obteve 27,2% da votação.
Vitória esperada II
Favorito nas pesquisas, Casagrande sobreviveu incólume aos ataques proferidos pelos adversários durante os debates em rádio e televisão, mesmo perdendo expressivos nove pontos percentuais na reta final da campanha. Não tira o brilho da vitória, mas revela o voto engajado da direita – leia-se PSL. O fenômeno de transferência de votos não ocorreu só com Manato, mas com diversos candidatos da sigla em todo o país. O PSL é, agora, um “ex-nanico” com robusta futura bancada no Congresso Nacional. Ainda assim, Casagrande reinou soberano e conquistou uma votação expressiva, num cenário em que alguns concorrentes decepcionaram.
Perdas e danos
Se Manato surpreendeu positivamente ao assumir a vice-liderança – pegando carona na candidatura do PSL para a presidência -, as surpresas negativas foram muitas na disputa ao Governo do Estado. A maior delas, sem dúvida, foi Rose de Freitas. Fica para ela a lição de que, independente do quão confortável se possa estar para uma “peleja” eleitoral, sem planejamento e entusiasmo não se chega a lugar nenhum. Aliás, pode-se retroceder várias casas no jogo da política.
Quase Amoedo
Outra decepção foi o candidato que se arvorou a ser a novidade do pleito, o “quase Amoedo capixaba”, um empresário com ideias de enxugamento da máquina pública, conceitos de novos hábitos e processos na gestão, e uma língua afiada para atacar o favorito Casagrande. Mesmo com essa estratégia, faltou a Aridelmo Teixeira (PTB) mais experiência para o embate direto, já que nos debates ele pareceu um tanto afetado além da conta. Sua relação com Paulo Hartung foi outro fator que levou o eleitor a desconfiar se ele era o mesmo o “novo”, ou apenas o “de novo” na política. Sem contar o amadorismo de ter declarado antecipadamente voto a Bolsonaro, contrariando e constrangendo os correligionários petebistas e demonstrando – como os políticos tradicionais – não ter qualquer apreço à fidelidade partidária.
Falando pra dentro
E por mais que se tenha um recorte de momento favorável aos partidos de direita, foi decepcionante também a estagnação do PSOL, que em nível nacional cresceu, conquistando 11 vagas na Câmara dos Deputados, o que o consolida como o partido mais importante da esquerda “mais à esquerda” e permitirá que faça o justo e necessário contraponto à ascensão da direita. É hoje o partido de esquerda depois do PT com maior bancada no Congresso Nacional. No ES, mesmo com um candidato com bom histórico e que teve posições claras nos debates, a sigla não se mostrou capaz de romper a bolha de isolamento e amargou o último lugar na disputa ao Governo do Estado, sem conseguir eleger nenhum deputado estadual. É o que a coluna já tratou anteriormente. O paradoxo do PSOL está em manter suas raízes e ampliar o eleitorado. Aqui no estado, especialmente, sentiu o impacto da onda da direita – onde Bolsonaro venceria em 1º turno.
Lata d’água
Na entrevista coletiva que concedeu logo após a confirmação da vitória, Renato Casagrande mostrou-se tarimbado e ciente do enorme desafio que o aguarda. Questionado sobre o que seria mais difícil no novo mandato que se aproxima, ou “menos fácil” (na figura de linguagem utilizada pelo colega jornalista Guilherme Klaws), o governador eleito respondeu que a dificuldade maior – ou a facilidade menor – residirá no ato em si de governar, diante de um cenário difícil, tanto do ponto de vista econômico quanto político. E comparou a função a uma espécie de trabalho de Hércules (ou de Dom Quixote), utilizando outra figura de linguagem, na qual disse que está sendo “convidado a carregar uma lata d’água na cabeça morro acima em dia de chuva”. Parece sintomático que na virada de domingo para segunda tenha chovido em cântaros na Grande Vitória. Qualquer escorregão e lá se vai a lata morro abaixo.
Até tu, Brutus?
Se a disputa ao Governo do Estado foi “mamão com açúcar”, para o Senado Federal sobrou emoção na reta de chegada. Uma reviravolta maior do que a final entre Vasco e Palmeiras da copa Mercosul do ano 2000 (sim, não bastasse todo o resto, este colunista é cruzmaltino). O resultado das urnas deve ter sido uma (na verdade, duas, em razão do número de vagas) facada nas costas dos atuais senadores Magno Malta (PR) e Ricardo Ferraço (PSDB). Por mais que a tendência de ambos fosse de queda na reta final, difícil acreditar que poderiam ser “apunhalados” assim nas urnas.
