O ex-senador Ricardo Ferraço (União Brasil) disse que ainda não foi avisado formalmente sobre o novo comando do partido, mas que teria partido dele a iniciativa de entregar a presidência, caso o União Brasil insistisse na pré-candidatura ao governo do Estado do deputado federal Felipe Rigoni. Desde quando o partido foi formado, o combinado era que Ricardo ficasse à frente da legenda, mas a pré-candidatura de Rigoni colocou o deputado e o ex-senador em lados opostos.
A coluna De Olho no Poder noticiou, com exclusividade, que após uma queda de braço com a família Ferraço pelo comando do União Brasil no Espírito Santo, Rigoni vai comandar o partido com a maior bancada federal atualmente.
Ricardo disse que havia um combinado, mas que a “política é dinâmica” e a “situação mudou”. “Eu não tenho nenhuma informação oficial, mas ao longo dos últimos dias ocorreram conversas e a mais importante delas aconteceu com todos – eu, o Rigoni, o Rueda (vice-presidente nacional do União), o ACM Neto (secretário-geral do partido) – e eu coloquei na mesa minha reflexão e minha proposta. Quando eu me filiei ao DEM, por articulação de ACM Neto, nosso projeto aqui era lançar candidaturas para federal e estadual. No meio do caminho aconteceram dois fatos relevantes e diferentes do original: surge a formação do União Brasil e a filiação de Rigoni ao PSL. Política é dinâmica. Houve ainda um terceiro fato: não só o Rigoni se filiou, mas ele desde sempre diz que é pré-candidato a governador. Isso é da política”, disse Ricardo.
Na semana que antecedeu o Carnaval, ocorreu uma outra conversa entre os quatro e Ricardo teria dito que havia dois caminhos: um seria apostar nas chapas de federal e estadual e outro numa candidatura majoritária, ao governo. “Os dois caminhos não são excludentes, mas também não são 100% convergentes. Uma coisa é identificar e ter prioridade de eleger deputados. Isso contempla um tipo de estratégia. Outra coisa é ter candidato ao governo. São coisas distintas, exigem estratégias diferentes. Um é mais simples, outro é mais complexo”.
Ricardo disse que apresentou para o partido os dois caminhos: “Se for pelo caminho de eleger deputados, eu considero que Rigoni deveria ser candidato a deputado federal. Se for para o partido manter a candidatura de Rigoni a governador, eu acho muito confuso, porque Rigoni se coloca como candidato a governador e lá na frente, se ele não se viabilizar, volta para ser deputado federal. É muito complicado, porque ele vai receber estrutura do partido para se colocar candidato a governador e lá na frente pode mudar. Isso desestimula nomes que queiram ser candidatos a deputado federal, porque fica uma competição desigual, atrapalha a chapa”, contou Ricardo.
E teria sido nessa conversa que Ricardo disse que entregaria o comando partido. “O que eu propus? Se o Felipe Rigoni deseja mesmo ser candidato a governador, ele deve ir até o fim. E se ele quer ser mesmo candidato a governador, a coisa mais natural do mundo é que ele assuma o partido e que ele coordene os trabalhos e o lidere. É natural, porque o candidato a governador precisa ter liberdade, autonomia para fazer as alianças que têm que fazer, para convidar os nomes. Eu não sou óbice a absolutamente nada. Como diz meu filho Arthur, estou de boa na lagoa”.
Segundo o ex-senador, o partido ficou de avaliar e voltar a falar. “Depois disso não recebi nenhuma informação oficial, mas qualquer que for a decisão do partido, pra mim, está de boa. Não quero ficar com a responsabilidade de coordenar uma campanha de governador, isso é complexo. O partido fala que vai ter um grande orçamento aqui, serão R$ 20 milhões para a campanha, sendo R$ 6 milhões para governador e R$ 14 milhões para parlamentares. Não quero ficar nem perto dessa responsabilidade”.
Questionado se continua no partido, Ricardo disse que sim. “Continuo no partido, tranquilo”. Já sobre a situação da deputada federal Norma Ayub e do deputado estadual Theodorico Ferraço, o ex-senador preferiu não opinar.
Próximo de Casagrande?
Ricardo também foi questionado se, à frente do União, estaria levando o partido para caminhar próximo de Casagrande, se haveria conversas sobre a possibilidade dele ser vice numa eventual chapa à reeleição do governador. Ricardo negou.
“Eu nunca conversei com Casagrande sobre ser vice. E ele também nunca falou comigo sobre isso. Dentro de um processo de debate, o partido decidiria no tempo certo o que fazer. Ninguém é candidato a vice, vice é conjuntura. Se a gente tivesse um projeto de chapa para federal e estadual, iríamos conversar com todos os candidatos, inclusive com Casagrande. Mas essa decisão não seria pessoal. Precisaria ouvir as pessoas, as partes, toda vez que toma uma decisão com motivação pessoal, está sujeito a chuvas e trovoadas”, disse Ricardo, metaforicamente, fazendo lembrar o tom que normalmente Theodorico, pai de Ricardo, costuma usar quando está bravo.
Questionado se teria ficado chateado com as mudanças que ocorreram, Ricardo disse que não. “Não faltou franqueza e abertura para uma conversa. O ACM Neto foi 100% comigo. Eu não tenho mais ingenuidade para não considerar que a política é dinâmica, as coisas mudam na política e você precisa se ajustar. Quando eu me filiei ao DEM a realidade era uma. A vida não é como as vezes a gente projeta e planeja, tenho maturidade, tranquilidade e paz de espírito suficientes para entender que as coisas mudam”.
“E Felipe Rigoni, também foi 100% com você?”, a coluna perguntou a Ricardo. “Ele nunca escondeu que queria ser candidato a governador. Sempre falou que tinha essa pretensão. Foi 100% leal ao raciocínio. Não tenho qualquer tipo de reclamação para fazer do meu amigo Felipe Rigoni”, respondeu Ricardo.