Ninguém vai bater o martelo hoje, mas pelo andar da carruagem, tudo indica que a senadora Rose de Freitas (MDB) será a candidata ao Senado a receber o apoio do governo Casagrande. Pelo menos é o desenho que a “nuvem da política” mostra no momento.
A senadora foi a entrevistada do último programa “De Olho no Poder com Fabi Tostes”, que foi veiculado ontem na rádio Jovem Pan News Vitória (90.5 MHz). Rose chegou atrasada à entrevista, justificando que o motivo seria uma reunião que estava tendo com o governador. “Disse que iria ao banheiro e vim pra cá”, brincou a senadora ao chegar ao estúdio. E, tão logo encerrou a entrevista, voltou para o Palácio Anchieta para dar prosseguimento às tratativas.
Rose contou, no programa, que além de conversar sobre a visita do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga – que deve vir ao Estado nos próximos dias para inaugurar uma ala do hospital Materno-Infantil, na Serra, e lançar a pedra fundamental da maternidade Promatre – também estava tratando com Casagrande sobre o MDB e as eleições.
O MDB, como outros partidos, enfrenta dificuldades, algumas fruto da briga sem fim que se instalou no partido desde a eleição de 2018. Hoje, último dia da janela partidária, o partido ainda não tem sua chapa completa para a disputa de estadual e federal.
A senadora chegou a fazer um apelo, no ar, para Casagrande: “Governador, se estiver ouvindo, nos ajude também”. O pedido foi para ajudar na construção das chapas do MDB, após ter ciência que o governo tem ajudado alguns partidos aliados. O ex-vice-prefeito de Vitória Sergio Sá, quadro antigo do PSB, foi “cedido” para compor a chapa do PDT. E o agora ex-secretário da Segurança Coronel Ramalho foi para o Podemos.
Ela também declarou, no ar, apoio à reeleição do socialista. “Dentro de tudo que está colocado, acredito que ele possa administrar mais uma vez e eu vou propor isso ao MDB”. A proposta de levar o apoio à reeleição de Casagrande para a análise do partido seria mais para cumprir protocolo. Desde que assumiu a presidência do MDB no Estado, Rose tem aproximado o partido do governador. Posição oposta à que foi tomada pelo ex-presidente do partido Lelo Coimbra, que deve ser mais um a deixar a legenda.
Antes de terminar a entrevista, Rose fez outro apelo a Casagrande: “Temos sido companheiros de uma longa caminhada, eu gostaria de ser a candidata do coração dele”, disse a senadora, afirmando ter a manifestação de 69 prefeitos a favor de que ela continue no Senado. E, para os interlocutores de Rose, esse apelo está bem próximo de ser respondido positivamente pelo governador.
“Não é oficial, mas ela receber o apoio do governo é o caminho. Está bem pavimentado”, disse o ex-deputado Marcelino Fraga, que tem ajudado Rose na construção das chapas. Na análise de Marcelino, que já presidiu o MDB, hoje três nomes se consolidam na disputa ao Senado: Rose de Freitas, Magno Malta e Sergio Meneguelli e Rose seria a única aliada de Casagrande a disputar. “Magno Malta é do palanque bolsonarista, Meneguelli é mais independente e Rose está muito bem consolidada com os prefeitos e muito próxima do governador também”, explicou.
Um quarto concorrente pode surgir: o ex-vice-governador César Colnago se filiou ao PSD e pode disputar o Senado também. Colnago, porém, não concorreria disputando os votos da base de Casagrande.
Embora Rose tenha dito, na entrevista, que desconhece outros partidos da base que queiram a indicação à vaga de Senado, PP e Podemos já mostraram interesse.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, ao vir ao Estado para a filiação ao PP do coordenador da bancada federal capixaba, deputado Josias da Vitória, disse ter cobrado do governador que o partido participe do processo majoritário, ou seja, que esteja presente ou como vice na chapa ou na indicação ao Senado. A preferência de Lira é pela única vaga ao Senado e o nome a ocupá-la seria o de Da Vitória.
O PP, que foi apelidado de “Rússia” por alguns partidos da base aliada – por estar filiando muitos parlamentares e “tomando território” de outros partidos – , quer protagonismo nessa eleição. E não deve deixar o caminho livre para Rose. O imbróglio cai no colo do Palácio Anchieta, que deve pacificar esse impasse só nos 45 do segundo tempo.
Prefeito ignorou apelo
A senadora Rose de Freitas também disse, na entrevista, que estava quase “se jogando na frente do carro de Guerino” para impedir que ele deixe o MDB. Mas Guerino deixou o partido na manhã desta sexta (01).
Pouco tempo depois do programa ir ao ar, Guerino Zanon renunciou, numa sessão da Câmara de Linhares, ao cargo de prefeito do município – o vice, Bruno Marianelli assumiu – sinalizando que irá disputar o governo do Estado. Como não encontrou espaço no MDB, já que Rose vai priorizar sua candidatura ao Senado e vai apoiar a reeleição de Casagrande, ele deve deixar o partido. Segundo lideranças do PSD, ele se filia hoje ao partido.
O PSD filiou também Colnago, que disse que seu projeto é também disputar o governo. Mas ele avaliou que o nome do partido será decidido lá na frente, que vai escolher quem for mais viável. Ou seja, Colnago já avalia a possibilidade de abrir mão da disputa ao governo para Guerino.
Plano nacional
Questionada sobre quem apoiaria para presidente da República, Rose desconversou. Disse que a pergunta era “muito difícil” e embora seu partido tenha uma presidenciável – a senadora Simone Tebet – Rose disse que o país precisa de alguém que tenha propostas.
“Nunca pensamos que o Brasil fosse ficar nesse quadro ‘ou eu ou ele ou ele ou eu’. É um quadro muito difícil para o país. Eu gostaria que nós tivéssemos outra alternativa. Mas, não vejo ninguém com capacidade para competir com nenhum dos dois. Até agora os candidatos que estão se habilitando não fizeram nem cócegas no pé de um e de outro. Conheço os dois governos, de dentro, e digo que a gente não pode errar. Tem que ter um nome, mas com proposta”, disse Rose, citando pontos positivos e negativos dos governos de Lula e Bolsonaro.
Na íntegra
Rose também contou um pouco de sua trajetória política, de como começou a militar ainda na década de 1970, sua prisão durante a ditadura militar, a contribuição que deu na construção da Constituição de 1988, sobre a culpa que sentiu por não poder amamentar sua filha por conta da atuação no parlamento, sobre as leis de paridade de gênero que ajudou a construir e sobre sua atuação à frente da Comissão Mista de Orçamento do Congresso. A entrevista na íntegra pode ser conferida aqui: