A aliança entre os partidos Rede e Avante, selada em âmbito nacional e anunciada ontem (05) pela porta-voz nacional da Rede, Laís Garcia, pegou as lideranças estaduais do Avante e do Psol – partido federado com a Rede – de surpresa. Nem alguns redistas estavam sabendo, ao certo, das movimentações entre os dois partidos.
O ex-prefeito e pré-candidato ao governo pela Rede, Audifax Barcelos, é amigo do deputado federal Luis Tibé, presidente nacional do Avante, e as conversas se deram entre as cúpulas dos dois partidos. A questão, porém, gerou ruídos fora da Rede.
O Avante capixaba tem como projeto eleger o pastor Nelson Júnior senador. Isso tem sido colocado em todas as conversas com pré-candidatos ao governo. Com a Rede, não foi diferente. Mas o que teria sido combinado, em conversas locais, é que o Avante capixaba teria autonomia para decidir o melhor projeto, ou seja, com quem iria estar na chapa ao governo. Segundo o estrategista político do Avante, Aldeci Carvalho, foi feito um acordo e nada tinha sido fechado com a Rede.
“A coisa não é bem assim da forma que foi colocada. Realmente, lá atrás, estivemos em Brasília e o Avante Nacional conversou com a gente que tinha uma preferência em caminhar com Audifax. Nós viemos e conversamos com Audifax – eu, Marcel Carone (presidente estadual da legenda) e o Nelson. Saímos da reunião acordados de buscar a melhor condição para a majoritária, buscar a melhor conexão para o Nelson. Foi uma supresa para nós o que aconteceu ontem”, disse Aldeci.
“Nosso posicionamento é que seja cumprido o que foi combinado entre o Nelson e o Audifax, saímos da mesa com a condição de ter autonomia e liberdade para buscar o melhor projeto para Nelson Júnior”, acrescentou o estrategista.
Aldeci disse que o partido já entrou em contato com Audifax em busca de uma reunião, que deve ocorrer entre amanhã (07) e sábado (09). “Vamos conversar sobre o anúncio, que não estamos entendendo o que aconteceu, questionar o que mudou no acordo que fizemos para essa decisão ser tomada. Foi uma ação afoita. Acredito que isso não tenha partido do Audifax, que ele irá cumprir o que foi acordado e desfazer o anúncio”.
As tratativas nacionais teriam contado, porém, com o aval de Audifax. Questionada pela coluna se o ex-prefeito estaria sabendo do fechamento da aliança, a porta-voz nacional respondeu que sim. “Tibé é amigo de Audifax, eles sempre tiveram uma boa relação. Tibé ficou muito empolgado com a candidatura de Audifax no Estado e nos deu a palavra, a garantia de que o Avante estará junto com ele. Para nós, essa questão já está resolvida”, cravou Laís.
“Nós temos apreço pelas lideranças locais, pela candidatura do Nelson. A Rede ainda não tem um candidato ao Senado, estamos dialogando e gostaríamos de ter o Nelson como candidato ao Senado. Será um prazer pedir voto para o Nelson em nossa chapa”, disse Laís.
Questão Psol
O Psol capixaba também não estava sabendo da articulação nacional envolvendo Rede e Avante. Psol é federado com a Rede e a federação prevê que os dois partidos estejam juntos, no mesmo palanque, em todos os estados do país. Se antes já havia divergências entre as legendas principalmente com relação a apoios, o imbróglio deve aumentar.
O Psol tem um nome para disputar o Senado: trata-se de Gilbertinho Campos, que já foi candidato a prefeito de Vitória. E a legenda estava cobrando que ele fosse o nome a ser apoiado pela federação. Representantes do Psol também têm criticado as articulações feitas por Audifax, como por exemplo, ter convidado o PSDB para ser vice em sua chapa, e têm mostrado muita resistência em ter que pedir voto para o ex-prefeito, por questões ideológicas.
Soma-se a isso que o principal nome do Psol, a vereadora de Vitória Camila Valadão, foi uma das principais opositoras ao projeto, aprovado na Câmara da capital, que criou a lei “Eu escolhi esperar”, inspirada no movimento criado pelo pastor Nelson Júnior. Camila é pré-candidata à deputada estadual.
Em entrevista recente para o programa “De Olho no Poder”, Nelson Júnior afirmou ser conservador, apoia a reeleição do presidente Bolsonaro e disse não ver problemas em valores bíblicos pautarem políticas públicas. Nacionalmente, Rede e Psol apoiam Lula, são partidos progressistas e defendem o Estado laico.
Questionada sobre a possibilidade de ter conflitos no palanque, Laís descartou. Disse que, apesar da federação, os partidos são independentes. “A gente precisa entender que a Rede é um partido, o Psol é outro e que faz parte da democracia conviver com as diferenças. A Rede está caminhando ao centro. E o diálogo é constante. A Rede não vê problemas nesse palanque”, disse Laís, citando ainda a possibilidade de construção de candidaturas ao Senado de forma avulsa – o que poderia ser o caso do Psol.
De forma semelhante, o presidente do Psol, Toni Cabano, disse que terá autonomia. “Estamos na federação, mas cada partido está cuidando do seu. Temos uma resolução que nos permite que tenhamos autonomia. Nós vamos com Gilbertinho ao Senado e Audifax vai tocando a candidatura dele. É como a Camila falou, é um casamento na delegacia”.
Audifax já disse, anteriormente, que também tem autonomia da Rede para apoiar quem achar melhor para presidente da República e que o processo nacional não influenciaria em sua campanha. Resta, agora, combinar com o eleitor.