Erros e acertos
Um fator que consolidou a vitória esmagadora de Fabiano Contarato (REDE) certamente foi a deplorável divulgação de calúnias a respeito da vida pessoal dele, com exposição inadequada e irresponsável do filho adotivo do delegado. Outro, sem dúvida, foi a própria conduta de Fabiano, sua lisura na vida profissional – tanto como delegado quanto como professor -, e ainda, a consciência da população, cada vez mais madura com relação à política.
Imprensa
Outro fator considerado pelo próprio Contarato como favorável a vitória dele no domingo (como se pode conferir no vídeo abaixo), é o fator imprensa. Em um gesto de reconhecimento do valor da liberdade de expressão nos meios de comunicação, Fabiano enfatiza a importância da imprensa para o debate e o amadurecimento do senso crítico da população. Confira:
Do Val
A outra surpresa foi Marcos Do Val (PPS), que abocanhou a 2ª vaga ao Senado. Investindo na segurança pública como sua marca principal, apesar de não ter apresentado uma proposta objetiva para o setor, o candidato do PPS conseguiu se valer da boa imagem conquistada junto à opinião pública e surfou em duas ondas. A primeira, na demanda do eleitor por alguém que assumisse o compromisso por mais rigor na Leis de Execuções Penais e na mudança da regra para porte de arma. A segunda, o voto útil pela renovação das duas vagas de senador. Quando as pesquisas de boca de urna mostraram que ele seria capaz de derrotar Magno Malta, os eleitores não titubearam em despejar os votos não apenas em Contarato, mas nos dois candidatos neófitos – o que decretou por sua vez a dupla derrocada dos atuais senadores.
O pai e as 3 mulheres, ou, ficou tudo em família
Mas engana-se quem pensa que Magno Malta e Ricardo Ferraço vão ficar despojados do poder. O primeiro terá consolo no mandato da esposa Lauriete, eleita deputada federal. O segundo viu o pai, Theodorico, se reeleger deputado estadual, e a madrasta, Norma Ayub, conquistar uma vaga na Câmara dos Deputados. E Manato, que deixou de disputar novo cargo de federal para uma incerta (e nem tão exitosa) batalha ao Governo do Estado, também tem motivos para comemorar, afinal, sua mulher, Soraya Manato, foi eleita deputada federal. Ah, o poder da família…
Campeão de votos
O campeão de votos para deputado federal, Amaro Neto (PRB), que obteve impressionantes 181.813 votos e se tornou o federal mais votado da história do ES, telefonou ontem para o presidente nacional do partido, Marcos Pereira – que se elegeu deputado federal por São Paulo como o 18º mais votado de lá. Amaro parabenizou o líder do PRB pela conquista de 30 cadeiras na Câmara dos Deputados.
Vice-campeão
Vale o registro também dos 84.405 votos que garantiram a 2ª maior votação para o deficiente visual Felipe Rigoni (PSB) para a Câmara. Ele é o primeiro deficiente visual a ocupar uma cadeira no Congresso. Rigoni tem uma história que é exemplo para todos nós, mas não vai se ater a bandeira única da inclusão das pessoas com deficiência. Engenheiro, com mestrado pela Universidade de Oxford, vai lutar pelas reformas da previdência e tributária, e também para valorizar o empreendedorismo e a sustentabilidade.
Pouca reza
O bispo emérito da Diocese de Colatina, Dom Décio Zandonade, é tido e sabido um entusiasta da carreira política de Guerino Balestrassi (PSC), que foi ex-prefeito de Colatina, presidente do Bandes, da Amunes, entre outras funções. Em comunicado enviado aos fiéis na última sexta-feira, Dom Décio não poupou elogios a Balestrassi e pediu votos a ele, que foi candidato a deputado estadual neste pleito. Depois da apuração, quando o ex-prefeito colatinense amargou parcos 6.643 votos, ficou a impressão de que a reza foi pouca para o milagre da eleição.
Polarização
O PT elegeu 57 deputados federais, e o PSL abocanhou 52 vagas. Reflexo direto da polarização entre esquerda e direita no país.
Outros
PP 37, MDB 34, PSD 33, PSB 31, PSDB 30, PRB 29, DEM 28, PDT 28, são os partidos com maior representação no Congresso Nacional. Aqui no ES, o PSL é o partido que fez a maior bancada no legislativo estadual, com quatro deputados. O PT ficou com apenas uma cadeira. Você confere todos os eleitos no ES para a Câmara dos Deputados e a Assembleia Legislativa aqui no Folha Vitória.