Os ganhos e perdas do Palácio Anchieta nas eleições

Antes mesmo de iniciar a campanha eleitoral, quando o nome dos candidatos ainda era pura especulação, o Palácio Anchieta já se movimentava para construir um cenário favorável nas eleições municipais deste ano.

E favorável não somente no sentido de eleger aliados no maior número de prefeituras e câmaras do Estado. Mas também de enfraquecer adversários e possíveis futuros concorrentes. Sim, porque as movimentações políticas de hoje não visam apenas o pleito deste ano, mas também o de 2026, quando Casagrande será obrigado a entregar as chaves do palácio para outro inquilino.

O governo traçou então algumas metas e, entre as principais, estavam garantir a reeleição dos prefeitos de sua base na Grande Vitória, eleger aliados nos principais municípios do interior e como prioridade número um, conquistar a prefeitura da capital do Estado.

O PSB, partido do governador, teve um bom desempenho nas urnas. Conseguiu eleger 22 prefeitos, 14 vices e 129 vereadores. Segundo o presidente estadual da sigla, Alberto Gavini, foi a melhor performance do PSB em toda sua história no Espírito Santo.

Além de eleger seus correligionários, que vão formar um exército para as próximas eleições nacionais, o governo também conseguiu eleger aliados em municípios-chave para o Estado, como em Vila Velha e Cariacica, onde aliados do governador venceram em 1º turno e com uma votação expressiva.

Em Linhares, maior município do Norte capixaba e comandado por um adversário do Palácio Anchieta, o PSB e o governador (indiretamente) apoiaram a candidatura do deputado Lucas Scaramussa (Podemos). Ele venceu a eleição com 52,92% dos votos, encerrando o ciclo do grupo de Guerino Zanon à frente do município.

Na Serra, maior colégio eleitoral do Estado, Casagrande entrou de cabeça na campanha de Weverson Meireles (PDT), o candidato apoiado pelo prefeito Sergio Vidigal, quando as pesquisas projetavam que o pedetista nem chegaria ao segundo turno.

Weverson foi em 1º lugar para a segunda etapa e acabou desbancando o ex-prefeito Audifax Barcelos (PP), adversário do Palácio Anchieta e que, até então, era tido como favorito na disputa.

Weverson e Casagrande em campanha

Mas nem só de ganhos se fez o pleito de ontem (06).

O Palácio Anchieta também amargou algumas derrotas, uma bastante dolorida e com potencial para refletir nas eleições de 2026.

Em Guarapari, o governo do Estado apoiou o deputado estadual Zé Preto (PP), com indicação até do nome do vice, Gedson Merízio (PSB), para a disputa. Casagrande chegou a gravar um vídeo pedindo votos para os dois.

Zé Preto até teve um bom desempenho ao longo da campanha, mas desidratou no final e perdeu a disputa para o vereador Rodrigo Borges (Republicanos), que teve 41,2% dos votos.

Em Colatina, num primeiro momento, o governador ficou neutro, mas após o deputado Sergio Meneguelli (Republicanos), uma das principais lideranças de Colatina, declarar seu apoio a Renzo Vasconcelos (PSD), Casagrande gravou um vídeo pedindo votos para o prefeito e candidato à reeleição, Guerino Balestrassi (MDB).

O prefeito contou com o apoio de um time de peso em sua campanha, mas, mesmo assim, perdeu para Renzo, que obteve 39,82% dos votos.

Porém, a derrota mais dolorida do Palácio Anchieta se deu mesmo na Capital. Na Região Metropolitana, apenas Vitória não caminha com o governo do Estado. E esse desalinho já foi motivo de atritos e também de perda de investimentos para os moradores da ilha.

O Palácio Anchieta decidiu apoiar o candidato Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), mas ele ficou em terceiro lugar na apuração dos votos e o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) foi eleito no 1º turno.

Interlocutores do Palácio Anchieta, em conversa com a coluna De Olho no Poder, concordaram que o Palácio errou na estratégia em Vitória em pelo menos dois pontos: primeiro por não ter conseguido juntar seus aliados no apoio a um único candidato que pudesse fazer frente ao atual prefeito.

Nas entrevistas, Casagrande sempre disse que se manteria neutro nas disputas com mais de um aliado e, quando questionado, pedia apoio para Luiz Paulo e João Coser (PT). Ter mais de um aliado na disputa pode ter dividido o voto e fortalecido Pazolini.

Outra situação teria sido a entrada tardia do governo na campanha de Luiz Paulo, mesmo com o PSB na coligação. Foi apenas na semana passada que o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) gravou um vídeo, falando em nome de Casagrande, de apoio a Luiz Paulo. O governador mesmo não apareceu, talvez para evitar constrangimentos com outro aliado (Coser).

A ideia era que Casagrande entrasse mesmo na campanha em Vitória no segundo turno, porque a aposta do Palácio era que o pleito teria uma segunda etapa. Erro de cálculo e de estratégia.

No caso de Vitória, a derrota do governo do Estado não significa apenas não ter influência na Capital do Estado. A vitória maiúscula de Pazolini o cacifa a entrar no jogo em 2026, quando o comando do Estado estará em disputa.

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