Foi num discurso emocionado, que o prefeito da Serra, Sergio Vidigal (PDT), anunciou que não irá disputar a reeleição e apresentou seu sucessor, Weverson Meireles – chefe de gabinete e presidente estadual do PDT – para a missão de continuar com o legado no maior município e colégio eleitoral do Estado.
No último sábado (16), durante um evento de prestação de contas do PDT, Vidigal revelou que não pretende mais disputar cargos eletivos, que sente que já deu sua contribuição na política e que vai se dedicar à família, principalmente à sua esposa, Sueli Vidigal, que enfrenta um tratamento de câncer. “Eu preciso estar do lado de quem sempre esteve ao meu lado”, disse Vidigal.
O prefeito também disse que Weverson está pronto para a empreitada e que tem autonomia para formar alianças e parcerias, inclusive com quem hoje não tem boa relação com Vidigal. E aí surgiu o nome do ex-prefeito Audifax Barcelos (PP), que também é pré-candidato a prefeito da Serra nesse ano.
Tanto Vidigal quanto Weverson disseram que estão dispostos a procurar Audifax para uma possível união de forças “contra o retrocesso”. “Quando eu falo em unir, acho que o interesse pela cidade é maior que o nosso pessoal”, disse Vidigal ao ser questionado durante coletiva de imprensa, após o evento.
Ele até admitiu tomar a iniciativa, quando houver sinalização de abertura para uma conversa entre os dois. “Eu já recebi pedrada, mas eu nunca dei pedrada. Eu sou um homem de porta aberta, estou aberto para conversar com todo mundo, eu acho até que é um bom momento da gente se unir para fazer a virada de chave no município”.
Weverson fez coro: “Nós estamos abertos a fazer todo e qualquer tipo de diálogo em defesa da continuidade do desenvolvimento da cidade. Não podemos permitir um retrocesso na cidade. (…) Audifax não está descartado em dialogar, porque ele fez sim uma boa gestão, independente do posicionamento político. Até porque Audifax saiu da mesma escola da qual eu fui apresentado agora, tenho certeza que ele adquiriu muita experiência e levou adiante. Então, por que não procurar Audifax?”, questionou o pré-candidato.
Assim como Weverson, Audifax foi secretário de Vidigal e foi lançado também como sucessor do pedetista na eleição de 2004, após dois mandatos consecutivos de Vidigal à frente da Serra. Porém, algo aconteceu durante a gestão de Audifax e os dois romperam.
Em 2008, Vidigal disputou a prefeitura, tirando a possibilidade de Audifax ser reeleito. De lá para cá os dois ocuparam lados opostos, com brigas ferrenhas durante as eleições, sem dar brecha para nenhuma possibilidade de diálogo ou reaproximação.
Não à toa que a disposição, agora, de Vidigal e Weverson buscarem uma aliança com Audifax chama a atenção. E, se vingar, pode realmente ser um marco na política da Serra.
“Caçador de like”
Ontem (17), a coluna De Olho no Poder tentou contato com o ex-prefeito Audifax, para saber seu posicionamento com relação às falas dos pedetistas, mas ele não retornou. Uma coisa, porém, Audifax e o grupo de Vidigal têm em comum: a semelhança nos discursos contra o mesmo alvo.
Em dezembro passado, quando se filiou ao PP e foi alçado pré-candidato a prefeito pela legenda, Audifax fez críticas à gestão de Vidigal, mas também mandou recados e alfinetadas durante seu pronunciamento:
“O próximo prefeito tem que estar preparado, porque vai enfrentar o caos na educação, na saúde, uma dívida sem tamanho. Não pode ser qualquer um. Não podemos perder o que já conquistamos. (…) Vemos na política muito ‘caçador de like’, isso não cabe mais na cidade”, disse Audifax, na ocasião.
Assim como Vidigal e Weverson, Audifax não citou nomes, mas a leitura do mercado político é a de que os três, ao citarem “retrocesso” e “caçador de like”, estariam se referindo ao deputado estadual Pablo Muribeca (Republicanos), que tem pautado seu mandato – e o que acaba sendo também uma pré-campanha – numa oposição ferrenha à atual gestão na Serra, com ações midiáticas voltadas, principalmente, para distribuição em redes sociais.
Em entrevista para a coluna De Olho no Poder em janeiro, Vidigal também mencionou o que chamou de “política de narrativas”, sem citar nomes, mas num contexto em que o assunto era o embate com Muribeca:
“O Brasil acabou com o debate de conteúdo, virou uma política de narrativas. Ninguém avalia a capacidade de desempenho de um gestor, avalia a narrativa (…) Já fui oposição, mas sempre soube os meus limites”, disse o prefeito.
Dobradinha PP e Republicanos?
Se os dois veteranos vão se unir para derrotar Muribeca, ainda é uma incógnita. Principalmente porque, embora o discurso nos dois eventos tenha sido semelhante, Audifax tem buscado se reposicionar e sobreviver politicamente.
No segundo turno das eleições de 2022, após ter um desempenho pífio como candidato a governador em seu próprio reduto, Audifax surpreendeu o mercado político ao se desfiliar da Rede e apoiar o candidato de Bolsonaro – o ex-deputado Carlos Manato (PL) – contra o governador Renato Casagrande (PSB).
Depois, o ex-prefeito se aproximou de lideranças da direita para buscar um novo abrigo, o que encontrou no PP que, embora no Espírito Santo (ainda) faça parte da base aliada de Casagrande, nacionalmente está dividido, com parte apoiando Lula – e tendo até nomes no 1º escalão do governo federal – e outra parte ainda muito fiel ao ex-presidente Bolsonaro (PL).
Nacionalmente, também, Republicanos e PP caminham juntos e, no Estado, estão muito próximos, com muitas lideranças do Progressista, por exemplo, apoiando o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, que é do conservador Republicanos e deve ser candidato à reeleição.
Se na eleição de Vitória é grande a chance de se ter uma dobradinha PP-Republicanos, até com a possibilidade de indicação do nome de vice na chapa da Pazolini, o que impediria que a mesma aliança ocorresse na Serra? Assunto para uma próxima coluna.
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