“Casagrande não tem nenhum compromisso comigo sobre 2026”, diz Ricardo Ferraço

Em discurso na tribuna do Senado, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES)

O ex-senador Ricardo Ferraço (PSDB), que foi confirmado nesta terça-feira (19) o pré-candidato a vice na chapa à reeleição do governador Renato Casagrande (PSB), disse que foi um misto de confiança mútua e de experiência testada que fez com que o governador o tivesse escolhido para a chapa. Disse que seu nome partiu de uma construção e tratou de descartar veementemente os burburinhos de que seria o nome de Casagrande para disputar o governo em 2026, caso sejam eleitos em outubro.

“Isso é uma ficção que não encontra abrigo na vida real. Desde já estou declarando: o governador Casagrande e eu não conversamos sobre esse assunto e essa conversa seria extremamente arrogante e presunçosa e a Bíblia ensina que a arrogância é a antessala do fracasso”, disse Ricardo, afirmando ainda que o governador não tem nenhum compromisso com ele sobre as eleições daqui a 4 anos.

Ricardo contou como se deu o processo até chegar ao seu nome, citou a outra vez em que também foi candidato a vice-governador do Estado – em 2006, quando foi eleito na chapa de Paulo Hartung –, falou como está vendo o ambiente da campanha e da eleição e sobre os próximos passos.

Confira, na íntegra, nessa pequena entrevista dada à coluna De Olho no Poder:

De Olho no Poder – Como foram as conversas até ser consolidado seu nome como vice?
Ricardo Ferraço – Essa construção, na prática, começou em 2018, quando Casagrande foi candidato a governador e eu fui candidato a senador. De lá pra cá, mesmo não participando do governo, mantivemos uma relação de respeito e confiança, que são valores essenciais e fundamentais numa construção como essa. Eu recebi com muito entusiasmo o desafio da confiança de Casagrande, mas também dos partidos PSDB e Cidadania, que compõem a nossa federação. E a construção acabou se consolidando e se confirmando com esse convite do Casagrande.

 

Quando foi feito o convite?
As conversas vieram acontecendo nos últimos dias, mas o convite formal foi hoje.

 

Desde quando você estava no DEM já havia um burburinho de você ser vice de Casagrande…
É…, mas em política, às vezes, o burburinho não se confirma, né?

 

Mas onde tem fumaça, tem fogo…
Nem sempre.

 

Mas desde o tempo do DEM já vinha se preparando para esse desafio, ou não?
Não, essa coisa vem sendo construída de maneira despretensiosa, Fabi. Não é verdade que isso foi planejado, não. A construção de um projeto como esse é muito caracterizado pela circunstância, pela conjuntura.

 

E por que o governador escolheu o seu nome? Qual sua percepção? O que ele espera de você?
Bom, primeiro isso que eu falei: a premissa é a confiança mútua. Mas acho que contribuiu muito também a experiência acumulada no ato de governar. Passei por diversas funções no Poder Executivo, fui secretário da Agricultura, secretário da Infraestrutura, vice-governador e tudo isso dá maturidade, experiência e equilíbrio para decidir. Mas acho que é um misto disso: confiança mútua e experiência testada, forjada no trabalho, na entrega, nos resultados. Porque o ato de governar não é um ato simples, é muito complexo, te desafia no dia a dia. Então, eu creio que tenha sido isso.

 

É a segunda vez que você vem para esse posto de vice-governador, o que vê de diferente?
Mudou muito o mundo de lá pra cá, não tem como fazer uma referência de 2006 pra cá, o mundo é outro.

 

Há burburinhos no mercado político de um possível acordo com relação a 2026, de você ser o candidato ao governo. Isso procede?
Isso é uma ficção que não encontra abrigo na vida real. Desde já estou declarando: o governador Casagrande e eu não conversamos sobre esse assunto e essa conversa seria extremamente arrogante e presunçosa e a Bíblia ensina que a arrogância é a antessala do fracasso. Poxa, nós somos pré-candidatos ainda, não somos nem candidatos. É preciso primeiro que você tenha a confiança da população para governar, depois tem que fazer um bom governo. Então, assim, 2026 é uma ficção.

Casagrande e Ricardo Ferraço em 2018

Desde já estou declarando que o governador é livre para fazer o que bem entender em 2026, ele não tem nenhum compromisso comigo sobre isso, nós não conversamos sobre isso, é uma coisa que não tem pé nem cabeça, é uma bobagem tão grande que não dá para acreditar que as pessoas possam achar que isso tenha sentido. Isso foi lá atrás, na velha política que as pessoas faziam isso. Você fazia uma aliança e estabelecia previamente compromisso disso, compromisso daquilo, muitos desses que faziam isso perdiam a eleição, alguns ganhavam e faziam um péssimo governo.

Então, assim, a construção da reputação, credibilidade, do trabalho… O futuro é o que se faz agora. Não se contrata por antecipação, não há nenhuma conversa sobre isso, até porque seria uma idiotice muito grande.

 

E como você está vendo essa campanha? Muitos afirmam que será uma campanha difícil, tanto nacional quanto estadual, por conta do número de candidatos, o clima hostil…
Eu acredito que uma campanha política não é um fim em si mesma, é um meio. Um meio para que os mais diversos projetos políticos, num ambiente democrático, possam apresentar suas propostas para que a população possa fazer sua opção. Nada mais do que isso. Da nossa parte muito respeito para com todos que vão disputar a eleição, que vão apresentar seus projetos. Da nossa parte será uma campanha de muito trabalho, de muito esforço, de muita paz no coração.

 

Você acha que a polarização nacional pode interferir aqui no Estado?
De nossa parte será campanha de muita humildade, dedicação, energia, trabalho e muita paz no coração. É um momento em que as pessoas e os partidos políticos se apresentam à população para que a população possa fazer o julgamento de cada candidato, de sua história, de seus compromissos. Daquilo que ele fez e vai fazer.

 

O governador está com uma frente ampla e já declarou apoio a Lula. Você também vai fazer campanha para Lula? Qual será sua posição na eleição presidencial?

Casagrande lidera uma frente ampla com vários partidos, com vários candidatos. A federação PSDB-Cidadania tem como candidata a senadora Simone Tebet. Estarei trabalhando coerentemente com a candidatura do meu partido.

 

Na possibilidade da candidatura da Simone Tebet ser retirada…

Não posso supor uma possibilidade como essa. A federação está apoiando a Simone. Essa é a orientação que vou seguir.

 

Como foi a reunião no Palácio mais cedo que definiu o seu nome? Quem participou?
Houve a reunião no Palácio, mas teve mais de uma reunião. Essas decisões passaram por diversas consultas, por diversos partidos, não foi assim uma bala de prata. Foi uma construção.

 

Conversaram com outros partidos que tinham a intenção de indicar nome ao posto?
O governador Casagrande conduziu essa construção com muita humildade, foi muito tranquilo e o processo foi sem ruído. Nós nos reunimos com várias pessoas, do campo político, entidades da sociedade. A construção não se deu por decreto, foi um processo, com muita naturalidade. Não houve queda de braço, nem cotovelada.

 

E quais os próximos passos na pré-campanha? Como vai pautar a campanha?
Não deu tempo de programar nada. É muita conversa e muita sola de sapato. Por enquanto somos pré-candidatos. Por enquanto é só satisfazer a ansiedade dos jornalistas (risos).