De conveniências e nuvens

Conveniência duradoura
Dizem que a política muda tanto quanto as nuvens no céu. Em longo prazo, porém, pode ficar mais cristalina do que água da fonte. O caso dos ex-aliados Renato Casagrande (PSB) e Paulo Hartung (sem partido) é emblemático.

Abrigo
Tudo começou em 2002, quando o PSB filiou Hartung, que se elegeu governador pela primeira vez. No mandato, Hartung se afastou do PSB até se desfiliar, e foi reeleito em 2006 pelo PMDB. Apesar dos ressentimentos figadais, os socialistas mantiveram a aliança. Casagrande, inclusive, se elegeu senador naquele ano com apoio de Hartung.

Costura por cima
Em 2010, o socialista trouxe embaixo do braço, de Brasília, apoio do PT de Lula – então em alta no mercado – e “furou a fila” da sucessão. Foi a vez de Hartung controlar o fígado e preterir Ricardo Ferraço para apoiar o outro “aliado”, garantindo assim a unidade de seu projeto político.

Fim da conveniência
Em 2014, o que tinha começado como continuidade havia se transformado em oposição. Hartung cozinhou Casagrande em fogo brando até o último instante, quando – em junho daquele ano – rompeu, lançou candidatura e o derrotou no primeiro turno.

O fato cristalino
Em 2018, diante de um cenário de embate duríssimo – com mais risco de derrota do que chance de vitória – Hartung recuou e desistiu da briga, praticamente selando a vitória de Casagrande. O fato cristalino é que por mais que as nuvens mudem de lugar, o abismo entre as duas principais lideranças políticas do ES está consolidado.

Foto da Coluna: arquivo Folha Vitória.