Após divergências internas com sua legenda e uma guerra declarada nos bastidores por territórios, o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos, entrou num acordo para deixar o Podemos, seu partido, de forma amigável – “amigável” no sentido de não ter o mandato requerido pela sigla na Justiça.
O presidente estadual do Podemos, o deputado federal Gilson Daniel, concordou em dar uma carta de anuência para Marcelo, que irá respaldá-lo para entrar com uma ação na Justiça Eleitoral pedindo autorização para se filiar à outra legenda.
Caso consiga – e deve conseguir – deixar o partido por justa causa, ou seja, sem o risco de perder o mandato de deputado estadual, Marcelo não tem obrigação de se filiar a uma outra legenda agora. Pode deixar para 2026, quando acontecem as eleições gerais.
Porém, as articulações do presidente da Assembleia nos bastidores estão a todo vapor e não estão restritas ao Estado, envolvem até movimentações em Brasília, com dirigentes nacionais de outras legendas.
Por intermédio de um deputado federal – que teria feito a ponte –, Marcelo Santos teria se encontrado com o atual presidente do União Brasil, Antonio de Rueda, há pouco tempo, em Brasília. No encontro, teria sido falado sobre a possibilidade de Marcelo migrar para a legenda.
A insatisfação com o Podemos não é nova e o presidente da Ales já teria sondado até outros partidos, como o MDB e o PSD, em busca de um abrigo.
Mas, nos bastidores, Marcelo não quer apenas uma nova casa. Ele quer também a chave da porta da casa. E não quer qualquer casa. Quer um partido de médio a grande porte, com recursos e tempo de TV para chamar de seu e comportar projetos que podem ir além da disputa a uma cadeira na Câmara Federal.
Marcelo pode disputar o governo do Estado?
Desde que assumiu o comanda da Ales, Marcelo tem dito que não será candidato à reeleição. Ele está no sexto mandato consecutivo como deputado estadual e disse, na época, que iria disputar vaga de deputado federal.
Porém, os movimentos que Marcelo têm feito Estado afora estão muito acima de quem ambiciona apenas uma das 10 cadeiras do Estado em Brasília.
“Marcelo fala em disputar o governo. Falou comigo. Acaba sendo uma fala coerente pelos movimentos que está fazendo. E muitos desses movimentos fogem da órbita do Palácio Anchieta”, disse uma liderança política do Estado, próxima ao presidente da Ales, e que pediu reserva.
Além de ter dois partidos sob seu comando indireto – SD e o PRD –, o presidente da Ales tem atuado na construção de chapas de vereadores no interior, tem atraído lideranças de outros partidos para as legendas que têm influência e, também, usado das benesses que estar à frente de um poder como a Assembleia oferece, como a nomeação de aliados na Casa.
Se a intenção de Marcelo for mesmo disputar o governo em 2026, nada mais favorável do que comandar um partido de médio ou grande porte, que lhe garanta a estrutura necessária para a empreitada e que lhe permita dar as cartas. Após o PL e o PT, o União é o partido com a maior bancada federal, contando com 58 deputados.
Se a mudança ocorrer agora, não só os projetos para 2026 podem ser alterados, como os traçados para as eleições deste ano também. O apoio de um partido do porte do União pode trazer impactos significativos numa campanha eleitoral, principalmente se a disputa for acirrada.
Em Vitória, por exemplo, o União Brasil está no G-6, o grupo de partidos de centro que tenta viabilizar uma candidatura de terceira via e fugir da polarização que ocorreu em 2020. Se o União for para as mãos de Marcelo Santos, pode ir parar na base de apoio de um adversário do Palácio Anchieta – o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), já que Marcelo já declarou apoio à reeleição do prefeito.
“Situação existe”
Desde a semana passada a coluna tenta falar com Rueda sobre o assunto. Ele estava em viagem aos Estados Unidos e não retornou, até o momento, aos contatos da coluna. Já em contato com outros membros da cúpula nacional do partido, a coluna confirmou que existe sim a conversa sobre a possibilidade da entrada do presidente da Ales no União Brasil, mas que não há nada definido.
“Uma situação como essa tem que passar pela Executiva nacional e até o momento não há, de forma oficial, nenhum tipo de formalização. Qualquer outro desdobramento é especulação. Estou sabendo que tem esse interesse, a situação existe, mas não há formalização”, disse um interlocutor da cúpula nacional do União à coluna.
Em outras palavras, a negociação existe, mas não há, até o momento, confirmação de que o União Brasil possa mudar de mãos no Estado. O contexto pode explicar o motivo. Rueda é bem próximo do atual presidente estadual do União, Felipe Rigoni.
Rueda também nutre uma boa relação com o governador Renato Casagrande (PSB), de quem Rigoni é secretário estadual de Meio Ambiente. A informação nos bastidores é que uma mudança de comando como essa não ocorreria sem, no mínimo, uma consulta ao governador.
Além disso, o diretório estadual do União Brasil, no Estado, é eleito, o que dificultaria uma mudança repentina. A não ser que haja uma intervenção nacional, o que Rigoni não acredita que irá ocorrer.
“Ninguém vai fazer nada pelas minhas costas”, diz Rigoni
O secretário estadual de Meio Ambiente, Felipe Rigoni, que preside o União no Estado, tem conhecimento do movimento de Marcelo Santos nos bastidores. Porém, disse que não há nada que indique mudança no comando da legenda.
“Aqui é um diretório eleito. Para fazer uma troca de comando, é um processo de intervenção e precisa de toda a Executiva nacional aprovar. Eu sou do diretório, conversei com ACM Neto sobre esse assunto e não está sendo desse jeito que está sendo veiculado no mercado político”, disse Rigoni à coluna.
Ele não acredita que será retirado do comando do partido. “Rueda não faria isso comigo no susto. Acho que pode estar ocorrendo uma tentativa, sei que eles (Marcelo e Rueda) se encontraram há um tempo. Mesmo que tiver alguma conversa, vai passar por nós. Tenho essa confiança que ninguém vai fazer nada pelas minhas costas”.
A coluna entrou em contato com Marcelo Santos na sexta-feira passada (17) questionando sobre sua saída do Podemos e ida para o União Brasil. Até o momento não houve retorno. Quando houver, a coluna será atualizada.
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