Assassinatos diminuem, mas crimes contra mulheres aumentam

O governo do Estado comemorou a redução do número de homicídios registrado ao longo do mês de setembro. Foram cometidos 55 assassinatos e, segundo o governo, é o menor índice dos últimos 28 anos. No mesmo mês do ano passado foram 75 crimes, segundo dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp).

A redução da violência também foi registrada no acumulado do ano. De janeiro a setembro ocorreram 630 homicídios contra 717 do mesmo período do ano passado: uma queda de 12,1%. Todas as regiões do Estado reduziram o índice – com destaque para a Região Norte, que baixou de 159 para 130 (18,2%) o número de assassinatos.

Embora no geral os números tenham diminuído, um dado chama atenção: o assassinato de mulheres, que aumentou no Estado. De janeiro a setembro, 71 mulheres foram assassinadas no Espírito Santo, um aumento de 12,7% em comparação ao mesmo período do ano passado, quando 63 mulheres foram mortas.

Com exceção da Região Sul, todas as demais regiões apresentaram aumento – Região Serrana teve um salto de 66,7%. E, de todos os 71 crimes cometidos, 29 (41%) foram registrados como feminicídio, quando a mulher é assassinada por sua condição de mulher, geralmente pelo companheiro ou pelo ex. Os casos de feminicídios também tiveram um aumento de 7,4% – dois a mais que no mesmo período do ano passado.

O que explica?

Delegada Michelle Meira, gerente de Proteção à Mulher da Sesp

Segundo a gerente de Proteção à Mulher da Sesp, delegada Michelle Meira, o governo do Estado tem notado um maior número de mulheres envolvidas com o tráfico de drogas, que é a principal causa dos homicídios no Estado.

“Temos visto no Estado esse fenômeno, do número de assassinato de mulheres não seguir a tendência de queda dos homicídios. Não há um estudo sobre isso, mas o que a gente percebe é uma incidência maior de mulheres ligadas ao tráfico de drogas e das que são vitimadas por estarem próximo ou ter relacionamento com o alvo principal, numa queima de arquivo”, disse a delegada.

A gerência coordenada pela delegada lida com os assassinatos ligados à questão de gênero, os feminicídios, que também são um desafio para a segurança pública, tendo em vista que são crimes majoritariamente cometidos dentro das casas.

Embora o Estado atue com programas preventivos como o “Homem que é homem”, as “Salas Marias” e a “Patrulha Maria da Penha”, os crimes de feminicídio continuam a crescer.

“Estamos interiorizando as Salas Marias. A Patrulha Maria da Penha aumentou o número de visitas e fiscalizações e o projeto Homem que é Homem tem se expandido para o interior. O índice de reincidência dos homens que passam pelo programa é de 5%”.

O papel dos municípios

A criminalidade é um dos problemas que mais preocupam o eleitorado do Estado. Não à toa que a Segurança Pública é um tema presente nas campanhas eleitorais desse ano, principalmente dos candidatos às prefeituras da Grande Vitória. Muitas propostas têm como foco a Guarda Municipal (aumento de agentes, mudança no foco de atuação, etc). Mas, no caso da violência contra a mulher, a atuação do município pode e deve ir além.

Ter ações integradas com outros órgãos e poderes pode ser uma estratégia eficaz para o enfrentamento à violência contra a mulher, segundo a delegada Michelle.

“A Sesp é uma perna e sozinha não consegue mudar a cultura do Estado e do Brasil, que é extremamente machista. Se formos analisar os crimes de feminicídios, todos estão ligados ao fim do relacionamento. O homem tem uma visão de propriedade da mulher. É preciso trabalhar na mudança da cultura e atuar de forma integrada com toda uma rede de enfrentamento, envolvendo Ministério Público, Judiciário, Defensoria Pública e os municípios”, disse Michelle.

“Com as Salas Marias, garantimos que os municípios recebam as informações das mulheres que foram atendidas pela polícia e que possam fazer uma busca ativa para que essa mulher receba os serviços que os municípios dispõem, como apoio social e psicológico, por exemplo”, acrescentou a delegada.

Raio-X da violência contra a mulher

Vila Velha lidera o índice de assassinatos contra mulheres. Dos 71 crimes cometidos no Estado, 12 (16,9%) foram em solo canela-verde. Logo atrás está o município da Serra, com 9 assassinatos e, em terceiro, empatam Cariacica, Colatina e Linhares, com 5 crimes cada.

Já nos casos de feminicídio, a liderança vai para Cariacica e Serra – cada município com 4 crimes registrados – e Vila Velha vem em seguida, com 3, segundo dados da Sesp.

Em 38,5% dos casos, os companheiros foram os autores dos feminicídios. E em 48,3% dos crimes, foram utilizadas armas brancas (como facas).

Domingo é o dia que mais se mata mulheres no Estado. O “dia santo”, em muitas religiões, registra 34,5% dos casos.

Fica a dica

A campanha eleitoral é um momento propício para cobrar dos candidatos propostas que possam evitar e combater a violência contra a mulher.