O PSC capixaba fez na manhã deste sábado (20) um evento de filiação que contou com a chegada ao partido do deputado estadual Renzo Vasconcelos e dos ex-deputados Gildevan Fernandes e Jamir Malini. Os três, além do ex-vereador de Vitória Wanderson Marinho e da deputada federal Lauriete Rodrigues, vão compor a chapa federal que vai às urnas em outubro.
O evento, porém, não foi só de filiação. Durante o discurso, o presidente estadual do PSC, Reginaldo Almeida, ao lado do presidente da Assembleia, Erick Musso (Republicanos) – que estava na mesa de autoridades do evento – sinalizou o rumo que o partido vai tomar na eleição majoritária.
“A presença do presidente Erick Musso nessa mesa, nesse evento, deixa muito claro o caminho que o PSC quer caminhar. Muito claro”, disse Reginaldo, sendo interrompido por palmas. “Em todo momento estou sendo provocado para antecipar o debate. Esse evento não é um evento de lançamento de pré-candidato a governador, é um evento de filiação de pré-candidato a deputado federal, mas quando você tem o presidente Erick Musso nessa mesa, sentado ao meu lado direito, sinaliza de forma muito clara que o PSC quer caminhar com alguém que defende os valores da família, da vida. Acredito num futuro promissor que vossa excelência (Erick) tem para o estado do Espírito Santo, não tenho dúvida disso”, afirmou Reginaldo no discurso.
Erick Musso é pré-candidato ao governo. Estava no evento com o presidente estadual do Republicanos, Roberto Carneiro, e, logo após a fala de Reginaldo, enviou uma nota à imprensa afirmando que o PSC havia declarado apoio à sua pré-candidatura. “Com a confiança e o apoio do PSC, vamos construir um plano de governo de excelência para ajudar a melhorar a vida dos capixabas”, disse, no discurso.
Se o apoio vingar – é bom lembrar que daqui até as convenções partidárias, quando são definidas as alianças, ainda tem muito chão pela frente – vai frustrar as articulações do também pré-candidato ao governo Carlos Manato (PL), que vinha fazendo planos contando com o partido.
Em outubro do ano passado, ao conversar com a coluna De Olho no Poder sobre partidos que poderia carregar para uma coligação com o PL e apoio à sua candidatura ao governo, Manato citou o PSC como possibilidade. “Tem o PTB e posso tentar levar outros também, como Patriota e o PSC. Podemos conversar com eles, tenho uma boa amizade com Reginaldo (Almeida, presidente do PSC). É questão de diálogo”, disse ele.
Numa outra ocasião, Manato citou a possibilidade da mulher, Soraya, ser abrigada no PSC, o que foi discutido por Reginaldo. “Estamos conversando com algumas pessoas e esse tema está em discussão. Precisamos montar uma chapa forte para federal, tendo dois deputados com mandato, podemos fazer duas cadeiras”, disse Reginaldo, na época. Soraya acabou se acertando com o PTB e deve se filiar nos próximos dias num evento em Brasília.
Questionado ontem se tinha perdido o PSC para Erick Musso, Manato primeiro desconversou, mas depois justificou o que, na visão dele, teria motivado o PSC a apoiar Erick. “(O PSC) Nunca foi meu, ele estava próximo a Casagrande. Reginaldo tem apoio do governo, mas Erick viabilizou a chapa de federal (do PSC), colocou Renzo e dois comissionados, Jamir e Gildevan”.
Segundo o Portal de Transparência da Assembleia, desde setembro do ano passado, Jamir Malini está lotado na Coordenação Especial de Cerimonial, exercendo a função de assessor sênior de secretaria. Gildevan também é servidor da Casa, mas entrou antes: em março de 2021, e atua diretamente na assessoria do gabinete de Erick Musso. Já Renzo é bastante próximo de Erick. Questionado se teria levado os três para a sigla de Reginaldo, o presidente da Ales respondeu: “Ajudei um pouco na construção sim”, admitiu, sem dar mais detalhes.
Se o apoio do PSC à pré-candidatura de Erick vem após o presidente da Assembleia atuar diretamente na construção da chapa federal do partido, a probabilidade da aliança ir até o final é grande, uma vez que tem sido uma via crúcis para os dirigentes partidários montar chapas sem coligações, proibidas pela legislação eleitoral.
Também deve ir até as urnas a construção que Erick fez com o PROS, ao levar o presidente da legenda, Kauê Oliveira, para chefiar a comunicação do seu gabinete. O PROS também declarou apoio à pré-candidatura de Erick Musso ao Palácio Anchieta.
Erick tem usado as ferramentas que tem nas mãos como estratégia para se viabilizar. O PSC não tem o tamanho do Republicanos (na bancada federal), mas é um partido, assim como o de Erick, ligado a um ramo da igreja evangélica mais conservador, o que pode render muitos frutos, ou melhor, muitos votos para aqueles que recebem a “bênção” da legenda.
Motivos pessoais?
Motivos pessoais também podem ter contribuído para que o PSC não quisesse caminhar com o PL. A deputada federal Lauriete Rodrigues (PSC) foi eleita em 2018 pelo PL (ex-PR), quando ainda era casada com o ex-senador Magno Malta, presidente do PL no Estado.
Lauriete foi à Justiça Eleitoral para deixar o PL, alegando que passou a sofrer discriminação na legenda após se separar de Malta. Ela conseguiu uma decisão favorável da Justiça pela desfiliação por justa causa e após ficar um breve período sem partido, ela se filiou ao PSC, presidido por Reginaldo Almeida, que foi seu primeiro marido.
Reginaldo foi procurado ontem para comentar as articulações envolvendo o PSC mas não retornou aos contatos da coluna.