Só três pré-candidatos ao governo se posicionam sobre caso STF x Bolsonaro
Quando o assunto é polêmico e polarizado, a maioria das lideranças políticas pisa em ovos para se manifestar ou então, mergulha, para não correr o risco de virar alvo de um lado ou de outro. No caso emblemático dessa semana em que o STF condenou o deputado federal Daniel Silveira e, em menos de 24h, o presidente Bolsonaro o “agraciou”, dando perdão ao aliado, muitos preferiram o silêncio.
Silveira foi acusado pela PGR de coação, incitação à animosidade entre as Forças Armadas e o STF e tentativa de impedir o livre exercício dos poderes. O deputado foi condenado 8 anos e 9 meses de prisão, a iniciar em regime fechado, por ataques à democracia, perda do mandato e dos direitos políticos – o que o torna inelegível –, além de multa de R$ 200 mil.
Entre os nove pré-candidatos ao governo, apenas três se posicionaram sobre os acontecimentos. Carlos Manato (PL) gravou um vídeo criticando a condenação do parlamentar e fez algumas postagens, em seu Instagram, enaltecendo a atitude de Bolsonaro de salvar Silveira. Numa das postagens, Bolsonaro aparece numa imagem carregando o deputado nas costas com a legenda: “Temos um presidente honrado que não deixa nenhum soldado para trás”.
O senador Fabiano Contarato, pré-candidato do PT, não só se manifestou nas redes contrariamente à atitude do Presidente, como apresentou um projeto de decreto legislativo para derrubar o perdão de Bolsonaro a Silveira. “O decreto (de Bolsonaro) configura desvio de finalidade do ato e de ilegalidade”, justificou. Numa postagem no Twitter, escreveu: “Bolsonaro debocha das instituições e dá passe livre para os detratores do STF”.
Já o governador Renato Casagrande, que ainda não admitiu oficialmente que é candidato à reeleição, também se manifestou contrariamente ao perdão dado pelo Presidente. No Twitter, escreveu: “A graça concedida pelo presidente ao deputado federal Daniel Silveira, condenado a 8 anos e 9 meses de prisão pelo STF, nessa quarta, 20, é um precedente perigoso. Nenhuma ameaça ou incitação à violência deve prevalecer aos princípios democráticos”.
Em todas as três manifestações internautas contra e a favor nos comentários. Os que preferiram não se manifestar passaram ilesos às críticas, mas também deixaram de marcar posição, o que também pode ser ruim, uma vez que se está às vésperas de mais uma eleição, período em que os eleitores costumam cobrar que os candidatos tenham lado.
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Pergunta que não quer calar
Seria o deputado federal Daniel Silveira apenas um pretexto para que Bolsonaro vá para o embate contra o STF?
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Pergunta que não quer calar II
A quem interessa criar uma crise institucional às vésperas de uma eleição presidencial?
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“Anistia só trouxe paz para a Corporação”, diz Casagrande
Na mesma postagem em que se manifestou sobre a decisão de Bolsonaro de perdoar os crimes do aliado, dizendo que essa atitude abriria um “precedente perigoso”, Casagrande foi cobrado por um internauta sobre a anistia que deu aos policiais militares na ocasião dos processos instaurados no âmbito da greve da PM.
“Precedente perigoso foi a anistia que o senhor governador deu aos policiais naquela greve inesquecível. Muitos, ainda hoje, carregam suas sequelas”, disse o internauta, que foi rebatido pelo governador: “Precedente terrível foi o que vivemos em 2017. A anistia só trouxe paz para a Corporação”, disse Casagrande.
A greve da PM, ocorrida em fevereiro de 2017, mergulhou o Estado em três semanas de caos e terror. O movimento começou com as mulheres dos policiais bloqueando a saída das viaturas dos quartéis e das companhias em protesto por melhores salários aos militares e terminou com centenas de assassinatos, assaltos e saques, fazendo com que a população, apavorada pelas ruas sem patrulhamento, fosse obrigada a ficar confinada em casa.
O então governador da época, Paulo Hartung, mudou a lei das promoções para os militares e quase um terço da tropa foi alvo de processos administrativos. Alguns policiais, que teriam comandado o motim, chegaram a ser expulsos da Corporação.
Quando Casagrande foi eleito e assumiu, enviou um projeto à Assembleia concedendo anistia a todos os policiais militares envolvidos no movimento. Os que foram afastados foram reincorporados, recebendo os salários do período em que estiveram fora. E Casagrande mudou novamente a lei das promoções dos militares.
Na época, era forte o burburinho nos bastidores de que a medida seria para medir forças com o ex-governador, o que Casagrande sempre negou, afirmando que faltou diálogo entre PM e Governo e que as consequências disso precisavam ser consertadas.
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O feriado foi delas
Se com relação a políticas públicas na área de Segurança os dois têm diferenças, no trato com a mãe o governador Renato Casagrande e o ex-governador Paulo Hartung se parecem. Os dois passaram o feriado de 21 de abril com as “rainhas” e fizeram questão de postar nas redes sociais.
Casagrande publicou uma foto junto com Dona Nita, 89 anos, em seu perfil no Instagram e escreveu: “Aproveitando o feriado para dar atenção a quem sempre cuidou de nós”.
Já Hartung postou a foto junto com a mãe e com um bolo sobre a mesa. Isso porque na quinta-feira (21) foi aniversário tanto de Hartung quanto de Dona Lilia.
A matriarca completou 89 anos também. “Hoje a celebração é em dose dupla em nossa família pois tive o privilégio de nascer no mesmo dia em que minha mãe, Lilia”, escreveu Hartung em seu Instagram. Ele fez 65 anos.
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Ministro Barroso cita capixaba em indicação de livro
Na postagem que faz toda sexta-feira no Twitter, com indicações de livros e músicas, o ministro do STF Luís Roberto Barroso indicou o livro “Memórias de uma Guerra Suja”, em que o ex-delegado capixaba Cláudio Guerra narra aos jornalistas Rogério Medeiros e Marcello Neto os crimes que cometeu durante a ditadura, quando foi delegado do Dops.
Ele narra, no livro, a autoria de assassinatos e de pelo menos a incineração de 12 corpos. Entre as vítimas estaria Fernando de Santa Cruz, pai do ex-presidente da OAB nacional Felipe Santa Cruz. Com base no livro, Guerra foi acusado pelo Ministério Público Federal do Rio de Janeiro e tornou-se réu na Justiça Federal. Hoje, Guerra é pastor evangélico.
Barroso também indicou a música “Meu caro amigo”, de Chico Buarque. Quem conhece a canção (“a coisa aqui tá preta”) e o contexto (1976) ousa dizer que foi uma mensagem subliminar aos acontecimentos da semana. Ou ao que está por vir.