Após um desempenho ruim nas urnas, não elegendo nenhum prefeito e apenas 13 vereadores em todo o Estado, o PT do Espírito Santo passa agora pelo constrangimento de ter um de seus principais aliados no campo nacional rechaçando seu apoio publicamente.
Em nota divulgada à imprensa, o PDT da Serra rejeitou o apoio do partido do presidente Lula e negou que irá caminhar com a sigla no 2º turno da disputa no maior colégio eleitoral do Estado.
A nota veio após o comando do PT no município orientar os militantes a votar no pedetista Weverson Meireles contra Pablo Muribeca (Republicanos) e também depois que o candidato do PT no 1º turno, Professor Roberto Carlos, defendeu o apoio da sigla ao candidato.
Não foi fechada uma aliança, ninguém posou para foto. Mas somente a menção de apoio foi suficiente para municiar o concorrente Muribeca e seus aliados e trazer a polarização nacional, entre direita e esquerda, para o debate na Serra – algo que, desde o início, o prefeito Sergio Vidigal queria evitar.
Sem dobradinha
Em junho, quando ainda se discutia a formação de coligações, Vidigal deu uma entrevista à coluna De Olho no Poder sobre uma possível aliança partidária em Vitória. O ex-deputado Sergio Majeski, que estava filiado ao PDT, tinha acabado de desistir da pré-candidatura a prefeito da Capital e o partido discutia sobre quem apoiaria.
O PDT chegou a se reunir com os principais pré-candidatos do campo do centro e de esquerda e a probabilidade maior era de fechar com o PT e apoiar o deputado João Coser a prefeito – o que veio a se confirmar depois.
Na ocasião, a coluna questionou a Vidigal se o PDT iria condicionar o apoio em Vitória a uma dobradinha na Serra. Por exemplo, no caso do PDT apoiar Coser, se os pedetistas iriam exigir que o PT retirasse a candidatura de Roberto Carlos para apoiar Weverson. Vidigal descartou.
O prefeito evitou, a todo custo, se aproximar do PT na Serra. Não que Vidigal seja antipetista. Não é isso. É que ele não queria atrair para o seu palanque justamente o que está acontecendo agora: uma discussão ideológica no lugar de se debater as demandas da cidade.
Na visão de Vidigal, como a polarização ainda é forte, trazer para o seu lado os partidos que incorporam essa dualidade seria dar um tiro no pé e jogar contra seu próprio time.
Isso porque os debates ideológicos favorecem os extremos e seus representantes. Candidatos moderados e de centro acabam sendo prejudicados com esse tipo de estratégia que tende a deixar o debate de ideias, de propostas e de projetos de lado.
“A única coisa que vamos trabalhar para que não ocorra é esse debate de direita e esquerda, porque prefeitura não discute os temas nacionais, é uma prestadora de serviço. Então, tanto o cidadão de direita quanto o de esquerda precisa matricular o seu filho na escola pública, precisa da saúde pública. Então o que a gente quer discutir é quem tem o melhor projeto. Tem esse cuidado para não entrar nessa polarização de direita e esquerda. Numa eleição municipal, essa ideologia não tem nenhum tipo de interferência”, disse Vidigal em entrevista à coluna em junho.
Mas, para além de não querer atrair o debate ideológico, há também o ônus o antipetismo. Embora o PT tenha alcançado o governo federal, elegendo o presidente Lula, a rejeição ao PT ainda é muito forte em terras capixabas.
Tanto em 2018 quanto em 2022, os presidenciáveis do PT perderam a eleição no Espírito Santo, que tem se consolidado como um estado mais conservador e de direita. Hoje, na Grande Vitória, Serra é o único município que tem em seu comando um partido de esquerda, mas é grande a parcela do eleitorado que se identifica com o polo oposto.
No primeiro turno, como havia candidatos representando tanto Lula quanto Bolsonaro, Weverson “passou ileso” dessa polarização e até surpreendeu fechando o 1º turno em primeiro lugar na soma de votos (97.087 ou 39,66%), já que nenhuma pesquisa o mostrava liderando.
Porém, no segundo turno, com a junção de forças e aproximação natural das lideranças e partidos com mais afinidade ideológica, a associação parece inevitável.
Ainda assim, o PDT deixou claro que não fechou apoio com o PT e fez questão de mostrar, numa nota, que nas últimas eleições da Serra estiveram em lados opostos. Segundo o presidente municipal do PDT, Alessandro Comper, foi em 2012 que o PT rompeu com os pedetistas e fechou com o ex-prefeito Audifax Barcelos, indicando – para a eleição daquele ano – o nome de vice.
Questionado, o presidente do PT na Serra, Miguel Júnior, descartou uma aliança com os pedetistas. “Houve uma decisão do partido orientando o voto no segundo turno para o PDT. Mas não houve acordo algum de apoio”.
Nas redes sociais de Muribeca e de seus aliados, a trajetória entre PT e PDT pouco importa. De forma massiva, a associação entre as duas siglas tem sido feita numa estratégia de arrebanhar os votos dos eleitores de direita e dos antipáticos a Lula.
Num segundo turno que promete ser voto a voto, isso pode fazer a diferença.