A fala do secretário da Fazenda de Vitória, Aridelmo Teixeira, de que a educação de Vitória é de péssima qualidade, foi o estopim para que professores indignados protestassem nessa quarta-feira (24), na Câmara de Vitória, durante a sessão ordinária.
A fala também gerou protestos de vereadores, e não só da oposição. Luiz Paulo Amorim defendeu os professores, disse que seu neto estuda em escola pública e tem um “excelente aprendizado”. Já Luiz Emanuel Zouain, foi mais incisivo. “Generalizar? Tentar tratar a educação como massa falida? Não posso aceitar, venha da boca que vier. Eu conheço muito mais essa categoria do que quem declarou essa bobagem”, disse o vereador.
A fala que gerou a discórdia ocorreu na segunda-feira (22), durante audiência pública sobre o Orçamento de Vitória para 2022. A audiência ocorreu na Câmara da capital. O secretário fez uma explanação sobre a peça orçamentária e depois foi sabatinado por vereadores e por representantes da sociedade civil.
O tema mais debatido na audiência foi a Educação, principalmente as mudanças anunciadas pelo prefeito, Lorenzo Pazolini, e pela secretária de Educação, Juliana Rohsner, também na segunda-feira. Firme, e subindo o tom algumas vezes, Aridelmo defendeu as mudanças e disse que não se poderia fazer palanque em cima do futuro das crianças. E criticou bastante os índices educacionais da capital.
“Tem gente dizendo que a educação de Vitória é uma maravilha. Pra quem? Se nosso aluno não está aprendendo. Se o aprendizado do nosso aluno no primeiro ciclo está em 61º lugar, entre os 78”, disse Aridelmo.
Em outro momento, ao responder perguntas que questionavam o baixo investimento em Cultura, Aridelmo disse a área é importante, mas que a prioridade agora é a Educação e citou que, antes, 80% dos recursos alocados para a Cultura não financiavam “a arte na praça”, mas seguiam para “os companheiros” – expressão que foi citada várias vezes pelo secretário e que foi chamada de deboche pela vereadora Karla Coser.
Já quase no final das mais de 2h30 de audiência, Aridelmo fez mais críticas: “Nós temos um problemão aqui. A educação de Vitória não é de qualidade, é de péssima qualidade. Os nossos alunos não aprendem, não somos nós que estamos falando, não”.
Aridelmo lembrou números que também foram apresentados pela secretária de Educação ao anunciar as mudanças na pasta para o ano que vem. Vitória não alcançou a meta prevista para 2019 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e está abaixo das médias estadual e nacional. O Ideb observado em 2019 foi de 5,6 para os anos iniciais e de 4,6 para os anos finais, com metas projetadas para 5,9 e 5,1, respectivamente. Segundo a Seme, ao longo dos anos, a rede de Vitória foi perdendo seu potencial, ficando estagnada desde a edição de 2015.
A Seme também informou que, no contexto de recursos aplicados por estudante, a capital é quem mais investe entre os sete municípios da Grande Vitória, chegando ao valor de R$ 7.748,67 por ano. O investimento do município de Serra, o 2º maior, investe por ano R$ 3.292,29 por estudante.
Na terça-feira, o discurso de Aridelmo repercutiu negativamente na Câmara. Nos corredores, o comentário era que a “generalização” do secretário e, para alguns parlamentares, a falta de “traquejo” político e com as palavras, geraram uma crise desnecessária, entre os professores e também entre a base – que foi cobrada pela categoria e ficou sem argumentos para a defesa do secretário.
Ontem, os professores bateram na Câmara. Alguns vereadores saíram e chegou a ter um movimento para esvaziar o plenário para a sessão cair por falta de quórum. Mas os professores entraram e lotaram as galerias da Casa. Além dos vereadores da base, Karla Coser e Camila Valadão também criticaram a fala do secretário e as mudanças na educação, chamadas de “autoritárias e infelizes”. Camila disse ainda que é “projeto” falar mal da educação pública para “vender” a educação privada.
“Se a educação está tão ruim, por que então estender a carga horária de Vitória? Para dar aulas ruins?”, questionou Luiz Emanuel, voltando para o embate. A sessão foi encerrada após uma confusão generalizada durante a fala do vereador Gilvan da Federal.
Nos bastidores, também correu a informação de que a fala de Aridelmo teria criado ruídos com a secretária de Educação, que teria sido cobrada pelos professores para se posicionar a respeito. A Prefeitura negou qualquer mal-estar interno.
O que diz a prefeitura
Em nota, a prefeitura disse que a declaração de Aridelmo sobre a qualidade da educação em Vitória foi em decorrência de “análise técnica”. “A declaração do secretário da Fazenda do município decorreu de análise técnica, a partir de janeiro deste ano, sobre dados pretéritos que apontam índices insatisfatórios no Ideb e o baixo rendimento de aprendizado dos estudantes”.
A nota também cita o pacote de medidas lançado pela prefeitura, na área. “Mediante o diagnóstico, a atual gestão lançou um conjunto de medidas visando à sensível melhoria desse cenário, entre eles a extensão das horas para planejamento de aulas, inclusão de novas disciplinas no currículo, aulas de reforço, ampliação das escolas em tempo integral e aquisição de tablets para os estudantes”.
“Para os professores, constam entre as medidas a criação do bônus desempenho, a capacitação de profissionais, aquisição de computadores para docentes e investimentos para o aprimoramento do ambiente escolar, que englobam entre outras ações a reforma e manutenção de 53 escolas. Ao todo, os investimentos em infraestrutura neste ano superam R$ 100 milhões”, diz a nota.
Repeteco
Não é a primeira vez que o secretário da Fazenda, Aridelmo Teixeira, vira alvo dos vereadores. O presidente da Câmara, Davi Esmael, e o vereador Armandinho Fontoura já reclamaram (em maio passado) da falta de diálogo do secretário com os vereadores.
Repeteco II
Recentemente, Aridelmo, que é filiado ao partido Novo, anunciou que será pré-candidato ao governo do Estado no ano que vem. Ele foi candidato ao governo em 2018 ficando em 5º lugar com 62.821 votos (3,25%). À época, ele estava filiado ao PTB.
Olha o coração, vereador!
O vereador de Vitória Maurício Leite ficou vermelho de tão nervoso ontem na sessão com um dos manifestantes que estava do lado de fora da Câmara. Ele disse ter sido chamado de “filho da p***” e por pouco não partiu pra briga. “Falta de respeito. Eu tenho 64 anos e nunca ouvi isso na minha vida. Ele acha que é mais homem que os outros? Tiro meu terno e vou mandar ele me chamar, porque aí ele vai ver o bicho pegar”.