UFC capixaba: Quanto você está pagando para custear a briga dos parlamentares?

Do Val e Gilvan se encaram no Senado

Tirando o posicionamento das torcidas organizadas de cada um e dos debochados de plantão, o entrevero entre o senador Marcos do Val (Podemos) e o deputado federal Gilvan da Federal (PL), noticiado ontem (20) pela coluna De Olho no Poder, repercutiu muito mal nos bastidores, nas redes sociais e no mercado político.

“Vergonha” foi um dos comentários mais vistos no feedback da publicação, que não se restringiu ao Espírito Santo. A confusão entre os dois parlamentares ganhou o noticiário nacional, colocando a bancada federal capixaba mais uma vez em evidência de uma forma negativa.

Mais uma vez porque não é a primeira – e pelo jeito não será a última – que parlamentares capixabas ganham notoriedade por atitudes vexatórias e que em nada contribuem para o desenvolvimento do Espírito Santo.

Não custa lembrar que os 10 deputados federais e os três senadores estão no Congresso para representar e brigar (aí sim) pelos interesses do Estado e do povo capixaba. Foram eleitos para isso. São pagos para isso. E muito bem pagos, por sinal.

Porém, não é raro encontrar os dois protagonistas da confusão dos últimos dois dias envolvidos em polêmicas inúteis e infrutíferas. Quase sair no tapa não foi o primeiro episódio.

É envolvimento em trama golpista, denúncia de pen drive misterioso, anúncio de renúncia de mandato e depois recuo, gritaria, xingamentos, ofensas, embates com o ex-vice-presidente da República e com outros parlamentares, embates com ministros do Supremo e de Estado, ataque de fúria contra cidadãos dentro do Congresso e por aí vai.

Enquanto os capixabas assistem atônitos a esses espetáculos sofríveis, as pautas e demandas que interessam ao Estado e que dependem do envolvimento e do esforço dos nobres edis vão ficando para trás, como a manutenção e duplicação de rodovias importantes para o Estado (destaque para as BRs 101, 262 e 259); o destrave de obras estruturantes para alavancar o desenvolvimento, como investimentos em portos e aeroportos; projetos e recursos para investir em segurança hídrica e climática, entre outros.

Sim, porque num primeiro momento, episódios como os protagonizados pelos dois parlamentares podem até parecer divertidos e servir ao entretenimento – em muitos comentários nas redes sociais, internautas brincaram que estavam torcendo pela briga.

Mas, a verdade, é que o Espírito Santo perde, já que conta com uma bancada pequena para lutar pelas demandas do Estado e não pode se dar ao luxo de ter parlamentares desviados desse propósito, gastando tempo, energia e dinheiro para brigarem entre si, servindo de chacota para o País e levando a imagem da bancada e do Espírito Santo ladeira abaixo.

E se o Estado perde, o cidadão capixaba perde duas vezes. Porque é o eleitor quem, no final, paga a conta desse “espetáculo” e o ingresso não é nada barato. Só o salário mensal de cada um dos dois parlamentares custa ao bolso do eleitor R$ 44.008,52.

E o investimento para manter um representante do Estado em Brasília não para por aí. É gasto com auxílio-moradia, verba para manter o gabinete, cota para custear o mandato, pagamento de passagens aéreas, conta do celular…

A coluna fez uma breve pesquisa nos portais de transparência da Câmara dos Deputados e do Senado que trazem os gastos de cada parlamentar. E, juntando os dados – que são abertos e públicos –, os dois parlamentares custaram ao bolso do eleitor mais de R$ 1,4 milhão. E isso só nos primeiros meses deste ano. Aos detalhes:

Subsídio

É o salário do parlamentar que, caso não haja ausência sem justificativa, ele recebe na íntegra

Gilvan da Federal: R$ 217.685 (de janeiro a maio, valor bruto)
Marcos do Val: R$ 217.685 (de janeiro a maio, valor bruto)

 

Cota parlamentar

É a cota para manter o mandato e pode ser usada para pagamento de passagens aéreas, combustíveis, hospedagem, divulgação de mandato, manutenção do escritório, conta de celular, entre outros. O gasto foi:

Gilvan da Federal: R$ 199.516,40 (janeiro até agora)
Marcos do Val: R$ 133.360,95 (janeiro a maio)

 

Verba de gabinete

Cada parlamentar tem direito a um valor por mês para contratar funcionários para atuarem em Brasília e nos escritórios auxiliares dos estados.

Gilvan da Federal: Tem 23 funcionários e gastou R$ 594.959,71 (janeiro a maio) com pessoal. Na Câmara Federal, cada deputado pode contratar até 25 pessoas com salários que vão de R$ 1.492,60 a R$ 17.638,64.

Marcos do Val: Tem 31 funcionários (além de mais 4 terceirizados) com salários que vão de R$ 2.815,44 a R$ 28.549,54. Cada senador pode ter no máximo 50 funcionários, mas há um limite para o gasto com pessoal. A soma total do gasto com pessoal do senador não consta no Portal de Transparência, a assessoria do Senado foi demandada, mas ainda não retornou com as informações.

 

Auxílio-moradia

Quando não ocupam os apartamentos funcionais em Brasília, os parlamentares têm direito a receber um auxílio-moradia pela estadia na capital federal. O gasto com esse auxílio foi:

Gilvan da Federal: R$ 25.518,00 (janeiro a junho)
Marcos do Val: Não recebeu auxílio, usou apartamento funcional de janeiro a maio.

Os dados podem ser conferidos aqui e aqui.

Em suas mãos

Se o leitor tivesse um funcionário, cujo salário fosse acima de R$ 40 mil por mês, não cobraria dele produtividade? Resultados? Metas estabelecidas e devidamente alcançadas? O que o leitor faria se o tal funcionário, em vez de estar prestando o serviço para o qual foi contratado, estivesse brigando com o colega de trabalho?

A questão é que sim, leitor, você tem. Porque o político nada mais é do que o funcionário do povo. São os impostos pagos pela população que custeiam a máquina pública.

Conscientemente ou não, direta ou indiretamente, o custo está saindo do bolso de cada cidadão e a pergunta que não quer calar é: esse gasto está sendo bem utilizado? Está trazendo retorno? O investimento tem valido a pena?

Se a resposta for negativa, já passou da hora da população cobrar um novo posicionamento e um resultado satisfatório daqueles que a representam. Sem ataques, sem discursos de ódio, sem perder a razão. Uma cobrança respeitosa de alguém que está investindo alto para ter uma vida digna, justa e qualificada, com acesso a direitos e deveres que o Estado pode e deve proporcionar.

Outra cobrança é sobre até quando esses discursos violentos, que substituem o diálogo pela brutalidade, a negociação pela pancadaria, os bons projetos pela lacração irão fazer parte da agenda dos nossos representantes. Porque isso é o avesso do espírito político.

Entretenimento pode ser encontrado em casa de shows, teatros e picadeiros. Mas, no Congresso – como em qualquer outro espaço de poder público –, são esperadas atitudes sérias e responsáveis, que sejam motivadas pela busca do bem-estar coletivo, que tragam respostas aos anseios e angústias da sociedade.

Mas, se a cobrança não adiantar, se não houver respostas e nem mudanças de atitude, 2026 é logo ali. Tempo de renovar ou não o voto de confiança dado a cada um. Tempo propício para fazer sacudir o tabuleiro político e mostrar quem realmente manda no jogo. A decisão sempre esteve nas mãos de cada cidadão.

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