Numa conversa cheia de alfinetadas, indiretas e diretas – principalmente direcionadas ao governo do Estado e ao PSB –, o presidente estadual do PSDB, deputado Vandinho Leite, tratou de valorizar o passe do partido, marcar posição e colocar o ninho tucano para jogo: ele garantiu que se o partido não tiver candidato próprio ao governo, vai apoiar o candidato que garantir à legenda espaço na disputa majoritária (vice ou Senado).
Em entrevista dada ontem (05) ao programa “De Olho no Poder com Fabi Tostes”, veiculado na rádio Jovem Pan News Vitória (90.5 MHz), Vandinho mostrou todo o descontentamento por ter sido deixado de lado na “mãozinha” que o governo deu a diversas siglas na composição de suas chapas. De forma bastante sutil, porém incisiva, Vandinho fez diversas críticas à condução política do governo Casagrande e tratou de negar que já estivesse fechado com o socialista. “Muita especulação de que o PSDB já poderia estar incluído em alguma chapa majoritária. Gostaria de afirmar claramente aqui que isso não procede. Tem muito debate ainda pela frente”.
Vandinho chegou a dizer que tem conversado com o ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos e com o presidente da Assembleia, Erick Musso – os dois são pré-candidatos ao governo – e que o governador e seus interlocutores precisariam “se esforçar muito” se quiserem ter o apoio do PSDB.
O tom de Vandinho com relação ao governo pode estar ligado, entre outras coisas, com a fase da formação das chapas proporcionais para as eleições. Segundo ele, o governo teria se comprometido – numa conversa com o presidente nacional tucano, Bruno Araújo – a ajudar com 30 mil votos, ou seja, indicaria um potencial candidato à Câmara Federal com essa votação para compor a chapa de PSDB e Cidadania, já que os dois partidos formaram uma federação.
Segundo Vandinho, isso não ocorreu. “O governo colocou que iria colaborar com pelo menos 30 mil votos e colaborou com zero. Quando alguém não cumpre um tipo de compromisso como esse, que é importante para o partido na chapa de federal, isso nos dá autonomia hoje para tocarmos qualquer projeto que quisermos”, avaliou.
O ruído com o governo também passaria por uma questão local, envolvendo o PSDB e o PSB da Serra. Segundo Vandinho, o partido de Casagrande no município estaria apoiando o prefeito Sergio Vidigal (PDT), a quem faz oposição. O deputado sinalizou que essa movimentação praticamente leva o PSDB da Serra para longe do governador. “Se o PSDB da Serra for com Audifax, ele (Casagrande) vai ver o tamanho da derrota acachapante que vai ter na cidade”, avisou Vandinho.
O deputado disse que vai discutir no partido a possibilidade de candidatura própria ao governo – o que é hoje pouco viável diante do prazo de apenas cinco meses para as eleições. Mas, não vingando essa possibilidade, colocou como condição para apoiar um candidato ao governo, o PSDB ser “protagonista” nas eleições.
Esse protagonismo consistiria em ter o partido no processo majoritário, como vice ou na disputa pelo Senado – sendo que a preferência é pela indicação de senador. “O PSDB não fará parte de nenhum projeto em que não tenha candidatura majoritária, seja qual projeto for”, disse Vandinho, abrindo o leque de opções para fora do Palácio Anchieta.
Cita o nome de Ricardo Ferraço para o jogo. Mas nega que o partido esteja discutindo levá-lo a ser vice de Casagrande. “Não acredito em candidatura de vice, que só terá protagonismo se o governador deixar”.
O pleito do PSDB é legítimo e valoriza o passe do partido que tem, com a federação, meta de eleger pelo menos quatro deputados estaduais. A questão é que, assim como o PSDB, outras legendas têm o mesmo pleito. Vandinho marcou posição e fez uma aposta alta. O tempo dirá se a jogada foi acertada.
“Caiu com o barulho da bala”
Vandinho contou sua versão sobre a saída do ex-vice-governador César Colnago do PSDB após 30 anos de filiado. Em entrevista para o programa, Colnago disse que não teve espaço dentro do ninho para debater uma candidatura majoritária. Vandinho afirmou que, em nenhum momento, o partido teria negado a Colnago a possibilidade de disputar.
“Primeiro, ele caiu com o barulho da bala. Segundo, que não faz o mínimo sentido. O que eu dizia era o seguinte: vamos dialogar sobre candidaturas majoritárias após o fechamento das chapas proporcionais, porque se você antecipa um debate como esse fragiliza demais o processo de montagem de chapa. Eu pilotei esse processo sem máquina. Não tinha máquina de governo, não tinha máquina de Assembleia Legislativa, não tinha máquina de prefeitura, não tinha máquina financeira”, afirmou.
“Eu só estou fazendo hoje o que eu avisei a ele lá atrás. Só que aí ele queria que fosse feito até o dia do prazo de filiação. Tentou fazer movimento nacional, disse para um monte de gente na imprensa que iria tomar o partido… Partido tem que ser na democracia, quer ter o partido? Disputa a convenção e ganha! Não foi assim que eu fiz? Ele foi viver de saudosismo, não conseguiu. Quem negou candidatura a ele não foi o PSDB, foi o PSD. Assim que ele filiou lá e disse que era candidato, a direção do partido disse que ele não teria espaço”, disse Vandinho.
O deputado disse ainda que se Colnago tivesse ficado na sigla poderia estar participando do debate agora sobre a majoritária no partido.
“Guerino não me procurou”
Ao citar pré-candidatos ao governo possíveis de receber apoio do PSDB, o deputado Vandinho Leite não citou o ex-prefeito Guerino Zanon (PSD) que, essa semana, se encontrou para um café da manhã com o deputado estadual Sergio Majeski (PSDB).
Questionado se o encontro teria sido um evento isolado ou se sinalizava uma aproximação com o ninho, Vandinho respondeu: “Até me chamam a atenção as movimentações do Guerino. Ele não falou nada comigo, não me ligou. Fiquei até feliz que ele tenha procurado o Majeski. Tenho respeito pelo Guerino, foi presidente da Assembleia quando fui deputado. Acho que ele só precisa entender que se ele quer ser governador, ele tem que dialogar com os partidos, com as pessoas, com as lideranças”.
“Decepção”
Vandinho classificou como “decepção” a saída do ex-governador paulista Geraldo Alckmin do PSDB e sua decisão de ser vice de Lula pelo PSB. “Decepção, né? Eu votei em Geraldo para presidente da República, fiz campanha. Ele se colocava como liberal na economia, defendia uma máquina enxuta com foco nos resultados, a partir do momento que ele vira vice do PT, que prega tudo ao contrário, fica um negócio difícil de compreender”.
Questionado sobre tucanos de alta plumagem que defendem a aliança, como o ex-presidente FHC, Vandinho preferiu não comentar. “Nos auge dos 90 anos dele, vou preferir não comentar até por respeito à história do Fernando Henrique. Mas eu acho que o foco deveria ser buscar entendimento para um candidato de terceira via. Votar num candidato do PT rasga a nossa história, o PSDB sempre foi contraponto ao PT, isso não pode ser jogado na lata do lixo. O eleitor não entende isso”.
Na íntegra
A entrevista na íntegra com esses e outros assuntos pode ser conferida aqui: