A vice-governadora do Estado, Jacqueline Moraes, vai processar um pastor após ser associada por ele a um vídeo falso que tem como alvo a cantora Daniela Mercury e o ex-presidente Lula. Ontem (13), Jacqueline postou em suas redes sociais um desabafo e fez um apelo para que cristãos parem de atacá-la. Ela é evangélica.
No vídeo falso que foi utilizado pelo pastor, as falas da cantora Daniela Mercury foram editadas e depois montadas para dar a impressão que a cantora dizia que Jesus era gay. No vídeo original, Daniela diz que Renato Russo era gay e não Jesus Cristo. O vídeo ainda conta com imagens de um outro evento em que Daniela aparece dançando com o ex-presidente Lula. A montagem também foi compartilhada nas redes sociais pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do Presidente.
Em cima dessa montagem, o pastor da Igreja Quadrangular Wanderson Coutinho gravou um outro vídeo comentando que Daniela Mercury xinga Jesus e desrespeita os cristãos e que ela é aliada do “candidato da esquerda” e legendou: “Candidato que, segundo a vice-governadora cristã, pretos e pobres devem votar”. “Bem que minha mãe dizia: quem anda com porco, farelo come. Esse é o candidato que a vice-governadora defende. Esse é o candidato que anda com uma mulher dessa, que xinga Jesus Cristo. Vamos dar um basta nisso”, disse o pastor, no vídeo que foi por ele postado em redes sociais e compartilhado em grupos de WhatsApp.
“Eu fico indignada, porque esse tipo de ataque vem de pessoas cristãs, pessoas que professam a mesma fé que eu. Eu fui da Igreja Quadrangular por 10 anos, fui batizada pelo pastor João Coutinho, pessoa com quem eu aprendi sobre o amor ao próximo, e recebo um vídeo desse feito pelo neto dele me vinculando a uma fake news”.
Em seu desabafo, Jacqueline disse que toda semana é alvo de vídeos e montagens na internet. “Parem com isso, minha gente, é meu apelo. Fake news é crime. E se tem crente fazendo isso, você é criminoso. Eu sou vítima de racismo estrutural, de machismo cultural e agora eu sou vítima da hipocrisia religiosa. Quando vocês me vinculam a qualquer coisa que seja mentira, vocês afetam minha família, vocês adoecem a minha família. E eu não vou sair da política por causa desses ataques. Eu vou lutar contra essa maldade que pessoas que se dizem da fé cristã fazem. Me respeitem”.
Outro lado
Procurado, o pastor Wanderson Coutinho disse que não sabia que o vídeo por ele comentado, sobre a Daniela Mercury, era falso. “Não fui eu que editei o vídeo (da Daniela). Na minha ignorância digital eu não consegui identificar que era uma montagem. Eu falhei em não ter procurado a veracidade do vídeo”.
Questionado sobre a vinculação à vice-governadora no mesmo vídeo, Wanderson disse que não associou Jacqueline a Daniela, mas sim a Lula. “Ela deu entrevista declarando voto em Lula, falei do posicionamento dela”, disse o pastor citando a entrevista que a vice deu ao programa “De Olho no Poder” em que questiona, referindo-se a ela e ao marido, “como alguém que é preto e pobre pode apoiar Bolsonaro?”
Wanderson disse que removeu o vídeo da sua rede social e gravou um outro se retratando e que foi postado no story do seu Instagram – recurso de compartilhamento que tem duração máxima de 24 horas no ar. Na postagem que ele diz ter compartilhado no story, ele afirma que errou, que o vídeo da Daniela era montagem e pediu para ninguém mais propagar. Ele, porém, não cita a vice-governadora. Wanderson também não compartilhou a retratação em grupos de WhatsApp, como ocorreu no vídeo em que cita Jacqueline.
Questionado sobre o motivo de não ter dado à retratação o mesmo alcance que o vídeo com as montagens, Wanderson respondeu que não compartilhou porque estaria recebendo ameaças. Ele também fechou o perfil nas redes sociais.