PL, PP e Republicanos juntos? A trinca que está sendo formada visando as eleições

Erick Musso com Carlos Salvador e com Da Vitória: união

A decisão do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), de convidar o PP para integrar sua gestão não é uma decisão isolada. E nem se refere apenas à administração local. A aproximação com o Progressista faz parte, na verdade, de uma articulação maior que envolve também o PL e já acontece em nível federal.

Nacionalmente, os partidos PP, PL e Republicanos já caminham no mesmo compasso. Estiveram juntos na base de apoio do governo Bolsonaro. Selaram aliança em alguns estados no ano passado durante a eleição. Em janeiro, fecharam apoio para disputar a presidência do Senado com Rogério Marinho (PL) – que acabou perdendo para Rodrigo Pacheco (PSD), apoiado pelo presidente Lula (PT).

No Espírito Santo, até o ano passado, cada um dos três partidos trilhava seu próprio caminho. O PL, partido de Bolsonaro e principal opositor do governo de Renato Casagrande (PSB), teve candidatura própria ao Palácio Anchieta – com Carlos Manato (PL) – e chegou a levar a disputa para o segundo turno, algo que não acontecia há duas décadas.

O partido também elegeu a maior bancada na Assembleia Legislativa, com cinco deputados estaduais – Callegari, Capitão Assumção, Danilo Bahiense, Lucas Polese e Zé Preto –, sendo que apenas um (Zé Preto) não faz oposição ao governo. O PL também fez o segundo deputado federal mais votado do Estado, Gilvan da Federal, com 87.994 votos.

Já o Republicanos, no Estado, nunca se colocou publicamente no palanque de oposição a Casagrande. O partido sempre teve uma postura meio que “em cima do muro”, ora pendendo para aliado – com o ex-presidente da Assembleia e agora presidente da sigla, Erick Musso, colaborando com as votações de projetos do governo – ora pendendo para opositor, principalmente com o prefeito Pazolini sendo o autor dos ataques mais duros direcionados ao governador, num passado recente.

Na eleição, o partido não tomou posição com relação ao governo. Lançou Erick ao Senado e liberou suas lideranças. Na Ales, o Republicanos fez a segunda maior bancada, com Sergio Meneguelli, Hudson Leal, Bispo Alves e Alcântaro Filho. Dos quatro, apenas Alcântaro tem uma postura mais “arisca” com relação ao governo. Já na Câmara Federal, o partido conquistou duas cadeiras: a de Amaro Neto e a de Messias Donato.

O PP, por sua vez, tem uma trajetória antiga ao lado de Casagrande. Desde 2010, quando o governador se candidatou pela primeira vez ao Palácio Anchieta, o Progressista sempre esteve presente em sua coligação. Maior parte desse tempo o partido foi comandado por Marcus Vicente, atual secretário estadual de Desenvolvimento Urbano e amigo pessoal de Casagrande.

Na eleição passada, mesmo nacionalmente estando com Bolsonaro, o PP não coligou com o PL aqui no Estado. Fechou com Casagrande, que apoiou Lula. O PP tentou valorizar seu passe e emplacar um nome do partido como vice ou como senador na chapa governista, mas recuou em prol da construção de uma frente ampla. E fez malabarismo para conquistar os votos dos bolsonaristas estando, ainda que sem alarde, no palanque em apoio ao petista.

Na Assembleia, o partido fez dois deputados – Theodorico Ferraço e Raquel Lessa – e na Câmara Federal também dois – Da Vitória e Evair de Melo. Esse ano, porém, o comando estadual do PP mudou. Saiu das mãos de Marcus Vicente e foi para as de Da Vitória. O partido continua com Casagrande, mas tem dado sinais que pode buscar um novo caminho.

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Um bloco em construção

Lideranças do PP, do Republicanos e do PL têm se reunido. Oficialmente, as pautas dos encontros são projetos em comum, debates sobre o Estado, emendas parlamentares a serem definidas. Mas, nos bastidores, está sendo costurada uma aproximação para a formação de um bloco com os três.

Alguns encontros se tornaram públicos, pelas redes sociais. Em março, antes de assumir o comando do PP, Da Vitória almoçou com o prefeito Pazolini num encontro que gerou muitas especulações no mercado político e mal-estar ao presidente progressista à época, Marcus Vicente.

Na ocasião, surgiram burburinhos de que Pazolini poderia mudar de legenda, uma vez que sua relação com a cúpula do Republicanos andava bastante desgastada. Mas o prefeito descartou a mudança partidária e se acertou com seus correligionários, abrindo espaço para o partido na gestão, que passou a ocupar duas secretarias.

Na semana passada, o presidente do Republicanos, Erick Musso, se reuniu com o radialista Carlos Salvador, que faz parte da executiva estadual do PL e é braço direito do presidente da legenda, senador Magno Malta. “Não foi nada demais, além de um café”, disse Salvador sobre o encontro. Erick não respondeu.

Já no final de semana foi a vez de Erick se reunir com o presidente do PP, deputado Da Vitória. “Foi uma conversa sobre o Estado”, disse a assessoria do parlamentar. Erick continuou mergulhado, sem responder aos contatos da coluna.

Um olho em 2024 e outro em 2026

A aproximação dos três partidos tem cunho pragmático. Segundo lideranças ouvidas pela coluna, visa construir uma frente de direita como alternativa aos palanques do PSB-PT que devem se formar nos municípios no ano que vem.

Ainda que o governador já tenha dito que ficará neutro nas disputas municipais onde houver mais de um aliado, a aliança nacional entre PT e PSB deve pesar, com petistas cobrando a fatura do apoio que deram a Casagrande em 2022, em detrimento da candidatura do senador Fabiano Contarato ao governo.

Em Vitória, por exemplo, já é tido como certo que, ainda que indiretamente, o governo irá apoiar o deputado João Coser (PT) na disputa pela prefeitura, uma vez que o PSB já sinalizou que não deve ter candidato próprio disputando a capital no ano que vem.

É essa leitura que outros partidos aliados de Casagrande estão fazendo nos corredores do Palácio Anchieta e que justificaria, até por sobrevivência política, a criação de um bloco alternativo para as eleições municipais.

Mas não é só a eleição de 2024 que está no radar. Na verdade, o alvo principal seria a eleição para o governo do Estado e para as duas vagas de Senado em 2026. Segundo interlocutores dessa trinca (PL, PP e Republicanos) que está sendo formada, é mais do que certo que o grupo vai ter candidatos ao governo e ao Senado daqui a três anos e, o mais provável, é que disputem contra os candidatos do governo.

Nomes para o grupo não faltam. Erick já tentou o Senado e não esconde de ninguém que mira o Palácio Anchieta. A mesma coisa com Da Vitória e Evair de Melo, que já foram ventilados como possíveis candidatos a cargos majoritários em 2026.

Já do lado governista, a cotação do mercado político é que Casagrande dispute uma das duas vagas ao Senado. E, para a sucessão no Palácio Anchieta, três tomam a frente nas cotações: o vice, Ricardo Ferraço (PSDB); o senador Fabiano Contarato (PT) e um nome do Podemos.

 

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