A vice-prefeita de Vitória, Capitã Estéfane (Republicanos), está em seu primeiro mandato e admitiu, na entrevista ao programa “De Olho no Poder” na rádio JP News Vitória, ontem (03), que ainda está no estágio de “imaturidade” política, no sentido de ser estreante e ainda ter muito que aprender. Porém, ela demonstrou bastante jogo de cintura – e, em alguns momentos, até a arte da “esquiva”, típica dos políticos de carreira – ao ser questionada sobre temas polêmicos e situações embaraçosas, como as rusgas que teve com o prefeito Lorenzo Pazolini, ainda no 1º semestre de mandato, e sobre as articulações políticas visando as eleições.
“Tenho relação cordial, respeitosa e diplomática” foi o que ela respondeu ao ser questionada sobre sua relação com o prefeito. Em maio do ano passado, o marido de Estéfane expôs, numa rede social, que o prefeito tentava “apagar” a imagem da vice. “As coisas que se passaram já foram resolvidas. Talvez não tenhamos tanta proximidade até por não haver uma relação de amizade. Em alguns momentos teve alguns desencontros de informações, que foram lapidados ao longo do caminho, mas nunca faltou respeito, cordialidade e diplomacia”.
Da mesma forma ela respondeu ao ser questionada sobre a relação com o Executivo estadual, tendo em vista os constantes embates entre a prefeitura e o governo do Estado. “Não há dificuldade em dialogar, dialogo com ‘n’ atores, inclusive os que têm posicionamentos divergentes dos nossos”.
E repetiu a trinca “respeito, cordialidade e diplomacia” também ao se referir à Câmara de Vereadores, principalmente com as duas mulheres parlamentares que têm posicionamento político e ideológico no campo oposto ao de Estéfane. “Nós não somos inimigas, pelo contrário, nós estamos trabalhando para a mesma cidade, cada uma dentro da sua atribuição, fazendo aquilo que lhe cabe, mas harmonizadas. Enquanto mulheres, é importante tê-las ali, fico feliz de ter mulheres capacitadas, inteligentes e que fazem a defesa da pauta que as elegeram”.
Bem à vontade!
Após um ano como vice-prefeita, Estéfane parece ter pegado gosto pela política. Tanto que já faz planos: vai colocar o nome para a disputa à Câmara Federal, nem que para isso tenha que deixar sua legenda, o Republicanos. Disse que vem recebendo convites de outros partidos, sem citar quais, pois, segundo Estéfane, “é uma lista, não daria tempo de citar todos”.
Quer representar as bandeiras dos segmentos que faz ou já fez parte, como os militares e as igrejas. Mas também quer lutar pelo direito e empoderamento feminino, pelas periferias, pela igualdade racial. Perguntada em que campo se encontra, uma vez que cita bandeiras tanto da direita quanto da esquerda, disse que é conservadora. “Mas não do conservadorismo extremista”, enfatizou Estéfane, afirmando que algumas pautas defendidas pelos progressistas, ela também defende. Citou, por exemplo, a vacinação, o passaporte da vacina para algumas ocasiões e disse que vai vacinar o filho, de pouco mais de 2 anos, contra a Covid, quando chegar a vez dele.
E como quem já tem a malícia da política, evita polêmicas desnecessárias, como se posicionar, por exemplo, com relação à eleição de presidente da República: “Não vou fazer apoio público. Vou exercer minha cidadania, votando. Hoje não tenho definição exata de onde seria meu voto porque eu quero analisar as propostas, a postura dos candidatos, porque eu serei eleitora. Agora, como ente político, eu não quero fazer esse tipo de apoio nas eleições de 2022”.
O atual partido de Estéfane, Republicanos, conta com o ministro da Cidadania, João Roma, na gestão de Bolsonaro e boa parte da sigla defende caminhar com o Presidente na eleição de outubro. Mas não há consenso. O partido está dividido e também defende apoio a Moro e a Lula.
Com o país polarizado da forma que está, qualquer decisão sobre apoios agora, seja qual for o nome escolhido, é motivo para gerar desgastes. E não parece ser uma atitude muito sábia para quem representa a instância municipal do Executivo, ainda que como vice. Sem hesitar, Estéfane passou adiante essa bola dividida.
Pelo que sinalizou, a vida pública é um caminho sem volta e ela já almeja cargos maiores: “Vitória nunca teve uma prefeita e o Espírito Santo nunca teve uma governadora”, disse ela, defendendo que as mulheres precisam ocupar postos de destaque na sociedade e também na política.
Feminista? Eu?
Embora cite como uma de suas bandeiras a luta pelo empoderamento feminino, Estéfane disse que não se considera feminista. “Existe uma conotação ideológica dentro do feminismo que não traduz os valores que eu carrego hoje até por questão da mudança de prisma espiritual, mas é claro que a gente precisa proteger, empoderar, dar protagonismo às mulheres. O preconceito é humano, o machismo é humano, o feminismo é humano. A gente tem que tentar conciliar, tirar o que é bom da visão masculina, tirar o que é bom da visão feminina e conciliar as coisas para que haja harmonia”.
Na íntegra
A vice-prefeita também falou sobre sua trajetória de vida até chegar à Prefeitura, sobre sua carreira militar, a visão que tem de segurança pública – de que não é só comprar armas e viaturas, mas também investir em educação e na limpeza pública, por exemplo –, sobre a gestão da pandemia, o drama familiar que enfrentou com a perda do pai, entre outros temas. Ouça a entrevista completa aqui: